sábado, 27 de outubro de 2012

Rapidinha...

– Jô.
– Fala Deco.
– A gente precisa conversar.
– Tá, deixa só acabar esse bloco e a gente conversa.
– Jô… é sério.
– Eu sei – olha lá a Ritinha vai acabar com a madrasta da Cleide… olha lá.
– Você entende que eu quero conversar e você não quer a devida importância, né?
– Sei, sei, até parece que do dia pra noite ficou sentimental. Essa é a minha função – olha lá o tapa que ela deu! – quem fica emotivo nesse casal aqui sou eu! Pára com isso, Deco. Depois eu te deixo em paz pra você assistir o “raio” do jogo.
– Mas que fique registrado que eu tentei.
– Tá Deco, não atrapalha – ah lá o Jorge Vagner com a Betty! essa não presta mesmo…
– Jô… se a gente não conversar, como vai ser mais pra frente? Dá só um minutinho…
– Deco, no próximo bloco, pô! Óh o barulho, não dá pra ouvir nada.
– Jô… o gato subiu no telhado.
– Ah, que nada! eu dei motivo? você deu motivo? – mas que cafajeste esse Marcos Paulo – A gente tá super bem, não inventa Deco.
– Jô, eu tô tentando te falar faz um tempinho…
– Calma, calma – ah lá… que sem vergonha “essazinha”!
– Jô…
– Pô Deco, pára de falar. Eu fico falando quando você está assistindo jogo? Não! então pronto. Poxa, já falei que quando terminar esse bloco a gente conversa, sabe… fica aí falando sem parar, não dá nem pra ouvir direito… e esse monte de sirene aí fora, pô. Manda esses caras apitarem pra lá…

Os bombeiros não puderam fazer nada, já era tarde para o pobre gatinho.

sábado, 29 de setembro de 2012

Posso Entrar Na Sua Vida?

Marcelo não é um cara muito normal, mas também não chega a ser louco. Ele é do tipo de pessoa que funciona melhor à noite. Pra gente assim, não tem horário melhor do que a madrugada pra se comprar livros. Logo ao entrar na sua livraria 24 horas preferida (a única da cidade) ele se depara com uma mulher bem atraente. Não chega a ser uma Fernanda Lima, mas pelo menos é uma mulher de verdade, não uma brincadeira de mal gosto criada pelos meios de comunicação de massa para fazer os homens sofrerem. Depois de um bom tempo observando-a ele não se contem. Se aproxima lentamente dela e diz:

- Oi, tudo bom?
– Er … tudo …
– …

Marcelo nunca foi bom para fazer essas coisas. Pelo menos neste caso, ela se mostrava curiosa. Nem um pouco simpática, mas no mínimo, intrigada.

- Eu te conheço?
– Não. Mas eu queria te fazer uma pergunta …
– Uñ ? – (típica palavra de quem não quer dizer mais do que “Uñ”, se é que vocês me entendem).
– Posso entrar na sua vida?
– Hãn?! – (agora sim, uma expressão bem mais enfática).
– Po-posso entrar na sua vida?
– Como assim?

Um longo silêncio, seguido de um suspiro do nosso amigo Marcelo :

- É assim … Eu te vi logo que entrei aqui.
– Certo.
– Aí … você estava andando tranquilamente, enrolando a ponta do cabelo como quem enrola a ponta do cabelo com os dedos, bem tranqüila.
– Faz sentido …
– Magicamente, você parou … colocou a ponta do seu cabelo na boca, como quem coloca a ponta do cabelo … hmmm … na boca, e pegou um livro do P.G. Wodehouse …
– Obrigado, Jeev-
– Não, meu nome é Marcelo.
– O nome do livro era “Obrigado, Jeeves”!
– Ah sim … eu sei.

Ela pareceu não ter gostado muito da resposta:

- Grr … Bom, posso ir embora ou tem mais ?
– Você não me respondeu ainda …
– O quê ?
– Se eu posso entrar na sua vida.
– Como assim? Você chega aqui, fala que me viu andando e comendo meu próprio cabelo, como quem come o próprio cabelo (!!) e aí então faz uma pergunta absurda dessas! Qual é o ponto?!
– Bom … (longa pausa) … se essa pergunta é tão absurda assim, talvez seja melhor VOCÊ não entrar na MINHA vida. Muito prazer. Tchau!

