sábado, 26 de dezembro de 2009

Remakes e Reprises

Por mais que nos esforcemos, nossa vida é uma eterna seqüência de reprises e remakes. Vivemos um dia atrás de outro, com a crença de que podemos fazer o presente especial, mas em geral, acabamos nos acomodando e deixando pra amanhã. Assim seguimos repetindo ou refazendo tudo que já vivemos.

Até os 20 anos não, o ineditismo é inerente a nossa pequena experiência. Temos muito o que aprender, conhecer, e realmente podemos dizer que boa porcentagem de nosso tempo livre é repleto de dias realmente especiais. Nossos primeiros. Beijos, empregos, fracassos, amores.

Se você tem menos de 20 anos, e não está fazendo nada de melhor, encare isso tudo como qualquer conselho de uma pessoa mais velha. Ou seja, ignore. Já se você tem mais de 30, está ansiosamente esperando eu contar algo que você não tenha pensado ainda, algo que resolva esse saudosismo involuntário. Bem, obviamente não vai conseguir nada desse tipo aqui.

Voltando ao ponto. Reprises e remakes. Os conceitos são bem conhecidos. Reprise é apenas a repetição do que já foi feito. O jantar naquele restaurante ótimo que você conheceu por acaso, o fim de semana naquela pousada em Jeri que você achou na internet ou aquela aflição quando acha que tem alguma TV ligada em casa. Mesmo sabendo que já a desligou.

Remakes são novas versões do que já foi feito. Os atores são diferentes, quem sabe o mocinho do antigo é hoje seu pai, talvez a locação tenha mudado de uma cidade para outra, mas em sua essência, a história é a mesma, os personagens e o fim principalmente. Assim é praticamente tudo que achamos estar fazendo de novo em nossas vidas. Aquela vaga na multinacional que você sempre quis, aquele caso que começou em boteco sujinho no Centro ou aquela balada hiper-ultra-mega-blaster-hipada que abriu no bairro da moda. Convenhamos, você sabe que é um remake.

Mas eu concordo, existem algumas coisas realmente novas na vida de quem tem mais de 20. Algo que vivemos e não temos parâmetros próprios, algo para qual não temos o “driver”. Podemos falar que ter o primeiro filho é algo realmente novo. Se tiver muita sorte, quem sabe só veja uma pessoa querida morrer depois dos 20. Se tiver sorte. E quem sabe você ainda não tenha vivido um grande amor. Azar.

Mas, ainda que existam sim, coisas novas na vida de um recém adulto, elas são raras e você tem que ter muito peito para encontrá-las. Criar oportunidade para isso sem cair no “conto do remake” é muito difícil. E a razão é que se você ainda não fez alguma coisa até os 20, é porque você tinha fortes razões para isso. Medo, pavor, preconceito. Todo tipo de grande paradigma conquistado durante sua criação.

O truque para não se incomodar com isso eu não preciso ensinar a ninguém. Todos nós sabemos bem qual é. É acreditar que já temos o que queremos, é crer que remakes são inéditos e curtir as reprises fingindo ter esquecido aquela história. Fingindo estar vivendo algo pela primeira vez. Se você não é dos que para pra pensar no que está fazendo até que funciona.

domingo, 15 de novembro de 2009

Epílogo

Final de caso. Reencontro. Acerto de contas.
- Vim pegar minhas coisas.

- Já imaginava que você viria. Deixei tudo separado. Se você não se importar gostaria de ficar com os discos dos Beatles.

- Claro, sem problemas. Você quem sempre escutou mais. Só gostaria que você me deixasse o Revolver. Sabe como é, tem o Eleanor Rigby.

- Ok, pode levar. Deixando o Abbey Road para mim já está ótimo.

- Pode levar o resto. Só quero o Revolver mesmo.

- (...)

- Poderia ter dado certo, não é? Eu quis dizer, a gente.

- Sim. Mas quem disse que não deu? Foram 10 anos maravilhosos.

- Pois é, nos divertimos muito. Onde foi que erramos?

- Tomamos rumos diferentes. Acho que cada um queria ter sua própria vida.

- É, acho que sim. (...) Ei, não vai querer nenhum do Pink Floyd?

- Não, pode levar todos.

- Tem certeza? Nem o Wish you were here?

- Tenho certeza. Para ser bem sincera, eu nunca fui muito fã do Pink Floyd.

- Hã?

- É, eu nunca gostei muito. Achava meio chato.

- Mas e todas as vezes que escutávamos juntos?

- Ah, eu escutava porque você gostava.

- E... e... e quando fomos para o show deles em Pompeii?

- Foi legal. Mas mais pelo show que pelas músicas em si.

- E quando o Roger Water deixou a banda? Ficamos de luto por quase um mês.

- Na verdade eu estava dando pulos de alegria por dentro.

- Não! Não com o Roger Waters!

- Pois é, eu achava ele pretensioso demais. Odiei o The Wall.

- Ninguém fala mal do The Wall na minha frente! Não é pretensioso! É eloqüente! É genial! É... é...

- É chato!

- (...)

- Desculpe... Mas é o que eu realmente acho.

- Moramos juntos por quase dez anos e agora descubro que realmente não conhecia você. Te respeitava por tudo que você foi, por tudo que passamos, pela pessoa maravilhosa que pensei que fosse. Percebo agora que me enganei.

- É só uma banda.

- “Só uma banda”? Que desprezo é esse? É “A BANDA”! Dark Side of the Moon revolucionou o rock! Foi o primeiro álbum a usar o sistema quadrifônico! E o fantástico Animals ou Atom Heart Mother? Não me venha com essa de falar que é só uma banda!

- Para de fazer escândalo por causa dessa bobagem!

- Escute aqui, eu gostava de Pink Floyd muito antes de imaginar que pudesse um dia te encontrar. Gostava mais de Pink Floyd antes mesmo de gostar de meninas!

- Não acredito que você ache essa bandinha de quinta categoria mais importante que eu!

- Não fale assim da maior banda de todos os tempos!

- Bandinha de quinta mesmo! Dá sono só de pensar naquelas musiquinhas chatas!

- Cale a boca!

- Bandinha! Bandinha! Bandinha! Sempre achei ruim! E agora finalmente posso falar! E quer saber mais? Eu te traía com seu melhor amigo, o Davi! Escutou bem? EU TE TRAÍA COM O DAVI!

- (.........)

- Olhe... Eu... Não...

- Não... Não fala mal do Pink Floyd...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Cosmético, coisa de macho!

Já estava mais do que na hora. As empresas de cosmético resolveram dar atenção aos machos modernos e estão lançando produtos específicos para os homens. Com linhas mais abrangentes que incluem desde os tradicionais shampoos, condicionadores, loções pós barba até os novos hidratantes, esfoliantes e até base para unhas. A Ox, marca já reconhecida no universo feminino, lançou a linha Ox Men, com vários produtos, incluindo até um shampoo para cabelos grisalhos. O cuidado com os detalhes é extremo, se reflete nos nomes, embalagens, e até numa das fórmulas que é composta por extrato de whisky, coisa de macho né. Já a Niasi, por meio de sua linha Risqué, traz bases para unha específicas para o público masculino. Calma, não se assuste, ninguém aqui está falando em homens com unhas da cor; Vermelho Pecado. As bases são incolores e vem em duas opções, semi-brilho e fosca, deixam as mãos do homem com boa aparência além de bem cuidadas.

Essa nova oferta no promissor mercado de produtos estéticos dedicados ao homem acaba com um problema recorrente dos vaidoso machos modernos. Más interpretações.

Uma vez, vi uma garota falando seu método para descobrir se estava saindo com um gay ou metrossexual. Investigue seu banheiro. Se achar apenas shampoos, condicionadores e sabonetes pode ter certeza que se trata de um macho a moda antiga. Caso se aprofunde mais entre seus armários e prateleiras e encontre dezenas de perfumes, loções pós-barba, quem sabe até um hidratante escondido atrás de um desodorante antigo. Está lidando com um metrossexual, faça a mão que ele vai reparar. Já se naquele gabiente embaixo da pia, ali ao lado do encanamento, você por um acaso encontrar um baldinho de lencinhos umedecidos “baby wipes”, amiga, saia correndo antes que ele peça pra você vestir o cinturão.

Que exagero. Concordo que um baldinho rosa com um bebê no rótulo não é das coisas másculas que pode-se ter num banheiro, porém, temos que observar que o mercado não nos dá escolha. Bebê rosa ou nada. Um amigo meu, tem esses lencinhos no banheiro dele. É uma opção, para ocasiões em que precisa-se sair rápido e estar com a cara um pouco mais apresentável, afinal, ninguém aqui gosta de ver, muito menos sentir, uma pele oleosa que se banhou de poluição o dia inteiro. Uma pele limpa e cheirosa é sempre mais atraente. Isso é o que o meu amigo alega ao menos.

Essas novas linhas vem para resolver justamente esses problemas. Nenhum homem quer abrir seu armário ou necessaire e ter a sensação que tem em mãos um kit de beleza da Hello Kitty. Precisamos de produtos e embalagens adequadas. Por exemplo, imaginem lenços umedecidos da Calvin Klein, com a essência de um de seus perfumes, vestidos com a tradicional austeridade da marca. Uma caixa preta retangular de aço, no meio uma abertura como um cofre, o logo “CK” logo abaixo gravado em prata, com o subtitulo, “wipes for men”. Já não é mais tão feminino assim não é?
A verdade é que o homem realmente quer usar cosméticos, porém a seu modo, com a sua cara. Nada mais justo. Podemos ser limpos e bonitos preservando nossos armários de se transformarem em arco íris de frascos amarelos, lilás e rosa bebê. Assim eu nunca mais terei problemas com lencinhos. Digo, meu amigo.

domingo, 25 de outubro de 2009

Mulher desesperada

E a mulher lutou muito para obter direitos iguais, os mesmos salários, as mesmas oportunidades, as mesmas possibilidades de trair, etc. E ela chegou lá. É claro que ainda tem que trocar as fraldas de cocô, fazer o almoço de domingo, mandar a empregada gostosa embora e ir às reuniões pedagógicas na escola do filho ao meio dia quando tem milhões de coisas pra fazer! Mas a mulher está muito bem! Muito segura de si, muito orgulhosa! Feliz!


