sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ponto de vista

- Nhan han humpf er…Alô.
- Rô?
- Nham han pufpuf er er…Quem tá falando?
- É a Su, Rô. Você está dormindo?
- Nham puf… Agora não mais. Que Su?
- Como assim que Su? Sou eu. Suzana. Sua ex-namorada..
- Ahhhhh Su. Porque não disse que era você? Me desculpa gatinha. Como é que você está?
- Tô ótima e você?
- Tranquilo. Pô, engraçado, estava pensando em você esses dias. Em nós dois.
- Ah é? Que coisa. Então, liguei só pra dar um “oi”. Manter contato.
- Lógico. Legal você ter ligado. Uma surpresa. Depois de tudo….
- É na época foi bem difícil..
- Terminamos de um jeito bem conturbado.
- É bem verdade Rô, mas desencana, não pra liguei pra falar sobre isso. O que passou, passou. Creio que somos adultos o suficiente para separarmos bem as coisas e nos relacionarmos sem problema.
- Claro, com certeza.
- Mas me diga, como estão as coisas?
- Ah tudo jóia. O de sempre né. “Facul”, balada, cineminha. E você?
- Eu também. Só na balada que estou em falta. Agora namorando né…
- Ah! Tá namorando?
- Tô sim, já faz 9 meses, super felizes. Já fazemos planos até de casamento. E você?
- O que tem eu?
- Tá namorando?
- Ah sim. Mais ou menos. Mas acho que tô.
- Como assim “acho que tô”?
- Não. Quer dizer. Estou sim. Claro que estou. Ela é linda. 27 anos.
- Ah tá. Mas você tomou jeito né? Não é mais canalha como na minha época?
- Claro que não. Sou um novo homem. Outra mentalidade. Consigo ter amigas numa boa. Sem segundas intenções.
- Nossa Rô, que bom saber disso. Fico feliz.
- É, to feliz também. Aliás falando em amigas podíamos combinar de sair essa semana. Depois da “facul”. Aliás você estuda a noite ou pela manhã?
- Tô estudando a noite. Na mesma classe da Rutinha.
- Putz a Rutinha. Faz tempo hein. Aliás e o resto do pessoal? Tem visto?
- Só a Rutinha mesmo.
- Ah lógico, vocês são inseparáveis.
- É. Somos irmãzinhas praticamente. E você? Tem contato com o povo?
- Todo mundo na mesma Su. O Duda com a Raquel, brigando brigando mas sempre juntos. O João perdido como sempre, agora tá numa onda Hare Krishna. Ligo de vez em quando pra eles mas nada muda. Aliás, me diz uma coisa, seu telefone continua o mesmo?
- Nossa, o Duda ainda está com a Raquel??? Que legal, esses vão casar!
- É o que todos dizem. Mas é ruim do Duda casar. Aquilo é um traste.
- Verdade.
- Su, me desculpa, mas tenho que sair agora. Lembrei que tenho dentista. Depois nos falamos hein, temos que nos ver.
- Um beijo Rô.
- Beijo.

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- Alô?
- Fala Su. Tudo bem
- Oi Lili. Não sabe da última!
- CONTA, CONTA!!!
- Liguei pro Rô.
- NOSSA! Aquele cafajeste, te tratou tão mal e você ainda liga pra ele?
- Ah Lili, foi justamente por isso. Tenho que provar que estou totalmente recuperada.
- É verdade. Mas e aí? Como foi?
- Falei com ele numa boa, como uma pessoa civilizada.
- Jura???
- Juro amiga. Acho que agora coloquei um ponto final no assunto. Ele entendeu que podemos ser amigos numa boa já que não sinto mais nada por ele e nem ele por mim.
- Ai, que bom Su. Ainda bem que isso acabou de uma vez por todas.

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- Fala sua bicha!!!
- Faaaaaala Rodrigão como é que tá?
- Beleza. Você não sabe da última? Lembra daquela minha Ex, Suzana?
- Tô ligado.
- Vou comer de novo!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Mal entendido

Sentaram no primeiro banco que estava vazio na praça. Antes, obviamente, ele limpou o banco. Sentar em cima de folhas não é agradável, a conversa, certamente, não seria também. Haviam se separado há mais de três anos. Ela estava de volta à negócios e ele nunca havia se mudado da cidade natal. A praça era a mesma onde eles tiveram sua primeira briga, eram adolescentes na época.