Esta, sem dúvida, foi a frase dita por Marcelo da forma mais tranqüila por toda a conversa. Sem pressa, ele se virou, se afastou e começou a folhear as revistas de arquitetura , o que apenas fingia fazer anteriormente.

Alguns momentos depois a moça ainda intrigada, que agora disfarçava folhear revistas de Tunning, decidiu se aproximar e disse:

- Claudecir …

Ele, sem tirar os olhos sobre um artigo muito interessante sobre sofás “chaise-longs” retrucou :

- É Marcelo.
– Eu estou falando que o MEU nome é CLAUDECIR!
– HEIM?!
– Ah, parou de ler, né? Então … Marisa, meu nome é Marisa.
– Po-podia ter me pedido pra parar de ler … Estou em estado de choque, agora!
– (risos)
– Certo … vou tentar apagar a figura do transexual mais atraente que conheci nos últimos tempos e voltar a pensar em você apenas como uma mulher.
– Que bom!
– E então … Quer me falar algo, Marisa?
– Como assim ?
– Como assim o que ?
– Entrar na minha vida? O que você quis dizer com isso?
– O conceito do verbo “entrar” é relativamente compreensível, principalmente para pessoas com o QI mediano. Muitas vezes na Matemática temos dois grup-
– Opa, querido! Eu sei o que significa “entrar”.
– Viu?! Agora eu sei que você tem pelo menos o QI mediano da população. Parabéns!

Marisa fez aquela cara que aparentemente diz “bobinho!” mas que na verdade significa “você tá pensando que eu sou idiota, seu energúmeno!”, e depois perguntou:

- Sério! O que você queria quando me fez a pergunta?
– Por que vocês mulheres acham que as coisas significam mais do que realmente significam? “Que horas são?” não significa “Achei seu relógio interessante, mas essa aparência retrô da alça de vinil pode mostrar que inconscientemente sua infância foi marcada por um trauma de rejeição, personificado aqui, com uma das características mais marcantes do culpado pela sua rejeição, seu pai, reconhecido pela pontualidade.” : “Que horas são?” É apenas uma pergunta que tenta esclarecer a hora certa!

Sem se exaltar, mas no limite da provocação, em um tom em que se ambos estivessem na quinta-série a turminha gritaria “YEAAAAAAHHH!!!”, Marcelo respondeu, e continuou:

- Enfim, quis dizer exatamente o que te perguntei.
– Tá! Mas … Você não poderia ter me dito … Er …
– “Você vem sempre aqui?”
– Não … essa é muito batida, você não falaria isso …
– “Ei, Pequena. Posso te pagar um drink?”
– Ótima frase. Pena que 50 anos atrasada. Acho que não … sei lá! Você não poderia ter vindo com qualquer xavequinho minimamente aceitável?
– E o que esse xavequinho significaria “na misteriosa língua das mulheres”?
– “Oi, posso entrar em você?”

Só para esclarecer, amigo, quem disse essa frase foi ela. O papo está meio longo sempre é bom ajudá-lo com essas intervenções. Ele respondeu, um pouco desconcertado de início:

- C-Certo! Não que isso seja uma grande mentir-
– Ei, seu safado! – disse Marisa, dando aquele tapinha no ombro de Marcelo, daqueles que querem dizer “Preciso te recriminar perante a sociedade, mas você mandou bem nessa. Keep moving!”

- O fato é que antes de entrar em você – ao dizer isso, ele rapidamente protegeu o ombro – eu quero saber se você vale a pena. Ou seja : antes do ato físico, o mínimo de afinidade intelectual.
– Não seja cínico! Se eu te atacasse aqui e te puxasse pra transar no banheiro você iria sem pestanejar …
– Olha … num vou mentir pra senhor- outro tapa daqueles no ombro do nosso protagonista – mas, como você realmente me pareceu interessante, talvez algo além dessa divertida forma de entretenimento sexual pode ser experimentado.
– E tudo isso pelo jeito que eu coloquei o cabelo entre os lábios como qu-
– Quem coloca os cabelos entre os lábios! Isso!
– Só por isso?!
– Precisa mais do que isso?!
– Vocês homens são completamente loucos!
Marcelo fingindo uma conversa: – “Que horas são?” “Meia-noite e meia!”. Desculpa, nada de louco nessa conversa.
– O que fazemos então … ?
– Olha, o banheiro está aqui do lado … Andei reconsiderando minhas opiniões e como não quero parecer intransigente, acho, já que é sua vontade, que podemos trans-

Outro tapa, seguido de : – BESTA!