Na boate, lá pelas tantas horas e tantas cervejas…


- Oi.
- …
- Tudo bem?
- …
- Qual o seu nome?
- Mariana.
- …
- …
- Você vem sempre por aqui?
- …
- Você estuda, trabalha?
- Eu faço faculdade.
- Ah… De quê?
- De Administração.
- Eu faço medicina.
- Ah…
- Você veio sozinha?
- Não. Vim com amigas.
- Entendo… E tem namorado?
- Por que?
- É que…
- Ah?
- …- Pode falar. Não fique tímido.
- …
- Não tenho namorado. Estou disponível, aberta a novos relacionamentos e pronta para outra…
- Claro. Eu só queria saber…
- Não que eu ache que os homens não prestam. É que meus últimos rolos e ex-namorados foram bem sacanas comigo e…
- Olha, eu…
- Eu sei que você vai dizer que é diferente, que nem todos os homens são iguais, mas vai ter que sambar muito pra me provar isso,viu, e…
- Deixa eu falar…
- Não. Peraí! Eu sei que nem todos são iguais, mas quer saber? Parece até que existe uma irmandade ou fraternidade oculta na crosta terrestre e que todos vocês, homens e ratos, vão pra aprender como maltratar e magoar as mulheres. Um dia eu entro lá disfarçada e pego todos no flagra!
- Mariana?
- Sabe o que é pior? É que vocês não podem ver um rabo de saia e já ficam doidos. Por que vocês não conseguem ser fiéis? Vocês entendem o que é amor?
- …
- Sabe, é por isso que não acredito em casamentos! Depois que casam, vocês, ratos, só querem que a mulher fique atrás do fogão enquanto vocês saem pra pegar as menininhas que tem idade para serem sua filha! E mais… Chegam em casa com a cara lavada e ainda querem sexo!
- Eu… Bem…
- Sexo! Vocês só pensam nisso. Só pensam em conversar com uma mulher quando querem fazer sexo! Custe o que custar. E aí, quando eu ficar gorda e velha você vai procurar sexo na rua, não é?
- Ah… Bem… Eu… Eh…
- Ta vendo? É isso mesmo. Ficou até sem fala! Viu só? Homem é foda!
- Desculpe, Mariana. Eu só queria te conhecer… Tchau.
- …

- Viu aquele carinha ali, Roberta?
- Sim. Ele tava te cantando?
- Hã! Cantando! Ele queria transar comigo! E aí foi só eu começar a conhecê-lo melhor pra saber que é um crápula! São todos iguais!
- É…

sábado, 17 de outubro de 2009

Coisa de criança

Quanta coisa aprendemos quando criança. Não coloque o dedo na tomada. Não coma coisas que encontra pelo chão. Não coloque a mão em uma panela no fogo. Apesar de tantos avisos e ensinamentos, insistimos a contrariar os avisos e experimentarmos por nossa conta. Certamente tomamos muitos choques e quedas pelo caminho. É que chamamos de viver. Viver muitas vezes é mais eficiente que aqueles sermões de “não faça” que tantas vezes ouvimos. Assim crescemos, assim aprendemos.

Aprendemos a confiar em nossos pais. Quantas vezes já nos arrependemos de não levar aquele agasalho que sua mãe tanto insistiu para que botasse? Sempre preocupados e pensando no seu bem-estar. Experiência. Essa é a palavra. Eles já viveram tudo aquilo que você passou ou está passando: aquela vontade de riscar paredes, a curiosidade de desmontar os brinquedos, aquele temor de ligar para aquela garota ou aquele primeiro porre. Escutamos e aprendemos.

No fim crescemos. Aprendemos. E descobrimos que eles mentiram.

O mundo não é como nos ensinaram. Quando somos pequenos, se acreditamos em nossos pais, somos bem-educados e elogiados. Quando crescemos, se continuarmos acreditando, viramos otários e desiludidos.

Comi todo o feijão do prato e não cresci forte e bonito como o galã da novela das oito. Trabalho 12, 14 horas diárias e estou longe de ficar rico. Procuro e não encontro aquela princesa encantada prometida. Sou honesto e fiel, mas nunca valorizado por isso. Procuro ser bom com os outros, mas não há um Papai Noel no final do ano para ser recompensado. Os desonestos não são punidos no final. O mau-caráter sempre fica com a mocinha.

Na vida adulta não há espaço para “crianças”. Hollywood não existe. O romantismo morreu há muito tempo. As últimas peças de resistência sofrem a via-crucis. Não há charme em ser bom, enquanto há uma aura sexy em ser mau. A malandragem é fator diferencial (eu diria até crucial) na ascensão de uma carreira. Ter princípios é antiquado. Fidelidade é careta. Honestidade é burrice. Apanhamos e aprendemos.

Aprendemos? Ou desaprendemos? Em quem confiar? Em nossos pais que sempre zelaram por nós ou em um mundo que sempre nos acerta na cabeça e no coração?

Ser uma criança eterna, sonhar, viver, buscar e por muitas vezes chorar e apanhar de um valentão qualquer. Ou abrir os olhos, se encaixar em um mundo canalha e roubar o lanche daquele otário fracote?

Sigo com minha decisão. Fecho meus olhos ainda com esperanças de um dia o mocinho vencer no final. Continuo em meu canto solitário, brincando com meus blocos de madeira e bolinhas de gude, esperando que um dia tenha companhia para brincarmos juntos. Talvez eu seja o maior otário do mundo, ou talvez o mundo precise da mais blocos de madeira. Alguém quer brincar comigo?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Pra casar"

Demorou, admitimos, demorou. Mas chegou o dia em que os homens estão entendendo o “big deal” que é o casamento. Por séculos os homens fugiram do casamento como noivo da noiva. Medo do comprometimento, da prisão, da castração social. Mas finalmente, o século 21 assiste os machos abraçando a tradição matrimonial.

Ainda que preserve tradições antigas, como a despedida de solteiro, também abro espaço para casar de branco, entrar na igreja com música, chá-bar, dia do noivo etc. Não que adote todos e todas, mas estou mais receptivo. É um grande passo para quem só aceitava se trajar de luto no grande dia.

Vamos nos divertir com as listas de presente, dando preferência para TVs de plasma e aparatos de churrasqueira mas espichando os olhos para travessas, baixelas e aparelhos de fondue. Sim é importante ter pratos para sopa, sobremesa, pizza e tartar. Seja lá o que for isso.

Vamos repassar a lista de convidados, entendo que realmente, aquele seu tio que acabou de sair da cadeia não pode ficar de fora. Padrinhos, podem ser seis casais sim, pega emprestado dois meus. Seu tio ladrão vai ser padrinho? Claro, ele precisa de apoio para voltar a sociedade. Vou sem relógio, você se importa?

Flores, lembranças, havaianas com os dizeres “tuquinho e tuquinha pra sempre”, eu apóio. Dinheiro? É detalhe, esse é o dia mais importante de nossas vidas não? Porque se importar com o financiamento do apartamento no mesmo prédio que sua mãe? Nós merecemos. Esse é seu dia de princesa, todos se curvarão a seus pés, mesmo que seja de bêbados, whisky 18 anos não vai faltar.

Lua de mel é um capítulo a parte. Faz todo sentido dividirmos entre Taiti e NY. Compras e lazer. Dias mágicos. Vamos nos divertir muito, assim como meu gerente. Não importa o que tenhamos que sacrificar, sabe porque?

Porque você é a coisa que mais amo no mundo, minha alma gêmea, nada é mais importante que isso. Quero passar o resto da minha vida com você, ter filhos, envelhecer juntos de mãos dadas na sacada nos nosso apartamento financiado em 87 anos.

Hein? Como assim? Você quer o que? Focar na sua carreira, no seu desenvolvimento profissional? Não sabe se está fazendo isso na hora certa? Quer aproveitar mais suas amigas, conhecer o mundo, se sentir livre? Mas e o papo de alma gêmea? É bobagem? Temos de ser felizes sozinhos? Não eu não sou dependente de você, só queria ser feliz pra sempre. Como assim isso não existe. Ta, atende essa chamada do seu trabalho, você sempre dá preferência a eles mesmo. Mas depois disso você não me escapa. Depois de me enrolar por quatro meses…Será possível?

sábado, 26 de setembro de 2009

Amar é...

Amar é levar a mulher em um restaurante caríssimo, pedir lagosta, ensiná-la a usar os talheres, a segurar a taça, pagar a conta sozinho, abrir a porta do carro para ela entrar, levá-la para casa, e ser obrigado a, no caminho, parar em uma barraca de cachorro-quente imunda porque ela odiou a comida do restaurante e está com fome. Além de dizer que a barraca é mais a sua cara.
Amar é passar duas horas dentro de uma floricultura escolhendo o mais lindo vaso, as mais lindas flores para a mais linda mulher, escrever um cartão pomposo, entregar de surpresa quando ela abre a porta, ganhar um beijo e um abraço e ouvir, sem querer, no outro dia, ela comentar com uma amiga que não agüentava mais ganhar flores. Que era uma mulher prática e bem que poderia ganhar algo útil.

Amar é chegar mais cedo no trabalho, dar duro o dia inteiro, sair correndo do escritório, passar no shopping, comprar aquele vestido que ela queria tanto, uns queijos, um bom vinho, velas aromáticas, e descobrir, ao chegar em casa, que justo hoje ela resolveu sair com as amigas.
Amar é resolver sair uma noite com amigos que não se vêem há três anos e depois ter que dormir no sofá por "falta de consideração".

Amar é levá-la ao circo, ao parque, ao shopping, à butique, ao bazar, ao show do Peninha, à exposição de tapetes ornamentais, e ainda ter que assistir à novela com ela ao chegar em casa.
Amar é buscar as palavras mais bonitas, todos os elogios, todos os adjetivos, as comparações mais lisonjeiras, e ouvi-la reclamar, cinco minutos depois, que está deprimida porque está se sentindo gorda.