- Fiquei contente que você me ligou.
- Eu estava de passagem, tinha que te ligar, já faz três anos afinal.
- É muito tempo mesmo. Inacreditável como você não mudou nada.
- Não precisa me bajular, a idade já me é companheira.
- E o que isso quer dizer?
- Estou velha.
- Bobagem. Você ainda está bem gostosa.
- Eu devia ficar ofendida com isso, mas não consigo.
- Eu sei, é o meu sorriso. Irresistível.
- Você continua um palhaço.

Imóveis por alguns segundos, observaram o carrinho de cachorro quente. Provavelmente lembrando das inúmeras vezes, que haviam matado aula para comer e depois namorar na praça. Se entreolharam.

- O que será que deu errado?
- Conosco?
- Não, com o "Cadeirão". Era um bar tão bom!
- Achei que você fosse querer conversar sobre a gente.
- Não há mais o que conversar. Você foi embora, em busca dos seus sonhos, eu não fazia parte deles. Eu fiquei e fui em busca dos meus.
- Você sabe que não foi bem assim que aconteceu. Era uma oportunidade de ouro.
- Eu sei muito bem o que aconteceu, e realmente não precisamos falar sobre isso.

Ela estava nervosa, mas não demonstrava, já ele, não conseguia disfarçar o nervosismo. Ele sempre coçava o joelho quando estava nervoso. Ela pegou na sua mão.

- Não precisa ficar assim. Podemos apenas dar uma volta pela cidade.
- Andando?
- É melhor. Você pode andar comigo até a casa da Patrícia, ela viajou e me deixou ficar lá até quinta-feira.
- Tudo bem. Acho que uma caminhada vai fazer bem.

Andaram por trinta minutos, relembrando cada passagem de suas vidas naquelas ruas praticamente intocadas. Os passeios de bicicleta, as brincadeiras de rua, a turma da rua de cima e a turma da rua de baixo, os cachorros bravos, os velhos mau humorados e até a velha fonte da Dona Iracema.

Quando chegaram na porta da casa da Patrícia, ele pegou em suas duas mãos e se aproximou.

- Achei que nunca mais fosse beijar essa boca.
- Mas quem disse que você vai?
- Eu achei que isso tudo era...
- O que?
- Bem, você me ligou, me convidou para ir na praça.
- Era o lugar mais conveniente.
- E a conversa sobre nós dois?
- Olha, não queria estender essa conversa, mas você entendeu errado.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Nana Dona Dirce

Grande parte de nós cria seus rituais...

São coisinhas que podem ou não ter função específica, razão de ser, motivo pra existir. Criamos de forma consciente ou não, meios de conseguir chegar a algum resultado, e quando o resultado é bom e satisfatório, aí é que pode nascer um ritual.

Claro que há casos em que mais do que um rito ligado a uma superstição, há também o aspecto da necessidade de uma rotina, de um método único pra se realizar tarefas complicadas (como escrever uma crônica), ou as mais simples.

Depende do grau do maniado.

Existem rituais pra se tomar banho, onde segue-se ou não uma coreografia que inicia desde a forma como se tira a roupa, a regulagem do chuveiro, a maneira de se entrar na água, e acompanha um método ritualístico pra se lavar cada parte do corpo em uma ordem lógica que preserve limpas as partes de cima pra finalizar nas partes mais baixas. Conforme o escorrer da água. Juro que existe isso.

E depois tem o ritual pra se secar após o banho, mas encontro paciência pra isso. Era só um exemplo mesmo.

O ritual pessoal é necessário, entendo.

Mas alguns beiram ao exagero, viram mania irretocável.

Sim, também eu tenho os meus. Um deles é a forma como corto minuciosamente as unhas. Um processo longo e demorado, um parto!

Mas eu sofro com essa mania, esse ritual de despedida e desprendimento de partes do meu corpo que precisam ir pra dar lugar ao novo (e mais limpo). A análise já me ajudou bastante, como podem ver.