- São seus olhos …
– Vamos lá então … Como eu faço pra deixar você entrar na minha vida?
– Pode começar me dando seu telefone.
– Ok! O número é … – (para preservar a privacidade de nossa querida personagem, não transcreverei aqui o número, mas garanto, é fácil de se decorar).
– Muito bem! Está anotado. Tenho que ir agora, mas te ligo amanhã.
– Então tá.
– Ah, caso você não saiba: quando eu te ligar, você atende, ok? É assim que funciona.

Mais um tapa. Ele continua :

- Olha, acabaram de liberar o banheiro, tem certeza qu-
Desta vez ela só ameaçou o tapa. Marcelo, muito sério, fazia a pose em “T” do golpe final em Karate Kid.
– Vai embora logo, e vê se liga mesmo!
– Sim senhora!

E assim, começou a história do relacionamento entre os personagens desta crônica. Se deu certo ou não, nem eu sei ainda. Só posso dizer que mesmo sem que ambos soubessem, Marcelo já tinha entrado na vida de Marisa. E ninguém pode falar que ele não pediu.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O velho Buk

Lembro bem quando me caiu nas mãos o meu primeiro Bukowski.
Cartas na Rua.
Li aquilo e fiquei pensando: então alguém escreve assim! Alguém que faz a história escorrer página abaixo e faz com que ela penetre através dos poros dos dedos do leitor e logo a história já se lhe infiltra nas veias e lhe toma o corpo e a mente e o leitor é tomado, como se lhe atacasse a Bolha Assassina.
Ah, o Velho Buk não era como aqueles estilistas nacionais, chatos para parecer profundos.
Como há desses por aqui, Deus! No colégio, uma vez eles me vieram com O Tronco do Ipê.
Cara, foi uma dor ler O Tronco do Ipê.
Todas aquelas mocinhas que enrubesciam ao ver os rapagões cofiando os bigodes.
Passei a odiar personagens que cofiam.
Um personagem simplesmente não pode cofiar.
Sobre o que se trata O Tronco do Ipê? Quem é mesmo o maldito autor de O Tronco do Ipê? Não faço idéia.
Só sei que nunca mais quero ler O Tronco do Ipê, nem nada que seja remotamente parecido.
Mas o Velho Buk não tinha nada disso.
O Velho Buk escrevia sobre pessoas de verdade, que não falam por mesóclise.
Bem.
Tempos depois, alguém me disse, acho até que foi o meu amigo Sérgio Lüdtke: – Todas as pessoas precisam ler o John Fante! Uau! Era importante aquilo.
Fui ler o John Fante.
Pergunte ao Pó.
Mal abri o livro, e com quem deparo na apresentação? Ele: o Velho Buk.
E o Velho Buk dizia ali, sobre o John Fante, o que eu dizia sobre o Velho Buk: que John Fante escrevia com as entranhas.
Charles Bukowski confessou ter se apaixonado de tal forma pelo personagem de Fante, um candidato a escritor chamado Arturo Bandini, que, certo dia, ao discutir com uma de suas ex-mulheres, bradou: – Não me trate assim! Eu sou Arturo Bandini! Eu sou Arturo Bandini! Eu sou Arturo Bandini.
Gostaria de poder dizer isso.
Porque Arturo Bandini era um homem de verdade, que cedia aos seus desejos, sem ceder a sua integridade.
E é disso que o mundo precisa: de pessoas que saibam aproveitar a vida sem se aproveitar das outras pessoas.

sábado, 21 de julho de 2012

A Falácia do Solteiro

Poucas frases me provocam tanta vontade de rir como:
- Ah se seu tivesse solteiro! Essa loira ia ver só …

Desculpe amigo, ela não ia ver nada que já não estivesse vendo.

Fico impressionado como a maioria dos homens que namoram/casam/se enrolam/etc. e tal, por um tempo razoável, começam a se sentir como grandes pegadores reprimidos.