Amar é conviver 364 dias por ano com a dor de cabeça dela à noite, e no único dia que as coisas poderiam dar certo, você pega pneumonia e ainda é chamado de frouxo.

Amar é gastar os tubos em um relacionamento, e, quando acaba, você a vê dirigindo um carro novo.

Amar é vê-la deslumbrante no vestido longo de festa, e não poder beijá-la nem abraçá-la a noite inteira para não tirar o batom nem amassar o vestido.

Amar é acordar com ela "naqueles dias" e ouvir reclamações sobre o tempo, sobre a roupa, sobre a economia, sobre a casa, sobre os filhos, sobre você, sobre o síndico do prédio, sobre a vida, sobre seu carro, sobre o cabeleireiro e sobre o chinelo que ela não encontra em lugar nenhum. Abraçá-la, beijá-la, dizer que a ama, e ela te mandar praquele lugar.

Amar é levar uma multa por parar em fila dupla quando ela vê uma loja de R$ 1,99 e PRECISA tanto ir que não pode esperar você estacionar o carro.
Amar é isso aí e algo mais.

sábado, 19 de setembro de 2009

Preciso de você esta noite!


Qualquer pessoa razoavelmente sociável tem uma mão cheia de pessoas para quem pode dizer esta frase e ser prontamente atendido. Seja numa tarefa simples, ou no momento mais complicado de sua vida, alguma destas 5 pessoas te ajudarão. Quem sabe não todas, quem sabe não sempre, mas alguém estará lá.


São estes que podem ser chamados de melhores amigos. Sejam cônjuges, pais, filhos ou só amigos mesmo. São essas 5 pessoas, ás vezes um pouco mais, outras menos, que você sempre poderá contar. Essas 5 pessoas, ao longo da vida, logicamente são rotativas, mudam-se as famílias, colégios, trabalhos, interesses. Mas elas estão sempre lá, simbolicamente.


Mas chega uma hora em que você fica mais exigente, mais carente, e não quer mais ter que dizer nada. Quer que as pessoas simplesmente estejam lá esta noite, e a próxima, e a próxima, etc.


É a nossa possessão talvez que nos faça desejar alguém exclusivamente seu, dando em troca o mesmo tipo de comprometimento. Queremos simplesmente não ter que nos preocupar em pedir socorro. Queremos sentir que nunca mais estaremos sozinhos. Só sentir, pois estamos. Sempre.


São estes que podem ser chamados esposos e esposas. Sejam juntados, casados no papel, namorados de longa data. O rotulo em si é bobagem, já discriminei muito os juntados, achando que casamento válido apenas com presença de juiz e padre. Mas isso tudo é uma grande bobagem. O único pré-requisito para ser esposo ou esposa é este. Estar lá. Junto. Mesmo que a distância.


Assim sendo já coloquei no passado a exigência de festa, contrato ou juramento. Só quero encontrar alguém que compartilhe da mesma visão que eu. O que obviamente é muito mais difícil.


No dia que (se) eu encontrar não vou precisar de aliança, casa ou permissão. Só vou falar uma vez, mas com a maior sinceridade possível que eu preciso dessa pessoa. Não essa noite, não esse mês. Apenas preciso. E pra selar de vez a nova fase ajoelho e pergunto: “Quer estar comigo? “

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sejamos todos Supernovas

Supernova é o nome dado aos corpos celestes surgidos após as explosões de estrelas com mais de 10 massas solares, que produzem objetos extremamente brilhantes, os quais declinam até se tornarem invisíveis. Em apenas alguns dias o seu brilho pode intensificar-se em 1 bilhão de vezes a partir de seu estado original, tornando a estrela tão brilhante quanto uma galáxia, mas, com o passar do tempo, sua temperatura e brilho diminuem até chegarem a um grau inferior aos primeiros.A explosão de uma supernova pode expulsar para o espaço até 9/10 da matéria de uma estrela. A partir daí, uma sequência de eventos promove o colapso total da estrela, dando origem a uma singularidade no espaço-tempo, conhecida como Buraco Negro, cuja Velocidade de Escape é um pouco maior do que a velocidade da luz.
Os dados científicos, se passarem batido, são apenas dados. Informaçoes irrelevantes ao dia-a-dia de pessoas comuns como eu e você. Mas se pararmos um segundo para refletir, veremos que esse papo de sermos feitos de poeira das estrelas, de vez em quando até que faz sentido.
Não é difícil fazer o paralelo entre nossos astros cheios de luz e nossas próprias vidas mundanas. A partir do momento que consideramos nossos relacionamentos, feitos, indivíduos como objetos e eventos brilhantes, nos indentificamos com as supernovas.
Nascemos assim, brilhantes, explodindo para nosso próprio universo, e desde desse momento, lentamente vamos apagando, nos consumindo. Esse é nosso ápice, ninguém faz nada maior do que nascer, todo o resto é consequência. Por mais que briguemos, por mais que façamos a diferença, nada é mais impressionante do que começar a existir.
Poderia falar sobre todos as ramificações de nossas existência, apontando sempre um momento que ofusca todos os outros. Como sempre, prefiro falar sobre as relações humanas, razão pela qual não nos extinguimos de vez, logo após nascer.
Em todos nosso relacionamentos, basta pararmos um segundo pra pensar, podemos identificar esse momento. Seja um primeiro beijo, uma tarde na praia, uma ligação na madrugada. São esses pequenos instantes que nunca conseguimos esquecer, que com sua luz ofuscante nos marcou como fossemos negativos.
Não adianta brigar ou espernear, perfeito mesmo, só esses instantes, que ás vezes duram milisegundos, quando com sorte, alguns minutos. O resto é apenas uma grande torrente de imperfeição, em intensidades diferentes.
Isso não é motivo para tristeza ou depressão. A busca desses momentos, tem seu brilho próprio e ascendente. Por mais que não ofusquemos toda uma galáxia, por mais que não tenhamos a sensação que o universo inteiro nos admira, sabemos que estamos ali, grudados no firmamento, esperando nosso grande momento, para depois aceitar as leis da “física” e começarmos a nos apagar.
Somos todos buracos negros em potencial, prontos para transformar tudo de bom que expelimos em destruição própria, inconformados com a aparente falha de constituição.
Mas querer brilhar mais que toda uma galaxia, pra sempre é pedir demais. É querer ser Deus, é pretender ser a força mais absoluta do universo. Aceitemos nosso papel no espaço, o papel de compor um universo, esse sim perfeito, em que, por nossa sorte, temos a opção de ser pequenas estrelas anãs, quase insignificantes, temorosas em brilhar demais sabendo do destino de quem brilha, ou lutamos para sermos supernovas, que tem os dias contados, mas dias que farão a diferença. Para toda uma galáxia.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Marta? Amor?

- Sabe de uma coisa?

- Que?

- Você está linda hoje?
- Por quê?

- Hein? Como assim por que?

- É. Por quê?

- Porque está ué. Não posso te elogiar?

- Pode. Mas porque isso agora?

- Porque deu vontade falar ué. Olhei pra você pensei “nossa, como ela está bonita”. Mas desculpa, não falo mais.

- Não é isso. Tem alguma coisa aí?

- Alguma coisa? Que coisa? Não tem coisa alguma.

- Tem sim. O que foi? Você fez algo errado?

- Não, não fiz nada. Não é possível que você vai fazer isso.

- Isso o que?

- Transformar um elogio meu numa briga.

- Não é briga. É que você disse uma coisa estranha então deve explicações.

- Explicações??? Como assim explicações? Ta bom. Gostei do jeito que seus cabelos estão caindo sobre seus ombros. Da sua feição feliz.

- José Roberto, não me provoca.

- Te provocar???

- É, fica fazendo gracinha pra escapar.

- Escapar do que???

- Do que??? Que cara de pau. Do que você fez de errado.

- Errado? O que eu fiz de errado?

- Você quem me diz.

- Isso ta ficando louco demais. Eu retiro ta bom. Você não está linda hoje.

- Quer dizer que estou feia?

- NÃÃÃÃÃÃOOOOO! Inferno.

- Não o que?

- Não você está feia. Está linda como sempre. Como todos os dias.

- Quer dizer que você está entediado. Que não tem mais tesão por mim. Por isso foi procurar outra mulher?

- Que outra mulher????

- Você quem me diz.

- Eu que te digo? Como assim. Só te fiz um elogio.

- Vai José Roberto. Assume logo.

- Assumir o que?

- Não vai assumir?

- Não tenho o que assumir.

- Então é isso?

- Isso o que?

- O fim.

- Fim do que?

- De nós. De nossa história.

- É. É sim. Estou cansada de aturar essas coisas.

- Essas coisas? Que coisas? Pera, Marta, volta, prometo nunca mais te elogiar. Marta? Amor?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O que é saudade?

Saudade. Pra mim, não há palavra alguma no dicionário que expresse um sentimento com tanta veemência. Saudade não é só falta, não é precisar e nem só querer de volta. É só saudade. E isso é tudo. Tudo que está entalado na garganta, preso no choro, marcado no pensamento.
A saudade pode ter quilômetros de distância ou, muitas vezes, estar separada apenas por um lençol. Ou quatro paredes. A saudade dói sem ser doença, machuca sem ter armas.
Saudade só é boa quando está no seu fim. Saudade é igual fome. É uma das melhores coisas para se matar. Saudade do picolé minissaia, da coleção vaga-lume, da bota de chuva, do cheiro da lancheira da escola, da maçã raspadinha. Saudade.Do passado mais antigo. Ou de ontem à noite.Do que você está com saudade?
Pode vir agora. Pode vir de longe. Pode morar na sua rua. Porque tudo no mundo lembra a saudade. O que provoca a sua saudade? Saudade tem cena. Aquela quando você acena de longe e, num segundo, os olhos se enchem de lágrimas. Saudade tem música. E não precisa ser triste. E quase sempre tem cheiro. Aquele que fica no travesseiro e faz lembrar. Cheiro de perfume, bolo de chuva. Saudade tem sempre um nome. Ou não. De quem você está com saudade agora?
Quem tem saudade, lembra. Tem sempre pra quem escrever. Mesmo que esse alguém não possa mais ler. A saudade quase sempre mora pra lá das nuvens. E nem avião pode alcançar. Quando você diz que sente saudade, espera ouvir um eu também. Tem saudade que não passa. Mesmo que os dias passem depressa. Tem saudade que dá pra comprar o fim. Um voucher, um crédito de celular.
Bom mesmo é aquela saudade que se mata de graça. Um abraço, um pedacinho do seu picolé, um eu também.