Dia desses eu, embasbacado do início ao fim, atendi uma pessoa que em meio a conversa me descreveu seu tão particular processo ritualístico para dormir. Foi... Interessante.

Vou chamá-la de Dona Dirce para evitar que futuras zombarias lhe tirem o sono. Na verdade a Dona Dirce era um caso mais complicado, ela batizara uma parte de seu corpo, uma pinta na bunda (pra ser mais assertivo), e entendia que precisava "ninar" a Judite (a pinta batizada).

Ficou confuso?

Bom, o ritual era assim: Dona Dirce se colocava pra deitar de lado, e balançava o quadril e o resto do corpo se auto-ninando, entendendo que com isso faria a Judite (a pinta na bunda), dormir. E por conseqüência ela também embarcava no sono.

Não bastasse esse doce balanço, Dona Dirce também murmurava alguma música qualquer durante o processo.

Difícil acreditar? Acreditem, pois é a mais pura verdade.

Eu ali, que naquele momento tinha apenas comentado sobre uma matéria sobre os distúrbios do sono, ouvi boquiaberto o ritual da Dirce ninando a Judite. Só consegui encerrar a conversa depois de, não me agüentando, perguntar sobre o marido (da Dirce!):

- Mas, Dona Dirce e o seu marido? Vocês conseguem dormir juntos com essa movimentação toda na hora de dormir?

- Olha Seu Orlane, no começo ele ficava meio enjoado de tanto balanço... Mas depois se adaptou.

- Adaptou?

- Ele entrou no embalo. De duas uma, ou ele toma um Dramin antes de dormir, pra não enjoar, sabe?

- Ou?

- Ahhh... Ou ele dá uns tapas na Judite pra ela sossegar.

Não deixa de ser um ritual.

sábado, 3 de novembro de 2007

Brasil-sil-sil

Hoje estão todos felizes, alegres e contentes, batendo a mão no peito e bradando que tem muito orgulho de ser brasileiro. Afinal, a copa é nossa!

E o Brasil, pentacampeão, não poderia ficar mais tempo sem sediar uma copa. Seria um absurdo! Ainda bem que temos um presidente que foi competente o suficiente para trazer a copa para cá. E foi uma notícia tão boa que nem me lembro mais o que está acontecendo no governo.

E tem mais, agora vamos ser um país de primeiro mundo! Vamos mostrar para os gringos que Brasil é mais! Crimes, pobreza e corrupção é invenção da mídia.

Nossos estádios serão reformados, o que é fantástico. As obras serão hiperfaturadas, mas quem liga? O que importa é mostrar para os gringos. E novos estádios serão construídos, a um custo dezenas de vezes maior, mas isso não é problema. É só ver os Jogos Pan Americanos. A beleza das obras, tudo de primeiro mundo. Agora ninguém está usando, mas no Pan as câmeras mostraram para o mundo todo que aqui é primeiro mundo.

A copa vai trazer o futuro! A copa vai trazer o progresso! Os meios de transporte vão ser de primeiro mundo! Nossas ruas e avenidas não vão ficar devendo nada para a Alemanha.

É como o nosso presidente falou lá na cerimônia a na Suíça: o que vai empolgar a patuléia do mundo todo é o comportamento extraordinário do povo brasileiro.

Ah, sim, por que alguém aí duvida que o nosso comportamento não seja exemplar? É só olhar nas torcidas organizadas dos clubes brasileiros, na limpeza das nossas ruas, no trânsito, nas filas e nos transportes coletivos. Eu arrisco dizer até que o povo brasileiro é o mais comportado e educado do mundo!

E por falar na cerimônia, o ponto alto foi o discurso do maior escritor brasileiro de todos os tempos. Paulo Coelho foi mais do que gênio em sua comparação entre futebol e sexo! Só um cara como ele, um brasileiro, um orgulho para todos nós, para conseguir traduzir tão bem o que o futebol representa para nós.

E desta vez não será como a copa de 1950 não! Dessa vez não vai ter Ghiggia pra estragar a festa não! Pode escrever o que eu digo. Vai ser Brasil hexa no Brasil!!!

Corrupção é bobagem. Superfaturamento é bobagem. O que importa é que a copa é nossa e vamos deitar e rolar.

Brasil-sil-sil...