Só porque já estão há um tempo com o “burro amarrado na sombra”, sentem que o mundo se transformou num cardápio delicioso de mulheres ao seu dispor que, infelizmente, eles não podem apreciar pela sua condição de “commited” (como dizia o orkut).

Não, amigos indisponíveis! Elas não estão ao seu dispor. Se você se esforçar um pouco pra se lembrar, quando solteiro você passava tanta vontade ao sentar num bar no verão, num sábado a noite, como passa agora, ao tentar disfarçar da sua pequena o olhar praquela morena gostosa de vestidinho, que teima em passar na sua frente o tempo todo, SÓ pra te provocar (nada a ver com o fato dela ser a garçonete daquela área do bar, imagina…).

Ok, devo reconhecer que o parágrafo anterior não se aplica ao Ricardo Mansur, Rodrigo Santoro, George Clooney e mais 3 ou 4. Mas, excluindo esses caras, todos nós, homens desgraçadamente comuns, não fazemos porcaria nenhuma em 90% dessas situações. A única vantagem da solteirice, no caso, é poder olhar pra tal morena sem táticas canalhas de disfarce.

O problema é que nos outros 10% fazemos algo. E aí dependendo das condições normais de temperatura e pressão a bola entra. Gol!!

E são essas bolas criam a tal “Falácia do Solteiro”.

Realmente existem noites (e dias) na solteirice, que seriam dignas de serem contadas pelo Hugh Hefner. Todo homem solteiro tem seus momentos. O grande problema é se enganar sentenciando a coitada da namorada/esposa/rolo/etc. e tal, como a grande culpada pela privação desses momentos mágicos. Mentira. Calúnia!

A moça não tem nada com isso, amigo. Você não ia fazer nada com a garçonete. Eu garanto. Se o relacionamento está bom, dê valor àquela que está com a mão repousada na sua coxa, mesmo você olhando praquela mocréia com um vestido breeega, que você ganha mais.

E pra piorar, existe a fase 2 (e mais perigosa) dessa falácia : o fim de relacionamento.

Conheço muitos caras que depois de décadas pra conseguir sair de um relacionamento doentio, daqueles que só existiam de verdade no status do Facebook, começam a questionar a solteirice, reconsiderando voltar pro inferno que estavam. O motivo?

- Num tenho ninguém pra sair esse sábado! Se for pra ficar sozinho, volto pra Fulana (também conhecida como aquela que xinguei pelos últimos 9 meses da minha vida).

Então, animal! É assim que funciona. Lembra que você vivia reclamando dos sábados que tinha que sair com aqueles amigos idiotas da mala da sua namorada? Pois bem, na solteirice vão existir noites tão chatas como aquelas (e você aí reclamando, sendo que seu PS3 ainda está coberto de pó e já faz 2 semanas que você acabou o namoro!).

Enfim … não sou a favor da solteirice, nem do comprometimento. Apenas sou a favor das coisas feitas pelos motivos certos.

Se está com alguém e na média a relação está legal. Fique feliz! Isso é cada vez mais raro.

Se está solteiro, curta! E aproveita o lado bom disso sem medo, mesmo que a carência bata na porta de vez em quando.

A sabedoria está em se reconhecer que mesmo com os motivos certos (seja comprometido, seja solteiro) terão momentos que o outro lado vai parecer muito mais divertido. E não se pode culpar ninguém por isso. É assim que as coisas funcionam. Não se pode ter tudo.

domingo, 17 de junho de 2012

Salada de Frutas

Aquele parecia ser apenas mais um almoço comum. Eu estava na fila do buffet de um simpático restaurante por quilo próximo ao meu trabalho. Distraído, preocupado em nada além do que escolher a comida. Só isso.

Repentinamente algo me chamou a atenção para a pessoa que estava na minha frente (o buffet era daqueles que podem ser servidos pelos dois lados, ou seja, você observa quem está do outro lado como se fosse em um espelho).

Nada demais. Era só uma menina. Bela menina, por sinal. Acompanhada pela (suponho eu) irmã, e um carinhoso avô ou tio, que não tirava sua mão direita do seu ombro.

Por instantes olhei-a fixamente. Deveria ter uns 14, no máximo, 15 anos de idade. Corpo de mulher insinuado em uma criança. Inocente, apenas uma estudante escolhendo o que comer.

Logo voltei a me preocupar com meu almoço e esqueci a guria. Sentei e comecei a conversar com meus amigos enquanto comia.