Adoro contar saudade no relógio até ela acabar. É igual ansiedade de criança antes de abrir o seu presente. É como esperar o final de um livro.Saudade tem recordação, baú, diário. Tem pétalas de rosa espremidas no meio de um livro. Tem foto no fundo da gaveta. Tem um casaco de ombreira e um souvenir daquela última viagem na estante. Tem um restinho de bebida na garrafa. Tem dejavu.
O bom da saudade é correr pra encontrar. É dar um abraço de urso. É contar os dias.Porque quem sente saudade, tem o privilégio de sentir o seu fim. Algum dia, em algum lugar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

De casamentos e etc.

Pra variar eu já devo ter comentado a respeito disso anteriormente, mas como o mundo gira e a Lusitana roda, não me importo muito. Tenho ultimamente freqüentado muitos casamentos. Muitos. Mesmo. Não sei se é sinal dos tempos, se é apenas uma fase, se é a época ou se é a economia que está numa boa. Ou mesmo se eu possuo amigos e amigas demais que estão nessa de casório.

Mas o fato é que nos últimos dois anos, tenho comparecido em praticamente um casamento por mês.

Neste ano, vejam só, estamos no meio de agosto e já fui em nove (!) casamentos. O que está me dando uma média de um por mês. O que rendeu a decoreba de boa parte da Epístola de São Paulo aos Coríntios. Um clássico.

E para um solteirão inveterado como eu, essa leva de casamentos têm sido muito interessante, a despeito do que pensa a maioria. E a maioria pensa que para mim deve ser difícil, que eu deva sentir vontade de estar lá no lugar do noivo, essas coisas. Mas nada disso acontece. Gosto de casamentos, mas só os dos outros.

Freqüentar tantos casamentos me permitiu elaborar algumas estatísticas interessantes, como por exemplo, em 97% dos casamentos que fui nos últimos dois anos tocou Perhaps Love. O que para mim é fantástico, uma vez que adoro essa música.

Em 63% deles as crianças que entram trazendo as alianças fizeram alguma besteira, o que levou a 100% dos convidados a rirem dos pobrezinhos.

Em apenas 7% dos casamentos, a noiva chegou à cerimônia numa limousine, o que é um alívio. Limousines hoje em dia são extremamente cafonas. Se forem brancas então, é um atentado à ordem pública.

Em 71% dos casos, os padres ou pastores ou algo que o valha, disseram em sua pregação algum tipo de besteira, como lembrar aos noivos toda a parte ruim e difícil de um matrimônio. Aquela não é a hora de dizer coisas assim.

Em 15% dos casórios os padres/pastores/coisas do tipo disseram coisas legais, como “a beleza de um acordar com o bafo abençoado do outro” ou poéticas como “entender o que significa os seus ternos estarem ao lado dos vestidos dela”. Os mais atentos à matemática do negócio irão perceber que houve um hiato de 14% nas minhas estatísticas. Esses 14% são relativos às vezes quando o padre/pastor/coisa do tipo não disse absolutamente nada além dos textos-padrão. São os casos que o sujeito está com pressa de ir embora ou não quer atrasar o próximo casamento no dito estabelecimento religioso.

Em 100% dos casamentos algum imbecil disse “meus pêsames” para o noivo.
Também em 100% dos casos alguma invejosa colocou defeito no vestido da noiva.

Em nenhum casamento dessa pilha que fui nos últimos dois anos o noivo desistiu na última hora ou a noiva não apareceu. 0%. Vou começar a torcer para isso acontecer nos próximos que eu for.

Estão ficando todos muito iguais.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Uma de ciúmes II

O casal se separou. E tudo em virtude do tal Ciúme.

Quero que atire a primeira ou a última, vai saber, pedra quem nunca manteve/mantém um flerte no MSN; quem nunca entrou num bate papo para uma cantada no meio da madrugada; quem, já completamente bêbado, não pega o celular e começa a ligar pra tudo o que é ex-ficante para um papo picante no final da noite; quem nunca gosta de manter um esquema para massagear o ego. Duvido que exista essa qualidade de gente.

Duvido, aposto e, com plena certeza, ganho.

O mundo é canalha. E junto com a canalhice, vem esse tal de Ciúme atravancar tudo e todos.
Se o Ciúme não existisse, tudo seria muito melhor compreendido. Imaginem Maria G., após olhar as mensagens no celular do Diguinho o que ela faria:

- Ô meu amor...
- Pô, tô vendo o jogo agora.
- Verdade, já volto. Quer uma cerveja?

Olha a compreensão, gente! Viram a diferença? O mundo seria MUITO melhor, mais harmonioso.

Quarenta e cinco minutos depois ela voltaria.

- Agora podemos conversar?
- Claro. Só traga o cinzeiro pra mim, benzinho.

Que carinho... que carinho...

Cinzeiro, cerveja e o celular na mão, ela começa:

- Meu bebê, qual a razão dessas mensagens?
- Ô meu amorzinho, desculpa por não ter te falado. Não é nada de mais. É só uma amiga virtual.
- Não, tudo bem, isso eu entendi. Não falo disso.
- Fala do quê?
- Do horário. Duas da manhã não é muito tarde?
- Ela dorme tarde. Não liga pra isso não.
- Ainda bem que não. O Jorjão não me manda mais nesse horário, porque ele sabe que acordo estressada.
- Ele ainda te liga e manda mensagem?
- Às vezes... às vezes...
- Tá bom. Só isso?
- Só. Vamos à pizzaria?
- Hoje não. Vou na casa do Magrão jogar pôker. E você?
- Ah, sairei com a Lucélia.
- Qualquer coisa liga.

Olha a paz, a suavidade imperando.

Por isso que, agora serei eu quem entrará com uma ação contra o Ciúme. E ele terá que ser deportado ou se reportar a nós, homens lúcidos (!).

E é bom que isso aconteça logo ou, muito em breve, perderemos todas nossas mulheres para esse cidadão.

Há ciúme crônico?

sábado, 25 de julho de 2009

Umas de ciúmes


"Justiça seja feita! E logo", gritavam mulheres no largo do Arouche.

Esse senhor, que há anos corrompe os namoros, noivados, casamentos e, pasmem, até casos extraconjugais, foi convocado a prestar esclarecimentos do porquê de meter o bedelho nos relacionamentos e pode ser condenado caso suas explicações não sejam convincentes.

Tudo começou quando Maria G., miudinha de 22 anos de idade, moradora de um bairro abastado de Osasco, cansada de se estressar com Diguinho, seu namoradinho, resolveu apelar a instâncias superiores e entrar com uma ação na Justiça contra o Ciúme.

Segundo dados da Associação Aspirante de Ciumentas Neuróticas Anônimas - ASSACINA, o Ciúmes é um dos maiores causadores de destruição de lares e crimes de homicídios na capital paulista.

Dizem que Maria G., uma ex-neurótica anônima que resolveu se identificar para entrar com a ação, gozava de direito líquido e certo, entrando com um Mandado de Segurança para ser exorcizada e o Ciúme deixar o seu corpo.

Porém, do outro lado da balança, foi impetrado um Habbeas Corpus pelo Ciúme, alegando que ele já estava incrustado naquela mente perturbada.
Alguns podem achar exagero, mas a coisa tem acontecido assim mesmo: o ciúme quando entra na vida do casal, não sai nem por decreto presidencial.

Outro dia, a mesma Maria G., fuçava no celular do Diguinho. Inúmeras vezes eu disse à ela para não cometer essa bobagem, mas vocês bem sabem como é essa gente possuída pelo Ciúme.

Ela leu. Chorou. Decorou mensagem por mensagem. Chorou. Leu mais umas três vezes cada uma das quinze mensagens. Chorou novamente. Ligou pra psicóloga. Chorou. No auge do choro, não resiste:

- Diguinho!
- Oi meu amor.
- Meu amor o escambau!
- Nossa...
- Nossa o diabo que te carregue!
- Ixe...
- Ixe o quinto dos infernos!
- Mulher, tô aqui vendo o futebol...
- Pro raio que o parta você e esse seu futebol!
- Calmaí! Aí você já extrapolou TODOS os limites. Não mexa com o meu futebol.
- Futebol? Futebol?! FUTEBOL?!
- Isso mesmo. Sua audição está perfeita.
- Pois olha aqui, seu cachorro...
- Opa, opa, opa! Aqui não tem cachorro não.
- Pois tem sim, seu canalha, cafajeste...
- É TPM, só pode ser isso.

A conversa não foi das mais produtivas e ela, antes de jogar o celular na parede e espatifa-lo, leu mensagem por mensagem em voz alta ao namorado. Ele, com aquela cara de quem acabou de ver um filme do Akira Kurosawa apenas diz:

- E aí?
- Como assim ‘e aí’? Você perdeu COMPLETAMENTE a noção de um relacionamento!
- Isso é hora de brigar?
- E tem hora pra brigar agora? TEM?!
- Sempre teve.
- Ahn?
- Há uma lista com os horários na internet, você nunca viu?
- Não...
- Pois então vou lhe passar: segundas-feiras, após às 22h quando o marido já estiver dormindo; terças-feiras, após o futebol com churrasco e cerveja, e isso só se for depois das 23h30, que é quando ele estará bêbado; quartas-feiras, após a feijoada do almoço; quintas-feiras, se tiver brigado todos os dias, dê um descanso ao marido; sextas-feiras, caso ele chegue em casa, qualquer horário; sábados, após o futebol; domingo, sem horário disponível para brigas.
- Sei...

