domingo, 30 de novembro de 2014

Detesto esse tal futebol gourmet

Gosto de arquibancadas divididas, por massas gigantescas se possível.
Detesto torcida única, um crime contra o futebol.
Gosto de times entrando em campo um de cada vez, para serem festejados ou vaiados.
Detesto equipes pisando juntas o gramado, ainda mais quando acompanhadas do pessoal da arbitragem.
Gosto de bandeiras, papel picado e bobinas desenrolando no ar.
Detesto torcidas que se comportam como platéias de teatro e se limitam a aplaudir.
Gosto de sinalizadores, não aquele naval, que mata, mas o inofensivo, de efeito meramente visual. E, admito, sinto saudades do espocar dos rojões.
Detesto bandeirinhas de plástico, em geral encomendadas pelo próprio clube ou seus patrocinadores, que coxinhas balançam abobadamente.
Gosto de ver grades e alambrados repletos de faixas. Trapos, como dizem os vizinhos de sudamerica. E grandes bandeiras agitadas até com bola rolando.
Detesto o aspecto asséptico das tais arenas esterilizadas com suas lanchonetes que servem capuccino e são planejadas apenas para esse tal torcedor-cliente.
Gosto de ver a casa lotada, o que só costuma ser possível quando os cartolas cobram pelos ingressos preços compatíveis com o poder de compra do torcedor.

Gosto do apoio incondicional, das vozes incessantes que vêm das arquibancadas e tomam a cancha. Da galera participando dos destinos da peleja.
Detesto animadores de torcida que determinam o que as pessoas devem gritar, cantar.
Gosto do futebol como ele é. Ou como era. Gosto do futebol como sempre foi.
Detesto esse tal futebol gourmet.