Novamente vi minha atenção sendo chamada para a menina do buffet, agora umas 2 mesas na minha frente. Seu avô (ela havia o chamado assim) não comia. Apenas observava a neta com um carinho maior do que o comum. Bonito de se ver. Lindo, na verdade.

Fui me distanciando da conversa na mesa e voltei a olhar fixamente para a garota. Algo nela me intrigava profundamente. Talvez, fosse seu jeito de falar com a irmã. Ou sua atenção diferenciada ao segurar a taça em que comia a salada de frutas. Não sei.

Percebi que ela não parecia ter aquela preocupação exacerbada e precoce em se tornar mulher. Era uma menina. Bonita. E sabia disso. Mas de alguma forma, se mostrava isolada das preocupações mesquinhas que envolvem os adultos, hoje em dia.

De vez em quando eu tentava disfarçar minha consternação, esquivando meu olhar da sua irmã mais velha (acho eu …), que já sabia me intimidar com um simples olhar de mulher sugerido.

Mais uma vez olhei para a bela menina. E ela, sem nunca se preocupar com o meu olhar, continuava a comer a sua salada de frutas. Seus olhos eram negros. Sua íris era tão escura que se fundia com a pupila. Olhar parado. Forte.

Numa de suas últimas colheradas, uma das frutas despencou de sua colher e caiu na mesa. Ela não percebeu. Seu avô, rapidamente, limpou a mesa e a afagou como se dissesse: “Tudo bem, minha querida, não se preocupe”.

Ela sorriu ternamente e não olhou para ele. Nunca olhava … Ela era cega.

Naquele momento senti uma pontada dentro do peito … É claro que ela era cega! Como eu não tinha percebido isso antes?! Só alguém que não vê o mundo que estamos vivendo para conseguir comer uma salada de frutas com aquela dignidade.

Só uma menina que nunca vira um sorriso dissimulado de mulher, para agradecer seu avô de forma tão simples e franca. Um sorriso sincero como eu nunca tinha visto.

Um sorriso que me fez sentir vergonha do mundo que estamos. Talvez fosse melhor ela não ver o mundo em que estamos. Pelo menos grande parte desse mundo.

Ela era cega, mas naquele instante, tinha toda certeza que os verdadeiros deficientes do restaurante éramos nós. Cheios de imagens distorcidas da realidade.

Eu queria falar com ela. Queria talvez, ser presenteado por um sorriso daqueles. Ou no mínimo, ter certeza de que ela era real, como uma prova viva de que nem tudo está perdido.

Mas não fiz nada disso, é claro. Nós podemos ver, mas temos medo deixar que os outros nos vejam verdadeiramente. O que achariam de mim, se eu dirigisse qualquer ação para aquela bela guria?

Fui embora.

Triste por não poder agradecê-la. Mas feliz, ao menos, por ter visto uma mulher (ainda que insinuada), dona de um sorriso tão cristalino.

Talvez nem tudo ainda esteja perdido …

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Devagar, Divagar Ou De Vagar

Foi bom me avisar
Que a ponte estava livre
Mas não era fácil atravessar
E lá foi bom me despistar
Mas seu mapa era tão lindo
Que eu não consegui me desgrudar (me desgrudar)

E se ainda não cheguei
É porque gosto de parar
Em cada esquina devagar
Pelo caminho que me leva
Até você me encontrar

A um passo de acertar
O tempo das sementes
Que já começaram a brotar
Então vá, vá colher e abraçar
Que as flores estão vivas
Perfumando a casa em que vamos morar (vamos morar)


E se ainda não cheguei
É porque gosto de parar
Em cada esquina devagar
Pelo caminho que me leva
Até você me encontrar

Me espere pro jantar
Tô indo com amigos
Por quem acabei de me apaixonar
Me dá, vontade que me dá
Saudade que só passa
Tendo eu e você no mesmo lugar (no mesmo lugar)


E se ainda não cheguei
É porque gosto de parar
Em cada esquina devagar
Pelo caminho que me leva
Até você me encontrar

Gosto de parar
Em cada esquina devagar
Pelo caminho que me leva
Até você me encontrar (devagar)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um novo Homem

Homem. Ser forte. Duro, Insensível. Nunca derrama uma lágrima. Homem afinal. Arruma a torneira, troca o pneu. Homem. Forte. Insensível.