Semana que vem continua

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Clodisvaldo

Clodisvaldo. Ao contrário do que possa parecer o nome nunca foi problema, para todos os efeitos ele era o Clodô. Um cara como outros tantos que existem por aí. Metódico. Pós adolescente carreirista pressionado pelos hormônios, dividia sua atenção entre os estudos e as garotas; quando muito, cerveja e garotas.
Foi assim que Clodô entrou na faculdade. E como dizem que e mais fácil entrar do que sair, ele não quis saber de dispersões. Estudo, dedicação, provas de empenho.
Enfim, aula de Básico de Métodos Quantitativos. Ficou vidrado, não sabia que aquilo era possível. Espaço amostral. Aquilo fazia sentido para ele. Clodô adorava aquilo mas não de um jeito “nerd”. Ele gostava era das possibilidades que dali surgiriam, aplicações reais que ele poderia exercitar.
Entre uma apostila e outra (era preciso dedicação), uma garota para conversar, vez em quando uma cerveja com os amigos. E que qualidade de amizade, viu? Clodisvaldo só conhecia mulher, e se empenhava nisso. Mulheres de todos os jeitos, trejeitos; todos os estilos. Clodô pensava assim: espaço amostral!Começou que toda mulher que ele conhecia, ele conseguia criar um vínculo interessante que lhe proporcionaria algo também interessante e esperava que a recíproca fosse verdadeira. Esperava.
Sua aula de métodos quantitativos tinha que dar resultados, a teoria era infalível, era lógica. Cada dia que passava sua agenda aumentava. Não media esforços; se uma Mariana qualquer estivesse disponível ali na lanchonete, Clodô esquecia das aulas e engatava na conversa; ia até o intervalo. Nesse ponto ele já teria o número do telefone e pelo menos um cineminha marcado.
Dia após dia, Clodô sentia-se mais confiante, sua auto-estima subia a níveis estratosféricos. E quando chegou na Lua, ele parou. Não sabia o que fazer. Espaço amostral. E agora? Todo esse tempo, uma agenda lotada e nenhuma namorada. Zero. Precisava mudar isso.
De A a Z começou a ligar, Adriana, Amanda, Bethy, Carol, Carol Pini, Daniela, Dani Martins, … Ligou, ligou e ligou. Todas as vezes que ligou foi bem atendido, até com certa ternura na voz. Todas as vezes que ligou foi trocado pelas amigas – o que é uma amiga que não deixa a outra sair com um cara legal como ele? -, namorado – namorado? se ela tinha namorado porque ficava se jogando pra cima dele? Sem falar nas inúmeras vezes que foi perguntado: “quem mais vai?” Não podia acreditar, uma teoria inteira… por àgua abaixo em algumas dezenas de ligações. Sua lógica estava ferida. Não conseguiu pensar em mais nada a não ser mudar de aula. Algo mais pragmático, talvez pintura com as mãos.

sábado, 4 de julho de 2009

Sem-educação

Dizer que o ensino no país está ruim, é pouco. Ao analisar a situação mais de perto, dá para se revoltar. Lendo jornais e revistas, caímos no inconformismo. Se você é brasileiro, sente vergonha.

As carências são múltiplas. A falta de cultura de nossos alunos é algo gritante. Há anos não temos na grade curricular Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política Brasileira e, se não bastasse, Filosofia. Tudo isso por quê? Os mais cretinos pensarão: "pra que essas matérias se não caem no vestibular?", pois é. Para que ter cultura se a alienação é inevitável, não é mesmo? Viva a mediocridade!

Hoje as escolas formam bitolados, alienados culturalmente, adolescentes virtuais, babacas que vomitam fórmulas decoradas e boçais que não pensam, "nerdeiam".

Segundo estatísticas, houve uma crescente de pouco mais de vinte por cento no aumento de reprovações no último ano. E vejam que em alguns estados há a maldita "progressão automática", isso se o negócio já não for nacional em colégios públicos.

Ao meu ver, essa foi a maior patifaria já feita com o ensino. Onde já se viu "passar de ano" um cidadão que diz: "Curitiba é a capital de Santa Catarina, né?". Alguns não sabem resolver simples problemas de aritmética e, se sentem cultos ao dizer: "A nível de...". Que nível, hein?

O Pensar tornou-se raro, quase extinto em nossa classe estudantil. Faltam incentivos no ensino fundamental e médio. Caso isso não ocorra urgentemente, veremos nossos estudantes sem direção, protestando sem fundamentos, sem bom senso e perdidos num mercado que exige, além de técnica e conhecimento, astúcia.

Eu penso que, se a tal "progressão automática" visasse que o jovem se formasse logo, com o intuito de adentrar ao mercado de trabalho mais cedo, vá lá. Mas, e emprego para todo esse pessoal? Fora que sempre exigem experiência de um, dois e, até, três anos nisso ou naquilo. Só quero saber aonde é que estão os dez milhões de empregos prometidos em campanha. Acho que foram apenas boatos. Sinceros boatos.

E os professores? Simples marionetes sem estímulos financeiro e profissional. Fora quando são funcionários públicos e se acomodam, não buscando uma reciclagem no método de ensino. Alguns ainda estão no tempo da palmatória (!). A sentença, com esse quadro, é cair na vala comum e deixar os alunos da maneira que estão: sem inteligência e sem rumo.

Poderia, aqui, culpar os militares, o Sarney, Collor, Itamar, FHC ou o Lula. Mas isso seria cômodo demais. Também poderia me valer de clichês como "isso é falta de vontade política". Nessa altura do campeonato, o mais sábio é ser autodidata. Claro que isso é utopia para quem mora nas favelas. Impensável, no mínimo.

Já que os "programas sociais" de dar comida não têm surtido muito efeito, partamos para o lado educacional, dando alimento ao cérebro, pois, da maneira que está, o nome do Programa é "Inteligência Zero".

Há anos eu pensava que quando os intelectuais chegassem ao poder, teríamos um outro país. Um país mais justo, mais digno de se viver. Porém, vi que muito saber não é o mesmo que ter sabedoria. E o povo, por falta de cultura, discernimento, saber e sabedoria, não enxerga que nada mudou, que é só uma questão de perfumaria. Ou seja, mudam-se os frascos, mas o odor é o mesmo. Senão pior. Vai saber...

Mas, refletindo melhor na situação, num país em que as pessoas mijam na rua e as melhores salas de aula são botecos, até que não estamos numa situação tão ruim.

Educação, Lula. Educação.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

You can’t, always give what you want

Apesar de adorar aprender, e observar o comportamento de todos o tempo todo, certas lições demoro para pegar. Talvez porque não queira, talvez porque demore a aceitar que estou errado. Mas seja lá o que for, quando aprendo levo pro resto da vida. Não esqueço nem faço corpo mole.
Algumas dessas lições foram: amigos não são pra sempre, amores não são pra sempre, não espere dos outros o que você faz por eles, não confie em ninguém. Ao longo dos anos fui aprendendo de maneiras dolorosas tudo isso. Mas fui incorporando ao meu jeito de viver, mesmo discordando internamente, entendo que são conceito imprescindíveis para meu bom convívio social.
A última lição que tive foi a de que nunca devo dar mais do que me foi pedido. Posso ainda ser surpreendente, encantar como quiser, mas se concentrar em dar o que as pessoas estão pedindo tem de ser o foco principal. E isso funciona em todas as esferas. Lembro bem de um amigo me falando que em sua empresa, tinha um funcionário que depois de vinte anos de casa, ainda insistia em “fazer as coisas certas”. Na hora morri de dar risada, e não entendi o que havia de errado. Ele explicou que as coisas não são assim, o funcionário não é contratado para fazer as coisas da maneira certa, e sim para fazer o que lhe foi pedido. Dessa maneira ele será útil de verdade, do contrario será apenas um chato.
No âmbito pessoal acredito que isso seja verdadeiro também. Cansei de dar ás pessoas todo meu melhor, meu respeito, carinho, companheirismo, tentando ser o mais próximo do parceiro ideal. O parceiro ideal no meu ponto de vista. O homem que passaria mais segurança, cuidado, que trataria suas mulheres como princesas num pedestal. Ou quase isso, afinal sexo não entra nessa equação.
O problema é que sempre achei que isso era o bastante, que se falhasse em outros pontos, essa base sustentaria o relacionamento. Errado. Ainda que mulheres sejam seres indecifráveis, basta parar para ouvi-las com atenção que se entende o que querem. E muitas vezes, querem algo muito mais simples do que você oferece. Nenhuma mulher quer de verdade um príncipe encantado genérico, de cavalo branco e armadura reluzente. Ás vezes o cavalo é dispensável, afinal, o que ela gosta é de andar mesmo, e a armadura pode ser enferrujada, desde que limpinha.
A real é que o homem dos sonhos de qualquer mulher é aquele que a escute de verdade, que entenda o que é importante para ela em cada momento, que supra suas necessidades, seja uma aliança no dedo ou um porre no bar da esquina. Não importa, basta ouvir e se possível ser companheiro.
Portanto, parei de pensar no que eu acho que seja melhor para elas, apenas escuto com atenção, e dou o que me foi pedido, assim como não espero que me ofereçam o que acham melhor para mim, e sim o que manifesto que quero. Usando das palavras de meu amigo Jagger, com uma pequena mudança:
You can’t, always give what you want
But if you try sometimes, you give what you’ve been asked.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Já fui casada

Imaginem estas duas situações:

Cena 1

Um happy-hour num desses barzinhos modernos, com mesas de madeira escura na calçada e pé-direito bem alto (alguém pode me explicar a origem do pé-direito?). Uma mesa repleta de jovens engravatados próxima a uma outra mesa repleta de mocinhas de scarpin, meias-calça e saias pretas.

Um dos jovens engravatados troca olhares com uma das jovens de saia preta. Ela sorri. Ele vai até ela. As amigas dela aplaudem. Os dois se apresentam, conversam, ele diz coisas engraçadas, ela ri, ele pede o número do celular, ela dá, ele diz que o sorriso dela é lindo, ela diz que gosta de homens maduros, ele diz que gosta de mulheres exatamente como ela, mas ela arremata:

- Ai, pena que você fala igualzinho ao meu ex-marido.

Ela tem 23 anos.

Cena 2

Uma sala de aula de um curso de pós-graduação. Ele está no mesmo grupo de trabalho que ela. Eles trocam informações o dia todo por e-mail, por celular, e à noite, na aula, trocam olhares.

Certo dia, os dois desceram para tomar um café e comer um croissant e ele, já desesperado de tanta paixão, se declara. Ela sorri fraternalmente e diz que ele está confundindo as coisas, que o momento não é adequado e sentencia:

- Puxa, meu casamento acabou há pouco tempo, não quero me prender de novo tão cedo.

Ela tem 25 anos.

Eu não fui o infeliz protagonista dessas histórias, mas posso garantir que elas aconteceram. E cenas como essas se repetem diariamente e cada vez mais.

Tenho percebido um certo orgulho nas meninas em afirmar, com olhar altivo e seguro que já foram casadas. Elas têm ostentado isso como se fosse um rótulo de maturidade e experiência, uma espécie de mensagem subliminar para os pretendentes que diz: Olha, para ficar comigo você tem que ser no mínimo o máximo.

Gostam tanto de ostentar o rótulo de ex-casada que nem precisa ter sido casada de fato. Morou cinco meses com um sujeito e pronto, foi casada.

O engraçado é que todas essas adeptas do orgulho "já fui casada", que compete um certo ar de maturidade à elas, são extremamente imaturas.

Menininhas brincando de casinha e desfilando futilidade travestida.

Como dizia um saudoso amigo:

- Meus sais, onde estão meus sais?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Um simples pedido a Deus

- Meu Deus do céu, há como Você tirar uma dúvida minha?

- Claro, meu filho.

- Bem, posso chamar o Senhor de Você ou uso outro pronome de tratamento, como Vossa Santidade?

- Chame como quiser. Diga o que quer.

- Olha, não é nada muito complicado.

- Então diga.

- Não se preocupe que não falarei de política, de alta de juros, queda do dólar, crise financeira mundial etc. Se ainda fosse ascensão do dólar, vá lá, mas baixa não dá.

- Filho, deixe de lero-lero, vá direto ao assunto.

- Tá, esqueço que o Seu tempo é precioso. Sabe o que é? É que eu cheguei à conclusão que o o mundo não deu certo, tá tudo errado por aqui. Decididamente, o Senhor errou, e errou feio! Estou decepcionado! Não vou entrar no mérito de guerras, Saddam, Bin Laden, Bush, dentre outros canalhas e cretinos. O buraco é bem mais embaixo. Também não quero comentar sobre a patifaria do petróleo, sobre riquezas mal usadas e só exploradas pelos senhores do poder. Não vou lhe importunar com questões sórdidas de cunho religioso, de pouca fé das pessoas, do fanatismo idiota de outros, da falta de vergonha na cara dos beatos hipócritas, da falta de moral dos pastores e padres pedófilos, dos "papa hóstia", das confissões mentirosas e das promessas não cumpridas.
Perdão, Senhor, mas não é isso que me preocupa.

Também não quero perturbar sua consciência com devaneios sobre o por quê do homem querer conquistar o espaço, pois ele desconhece a própria alma, o próprio cérebro, seus sentimentos e atitudes. Além disso, o homem não se contenta em poluir o planeta, polui o espaço, o espírito e a mente. Também não vou perguntar sobre a miséria que assola o mundo, onde a maioria das pessoas não tem o que comer, enquanto uns poucos limpam, com o perdão da palavra Senhor, a bunda com nota de cem dólares.

Não quero lhe aporrinhar com perguntas de cunho intrínseco do ser humano, onde percebo que não existem mais valores. As pessoas tornaram-se superficiais, volúveis, descartáveis. Elas se casam, namoram, ficam, mas só pensam no próprio umbigo. Estão preocupadas com estética, e não em ter atitude. Preocupam-se em tomar pílulas, e não em tomar vergonha na cara.

Também não vou reclamar da pneumonia asiática, Aids, ebola, gripe suína e outras doenças criadas pelo homem. Isso sem falar na falta de paciên...

- PARE, meu filho! Por favor!

- Mas Senhor, eu nem falei ainda o que quero saber?!

- Por favor, já tenho muito problemas. Provavelmente você virá com mais um problema, mais uma mania, mais uma teoria, mais uma qualquer coisa.

- Viu por que o mundo não dá certo? Todo mundo já tá de, perdão, saco cheio de tanto problema. As pessoas querem soluções. Eu quero uma.

- Tá, depois de ouvir o seu discurso, qual a solução que quer?
- Quais são os números da Mega-Sena?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Vida Boêmia

Eram quatro amigos. Desses das antigas. Amigos de faculdade, onde, durante anos, iam beber naquele mesmo boteco depois das aulas. Com o passar do tempo, esses encontros se tornaram cada vez mais escassos. A vida, enfim, domou a vida boêmia; esta trocada por mulheres, filhos, família, trabalho, responsabilidade. Mas da chama boêmia ainda resistiam algumas fagulhas, o que levou estes quatro amigos a se reencontrarem.
O velho boteco da faculdade há muito havia fechado suas portas. O centro da cidade não era mais aquele marcado em suas lembranças. A solução foi apelar para um daqueles guias que acompanham as revistas semanais. Optaram por um lugar recém aberto na Varjota, muito bem conceituado pelo guia.
Chegaram e se aconchegaram numa mesa. Aguardaram o garçom Surge uma figura jovem, com cabelo espetado, piercing na sobrancelha, todo vestido de preto.
- Pois não? Em que posso servi-los?
- Nós estamos esperando o garçom.
- Eu sou o garçom de vocês. Pode me chamar de Dee Jay.
- Di jei? Isso lá é nome de garçom?
- Ah, bons tempos em que os garçons se chamavam Tibúrcio ou Leôncio.
- Ninguém se chama mais Leôncio hoje em dia.
- Deixa disso pessoal, Dee Jay, traga uma cerva bem gelada pra começar.
- Só temos chopp.
- Que absurdo! Vamos pra outro lugar!
- Será que eles têm Malt 90?
- Não fabricam mais essa cerveja.
- Então 4 chopps, certo?
- Claro. Chopp normal? Ou preferem com menta ou groselha?
- Groselha no chopp? AAAAARGH!!! Prefiro uma caipirinha então.
- Chopp bom era do polonês. Aguém sabe que fim levou o polonês?
- Morreu em 88.
- Então anota aí Dee jay. Uma caipirinha e três chopps normais.
- Ok, 3 chopps. a caipirinha é de que? Limão, morango, kiwi, frutas vermelhas?
- Frutas vermelhas? Que diabos são frutas vermelhas? Tem caqui também?
- A dona Clotilde fazia um doce de caqui...
- Morreu também.
- Traga uma de limão, tradicional.
- Então são três chopps e uma caipirinha de limão. Caipirinha de cachaça, vodka ou saquê?
- Quem em sã conciência iria colocar saquê na caipirinha? Vamos embora!
- Eu falei pra irmos ao bar do Pascoal.
- O bar fechou em 92.
- Ô Dee Jay, são três chopps normais e uma caipirinha de limão com cachaça.
- Adoçante?
- AAAAAAAHHHH!
- Irrrrccc
- Tsc, tsc...
- Não! Sem adoçante. E traz uma porção de calabresa, dessas tradicionais mesmo. E sem amis perguntas.
Quando o Dee Jay chegou com os pedidos, aquela chama boêmia definitivamente se dissipou. Não há boêmia que resista ao molho de maracujá em cima da calabresa.

terça-feira, 12 de maio de 2009

A salada

- Que grandes tragédias galgam nossa pífia existência. Verde, vil, virulento. Sim, é este o grande empecilho que enfrento antes da grande pilhagem. Os talheres formalmente arranjados simetricamente. A falta de odor incomoda. Devo continuar? É prudente arriscar-me assim? Grandes ânsias e angustiantes sofrimentos hão por vir.
Sim, decido seguir em frente. Vegetais. Nada além de plantas. Por que tanta temeridão? Encho meu peito de esperanças e pensamentos reconfortantes. Pego o garfo e inicio minha penitência. Regorjizo, mas continuo impávido. O gosto verde em minha boca, a textura áspera descendo pela minha garganta. Horror! Horror! Não quero ir em frente, mas preciso. Provações cruéis permitem a visão da essência de nossos medos e assim conseqüentemente tornar-nos-emos mais fortes para agüentarmos provações ainda piores. Afinal, a vida não é um infinito ciclo de sofrimento e recompensas?
Sim, continuo. Continuo a investida contra a miniatura de selva. O relógio continua em sua dança, mas em ritmo cada vez mais lento. Desespero! Perco a razão. Quero sair! Mas não posso. Sinto-me acorrentado pelos grilhões impostos por forças além de meu controle. Utilizam de subterfúgios sobre minha saúde ou sobre suas qualidades gastronômicas. Sei que me enganam e ignoro seus argumentos. Sou pego apenas pela força, pela força moral e pela doce recompensa final. Deixo que percebam minha insatisfação com tal situação. Mas de nada adianta, não estão dispostos a ceder como tantas outras vezes já o fizeram. O que se passa em suas mentes nesses momentos nunca saberei.
Talvez seja um misto de prazer e de dever cumprido. Torturar seu primogênito com tais artifícies. E eu os considerava como grandes. Minha mão se move em direção a uma segunda tentativa. Meu estômago já se embrulha sabendo o que há por acontecer. Continuam impassíveis quanto a decisão de continuar tal angústia. Apenas uma coisa irá me salvar....

- Doaninho! Quer parar de enrolar e comer logo essa salada? Já disse que só irei servir a sobremesa quando terminar seu prato!
Lembranças da minha infância. Este texto é pra você mãe. Te amo.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A alface

Ele estava muito animado com o almoço, apesar de ter tentado insistentemente que fosse o jantar, considerou o almoço uma meia vitória. Já estava de olho nela há muito tempo, desde que ela aparecerá na recepção da agência. Morena de um metro e setenta, olhos verdes, longos cabelos lisos, e uma silhueta que deixava até a estagiária do quinto andar morrendo de inveja. Já nos seus 26 anos, ainda solteira e disponível no momento. Era perfeita.

Passou dois meses com conversas de escritório, começou a acidentalmente esbarrar com ela na copa, e diversas vezes marcava almoço com amigos só para que ela ligasse em sua mesa. Adorava ouvir:

- Marcos. Bom dia.
- Bom dia Carlinha, ficou com saudades e resolveu me ligar.
- Não, quer dizer, bem...seu amigo chegou.
- Estou descendo.

Colocou a roupa mais descolada que pareceria que ele não estava propositadamente descolado para aquela ocasião. Uma difícil combinação de calça, camisa, cinto e sapato que tomou-lhe quarenta minutos da manhã. Valeria a pena, pensou. Se o almoço for bem, aí vem um jantar. Preferia jantares, certamente uma ambiente mais adequado para criar um clima e também envolver bebida alcóolica na jogada. Era paciente porém, com o tempo aprenderá que tudo que vale a pena, dá um pouco de trabalho.

Ela fez questão de escolher o restaurante e iriam com o carro dele. Ele passou a manhã fantasiando sobre o restaurante que ela o levaria. Uma surpresa, ela havia dito. Não que ele gostasse muito de surpresa, mas como era um bom glutão, não tinha medo de comida alguma, fora jiló, claro.

Passou na recepção no horário combinado, onze e quarenta e cinco. Ela era muito metódica com horário. Desceram ao estacionamento e saíram. Após cinco minutos de percurso, ela apontou:

- Estacione aqui, chegamos. Você vai adorar.

Ele não viu bem o nome do restaurante mas parecia ser um lugar muito agradável, com uma varanda grande, salão todo envidraçado. Ambiente muito agradável.

- É o melhor vegetariano de São Paulo.
- Quem?
- O restaurante.
- Er...
- Calma, a comida é uma delícia, a carne de soja é ótima.
- Er...

Sentaram, ele ainda em estado de choque, afinal a mulher perfeita o levou num restaurante vegetariano, não podia ser bom sinal. É só um regime, isso mesmo, ele pensou, não deve ser nada grave.

- Você está de regime?
- Não?
- Er...
- Sabe como é, eu não como bichinhos, só plantinhas.
- Er...
- Odeio que matem bichinhos. Não suporto.
- Er...
- Salada de alface ou agrião?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Até que a morte os separe

Na última semana compareci a um aniversário num desses bonitos barzinhos da moda onde uma porção de batata frita é mais cara que uma parcela de TV de plasma e uma garrafa de cerveja custa o mesmo que um PF com sobremesa, mas onde as pessoas bonitas vão ver e serem vistas. Acho que vou abrir um comércio voltado apenas às pessoas feias. É um nicho a ser explorado.


Mas devaneios à parte, no tal bar havia uma mesa com duas meninas simpáticas. Discretas, como convinha a elas. Sozinhas, como convinha a mim.


Lá pelas tantas resolvi bater papo com elas. Sabem como é, aquele velho instinto animal da conquista barata. Eu estava trajado de garotão, o que me deixou mais à vontade.


No caminho do toalete (acho toalete boiolíssimo. Pra mim é banheiro mesmo e olhe lá) fiz uma brincadeira qualquer com as moças e, na volta aproveitei que meu chiste havia sido bem recebido para parar e conversar com as meninas.


Mas hoje em dia eu sou um banana, portanto rumei a conversa para algo sem segundas intenções. Papo de amigo mesmo. Um banana.


As duas eram irmãs, e resolveram parar no barzinho pra conversar amenidades, mudar de ares, poder ter papo de irmãs sem grandes censuras.


Não sei direito como, a conversa chegou em casamento. E a mais novinha, Renata, timidamente me mostrou a aliança de ouro na mão direita. Noiva.


Como àquela altura já éramos amigos de infância (banana), ela resolveu exteriorizar para mim todo o medo e toda a angústia que estava sentindo em relação ao iminente casamento. A coitada da menina tinha desespero nos olhos. Me disse que era muito nova e que tinha muita coisa pra viver antes de se casar.


Pensei então em quantas vezes eu havia escutado a mesma conversa nos últimos anos. Parece que a ânsia de casamento está meio parecida com a de vestibular. A pessoa pode estar completamente despreparada, mas tem que ao menos tentar.


Fui pesquisar algumas estatísticas e descobri que, em média, um casamento no Brasil dura cerca de dez anos. Ou seja, ou essa história de “até que a morte os separe” é balela ou tem gente morrendo muito cedo.


Descobri também que em 70% dos casos, quem pede o divórcio é a mulher. Claro que não posso generalizar, mas creio que daqui a dez anos a menina Renata que conheci no bar estará pedindo o divórcio.


Acho que essa pressão, esse dogma de que um casamento deve ser para a vida toda acaba atrapalhando muito os casais. O “pra sempre” é tempo demais, por isso as pessoas acabam se enchendo pelo caminho.


Sugiro que inventem o casamento com prazo. As alianças poderiam ser de cores diferentes, uma para cada período. Por exemplo, uma aliança azul significa um casamento de dois anos. Depois de dois anos o matrimônio perde a validade, podendo ou não ser prorrogado.


Poderia ter alianças verdes para casamentos de cinco anos, violeta para casamentos de sete e vermelhas para os de dez anos. Imaginem só que beleza um indivíduo indo pedir a mão da namorada em casamento e aparece com um par de alianças vermelhas! – Pedro Aurélio, que lindo, você quer ficar comigo por dez anos?! Claro que eu aceito!


Acho que assim a coisa daria mais certo. Acabaria com a obrigação do “pra sempre” e a manutenção do carinho ficaria muito mais simples.


Tem Renatas demais por aí.

sábado, 11 de abril de 2009

Eu, os alunos, a professora

Não, gente, não vão pensar que se trata de um triângulo amoroso, por favor! Se bem que coloquei os alunos no plural, então deveria ser um polígono amoroso. Mas não é.

Também não se trata de uma sessão de pedofilia, onde eu, juntamente com a professora... deixa pra lá.

Conheci uma professora que resolveu dar aulas para os seus alunos com minhas mal traçadas crônicas. A notícia é muito boa, agrada, demonstra que as crônicas estão funcionando mais ou menos como uma porta de entrada para o mundinho da literatura. Ler Machado de Assis é chato. Ler crônicas é legal.

Depois, Machado de Assis fica legal também, garanto. O capítulo 136 do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas", na minha opinião, é o mais engraçado e genial que eu já li. Dêem uma olhada e depois me digam o que acharam.

Mas depois, essa história da professora Cristiane lecionar com meus testículos, quero dizer, com meus textinhos, me deixou muito preocupado.

Não sou nenhum Jânio Quadros, nem um João Ubaldo Ribeiro. Cometo cada despautério que levaria o Professor Pasquale pensar que sou um girolas (vamos lá, moçada, ao dicionário!).

Fiquei pensando na balbúrdia que o corpo discente da mestra em questão deve fazer em relação às minhas vírgulas. A professora Cristiane ensina que não se deve separar o sujeito do predicado com vírgula, e eu faço isso amiúde. Sabe o que é, professora Cristiane, eu penso na respiração dos seus alunos. Creio que nem eu nem você deseja ver algum de seus alunos roxos e se estrebuchando de asfixia em plena sala de aula. Não é importante, a vírgula? Ou, não é importante a vírgula? É importante sim.

Escrevi uma crônica há um tempo (olha só, pessoal, o "há" assim, com agá, já quer dizer que estou falando do passado. Se colocar o "atrás" depois, vai ficar redundante. Tô ficando metido!), onde eu citava algumas figuras de linguagem. A professora Cristiane disse que foi ótimo para ajudar os seus pupilos e pupilas nessa matéria. O problema é que ela disse que tinha faltado eu citar a metonímia. Puxa, professora, é que não tive nenhum caso com mulher nenhuma (outra dica: em português, deve-se sempre usar a dupla negativa) que usasse metonímias. Além do mais, perceber a metonímia é muito difícil. Às vezes parece metáfora, às vezes, sinédoque. Mas acho que lá em cima eu usei uma metonímia quando disse que ler Machado de Assis é chato. Não dá pra ler o Machadão, é óbvio, o que lemos são os livros dele.

É muito bom poder desmascarar o português. E não estou dizendo que é bom tirar a fantasia de Zorro da cara do seu Manoel da padaria, hein?

Metonímia, desisti de escrever. (Hipérbato)

No mais, professora Cristiane, fique à vontade para puxar as minhas orelhas caso haja algum deslize meu. A responsabilidade é grande.

E, turminha da classe, nunca deixem de ler. Com o passar do tempo vocês vão ver que até bula de remédio é legal. Se bem que até hoje acho Manuel Bandeira um porre.

domingo, 5 de abril de 2009

Indiferença


É muito natural de nossa parte querer conquistar várias pessoas, sorrisos, sonhos... É inerente do ser humano. Quem não gosta de ser reconhecido por um trabalho feito, por uma lembrança inesperada, por um gesto de carinho e atenção, por um telefonema no meio da madrugada (mesmo que bêbado de sono) dizendo que está com saudade? Quem não gosta do agradecimento pelo serviço prestado, pelo trabalho feito com esmero? E o aplauso? Ah, não há nada melhor do que um aplauso ao final de uma apresentação.

Não é gostoso receber um abraço da amada ou do amado, sentir as mãos nas costas e um sussurro no ouvido, dizendo que estava com saudade? E, ao chegar de viagem, ver que há inúmeras cartas do namorado lhe esperando para serem lidas? Cartas, cartões, e-mails, enfim, ser lembrado.

E presenciar a conquista de um amigo quando o mesmo subiu de cargo na empresa, quando comprou o primeiro carro, passou na primeira entrevista numa empresa, conseguiu se formar na faculdade e deu o seu primeiro beijo na menina mais bonita da escola, o chamando, anos mais tarde, para ser padrinho do casório? Não há como descrever a alegria que sentimos ao presenciar as vitórias de quem gostamos e, muitas vezes, nos espelhamos. Não há ciência que consiga explicar o furor que o ser humano, quando sincero, sente ao receber tal notícia.

Tudo isso é ótimo, até o momento em que nos sentimos desprezados pela indiferença. Para nós, mesmo que tentemos, mesmo que doa a indiferença, ela tem que ser indiferente aos nossos olhos. Mesmo que a dor esteja latente em nosso coração e que mine aos poucos, nos fazendo calar por um instante.

A indiferença é a pior de todas as renúncias, pois nos tapa os ouvidos, nossos olhos e nossa consciência para enxergar coisas belas da vida, como o brilho no olhar, o desabrochar de uma flor. Coisas que parecem tão insignificantes quando nos sentimos indiferentes e não percebemos.

Mas, se você observar, mesmo com a indiferença de alguns ignorantes, o sol não deixou de se pôr atrás da mesma montanha do mesmo jeito de todos os dias. Aquela flor, mesmo depois de morta, deixou seu perfume, seu brilho numa semente que voou e nasceu, povoando algum lugar com uma nova fragrância. Esta semente, não foi apenas retirada pelo vento, ela simplesmente voltou ao seu coração, não dos olhos que a recusavam, mas, sim, para os olhos curiosos de desejo, de descobrir o segredo de cada pétala daquela belíssima flor. Ela poderia não ser, agora, a única flor do mundo, mas, também, aquele não era o único olhar do mundo.

Antes de tentar recorrer aos risos perdidos e à indiferença, devemos pensar em nós mesmos, e descobrir que a tristeza e a felicidade são apenas duas opções, que os motivos que nos levam à eles, são sempre compatíveis. Porém sabemos que a vida é curta, por isso, não se preocupe com a indiferença, pois ela nos faz menor que uma simples semente e acaba por te reduzir a pó antes do tempo.

Sorrir é uma virtude que poucos conhecem, e, se você conhece, mostre isso. Mostre que a simplicidade de um sorriso vence a rigidez da indiferença.

sábado, 14 de março de 2009

A culpa toda é do Fusca

Adoro Fusca. Principalmente aqueles antigos e bem conservados. Mas este carrinho que Hitler solicitou para ser fabricado é o culpado por muita coisa que passamos hoje. Você nem imagina quanto.

Sabe por que sofremos com o trânsito hoje em dia. Por causa do Fusca. Toda uma geração de pessoas cresceu dirigindo e curtindo o fusquinha, e por causa disso, hoje não conseguem acelerar seus carrões no ritmo que o transito precisa. Sempre ficam para trás ou andam só a 70km/h que era velocidade máxima do pobre fusqueta 1300cc.

Sabe por que temos que amargar entrar em carros hoje em dia que não tem absolutamente nenhum acessório dentro? Nem um acendedor de cigarros? Por que um dia, alguém criou o Fusca e o único acessório que este carro tinha era o radio. Sem toca fitas, claro.

Hoje em dia, em qualquer lugar que se quer comprar um carro, vem logo o vendedor oferecendo o tal do Air Bag. Isso só existe por que o coitado do fusca tinha o vidro dianteiro na vertical e ficava muito perto do rosto do motorista. Depois de tantos perderem suas vidas no vidro, alguém inventou o Air Bag.

Sabe aquela alça que tem em cima dos assentos dos passageiros? Aquela mesmo que sua vô segura quando anda com você? Aquela mesma que você vive batendo a cabeça nela e falando “P... que P...”. Nasceu com o Fusca. Pior, a do Fusca era no painel. Era para prevenir que o passageiro batesse a cabeça no vidro.

Você já se deparou com aquelas pessoas que param o carro no semáforo e puxam o freio de mão e depois atrasam para sair na hora que o semáforo abre? Pois é. Culpa do moribundo Fusca. Como o freio do carro falhava, os motoristas puxavam o freio de mão e continuam fazendo isso hoje em dia, mesmo não precisando.

Lembra que o Uno antigamente tinha o estepe colocado sobre o motor dianteiro? O Fusca começou com isso, mas não ficava em cima do motor e sim abaixo do capô dianteiro. Que coisa mais esquisita.

De tanto que o carro inventou que resolveram reinventar com ele e a Volkswagen tem uma nova versão do Fusca. Tem os mesmo problemas que o antigo, só que hoje o carro é um pouco mais bonitinho.

Se não fosse o Fusca do Itamar, as empresas de carro não teriam começado essa corrida absurda para ver quem faz o carro mais barato, e principalmente, mais desequipado que existe no mundo.

Mas apesar de todos os males que esse carrinho causou a humanidade, no final de tudo, foi em um Fusca que puxei meu primeiro cavalo de pau. Na verdade, meu pai fez isso e eu curti muito, girando dentro do meu mundo formado pelo líquido amniótico da minha mãe!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Tênis x Frescobol


Foi minha médica da cabeça que citou e eu fui atrás. Esse texto do escritor Rubem Alves, fala dos dois tipo de relacionamento. O relacionamento tênis e o relacionamento frescobol. Não vou tentar explicar, já que obviamente ele é muito mais capacitado. Leiam, é muito bom.


Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.


Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.


’Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’


O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.


O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...


A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...


Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:

‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.


’Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.


Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...(O retorno e terno, p. 51.)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Eu te amo! (e nem vou cobrar nada por isso)

O sexo vende. E muito. Milhões de sites de internet e a Rede Globo sabem muito bem disso. Mas e o amor? Não seria um produto negligenciado?

Depende do tipo de amor. Temos claramente dois tipos de amor. O amor clássico é aquele legítimo, que faz rir, chorar, que abre a porta do carro e vai no estádio de futebol mesmo sem gostar. O outro é o verbalizado, aquele que é apenas falado, sem significado necessário, que decepciona, dá esperança, esquece de ligar e finge que está dormindo.

O Amor, assim verbalizado está em alta, e o amor legítimo está em falta. Ainda que Adam Smith tenha nos mostrado que quanto menor a oferta maior a procura, o amor legítimo está tão ausente que já se tornou um tipo de lenda urbana.

- Sabe o Rui?
- Que Rui?
- O Rui, primo do Claudinho.
- Claudinho….
- Aquele amigo da Mari, gordinho que usa dockside.
- Ah sei.
- Os pais deles são casados há 50 anos e ainda se amam.
- Você os conhece?
- Não, mas a Fê, irmã da Mari disse que já os viu uma vez.

Como quem compra guia de cidades as quais nem sabe se vai visitar , as pessoas se conformaram com a verbalização do Amor, com a oferta de uma promessa de algo que não acontece, mas não deixa de ser desejado Amor como diria o povo, vende igual pão quente.

O mercado é amplo. Historicamente, as mulheres são compradoras em potencial e os homens vendedores. É verdade que o mercado mostra uma tendência de inversão dos públicos. A troca é constantemente praticada também. Ainda que nem sempre os negociantes cheguem a um acordo:

- Pati, eu esperei muito pra dizer mas acho que é a hora.
- O que Michel?
- Eu te amo!
- …
- …
- Eu amo passar tempo com você.

O mercado é muito promissor. As aplicações são infindáveis. O produto tem atributos indiscutíveis. Não é perecível.

- Você me ama môr?
- Claro bebê.
- Quanto você me ama?
- Te amo pra sempre bebezinha, agora faz minha massagem.

Tem grande potencial no atacado.

- Mas você disse que me amava.
- E amo.
- E porque tava beijando aquele cara.
- Porque eu amo o Júlio. Mas também te amo Té. Você não acredita que é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?
- Não!
- E o que você me diz daquele nosso menage, então?
- Errr….é…!?

O mercado paralelo também se aquece. Genéricos e similares são bem cotados no mercado. Diversifica-se para se atingir todo poder de compra. Por uma pechincha se consegue um “Gosto de você”, num investimento razoável pode-se obter um “Te adoro muitão” e apostando um pouco mais alto se fatura possivelmente um “Te adoro muito-muito-muito-muito-infinito”.

- Mas já?
- Acha cedo?
- Aliança depois de dois dias cara. Acho rápido demais.
- Eu também achava. Mas depois do que ela me falou.
- O que?
- “Te adoro um montãozão”. Isso é bastante né?

Ainda existem poucos puristas que acreditam no legítimo amor, que invariavelmente se tornarão um grupo altamente restrito (algo parecido com os fãs de Star Trek). Não vendem seu Amor verbalizado nem pelas causas mais nobres.

- E aí, já transou com ele?
- Não. Tá doida? Ele nem disse que me ama ainda!

Observando tudo isso podemos projetar o Amor como a mercadoria do futuro. Quer premiar? Dê Amor. Não sabe onde investir? Ações de Amor. Chega sua fatura do cartão de crédito. Você olha seu programa de milhagem: “Parabéns, até esta data você acumulou 50.000 milhas, entre em contato com nosso SAC e efetue a troca por uma TV de 29 polegadas, um sistema de Home Theather ou uma declaração de Amor de um de nossos atendentes”. Vão sobrar TVs e Homes.

O Amor estará finalmente na casa de todos que se dispuserem a pagar o preço. Logo, o ser humano não vai ter mais o que buscar, e sem propósito tende a parar, estagnar. O Amor estará banalizado.

- Eu te amo.
- Grande merda.

A esperança vai então residir naquele pequeno grupo restante, a ordem do legítimo amor, ou algo do tipo, com aqueles poemas estranhos e mania de pedir licença podem, quem sabe, devolver nossa esperança.