Bela descrição para tempos atrás. Hoje o homem evoluiu. Sente, ama, chora. E que evolução podemos dizer. Afinal negar instintos é um atraso incalculável. “Oh yes i was a great pretender!”. Mas não finjo mais.

O novo homem gosta de falar que ama, não deixa de assumir quando está com medo e amigo-irmão merece beijo no rosto. Lógico que sem boiolice. “Sô macho pô”.

Isso é tanto verdade que os papos nas mesas de bar andam mudando. Os homens não procuram mais a maior quantidade e sim qualidade. Frases como “Vamo catá as piriguete!!!” estão dando lugar a “Preciso arrumar uma mulher direita”.

O espírito de coletividade continua como sempre mas foi desviado para novos usos. Em vez de ” Vou agitar aquela perva pra você” ouve-se “Cara, eu não vou deixar você cair no mundo da putaria de novo.”

Existem novos homens compromissados também. Hoje em vez de aproveitar qualquer brecha pra sair escondido, faz questão de levar a cônjuge ou ao menos avisar onde, quando e com quem vai. Não por controle e sim por respeito. O novo homem compromissado já deixa a mulher sentindo saudade. Ele aprendeu a valorizar pois sabe que a demanda está altíssima mas a oferta mínima.

Por tudo isso, mulheres deliciem-se, pois cada vez mais encontramos homens que ligam pra dizer que estão com saudade, correm de mulheres prosmícuas e só esperam por você pra dizer: “Eu te amo”. Mas preparem-se, pois se um dia você estiver num sítio, ouvir um barulho e pedir pra ele ver o que é não estranhem se ele estiver embaixo da cama.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Sandy, UFC e um Fantástico Mundo no Domingo a Noite

Domingão.

Eu, no comando, trocando de canais.

Aí, de repente, o extraordinário.

A frágil Sandy no meio dos brutamontes do UFC.

Não é Fantástico?

Um deles, com seus braços de lenhador, sua cara de torcedor dos Gaviões da Fiel e suas tatuagens horrendas (como são feias essas tatuagens que cobrem um braço inteiro), confessava ser uma manteiga.

Ficou com os olhos cheios de lágrimas.

Não é mais do que Fantástico?

É.

Aí a doce Sandy visitava a cozinha dos rapazes.

Uma baderna.

Então a delicada moça ia para o quarto com eles.

Quer dizer, ia ao quarto deles.

Então, mais do que nunca, o inusitado.

Eles mostraram para ela as suas cuequinhas.

Cuequinhas coloridas.

Cuequinhas de super-herói.

Que fofos!

Sem dúvida, o UFC é inofensivo.

Um joguinho de bons meninos de cuequinha de gibi.

Dormi confortado.

Um outro mundo é possível.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Como encarar a dor?

Estava eu navegando pela internet, quando me deparei com um post sobre dor. Mais especificamente sobre um estudo que indica que olhar para a fonte da dor pode reduzir a sensação dela.

O estudo trata obviamente de dores físicas, mas a primeira coisa que pensei foi: "E pra dor psicológica?".

Bem, ainda que seja muito bonito falar que devemos encarar a dor, reconhecer e enfrentar seja lá o que/quem esteja causando, não consigo acreditar que seja verdadeiramente a melhor opção. Ao menos não sempre.

Acredito sim que problemas devem ser encarados, sempre, e qualquer que seja. Mas problemas são diferentes de dores. Afinal, se você quebrou um braço (problema), mesmo o engessando (solução) não se livra da dor (errr...dor). A dor é consequência de um problema que é a causa.

Eu sou um tanto masoquista. Quando estou com torcicolo fico forçando o pescoço no sentido em que está o problema. Não sei porque, acho que vai ajudar. Então me exponho muitas vezes a dor achando que um tratamento de choque pode resolver seja lá o que for. Ou resolve ou me mata logo de uma vez.

Não funciona. Certos problemas se alimentam de atenção. Com atenção ganham relevância e com relevância já viu né? Assim, entendo que certas dores devem ser enterradas, sepultadas e se posssível, esquartejadas para que fique impossível de ser rastreada. Se precisar tomar analgésico, anestésico, seja o que for, que seja. O que importa é deixar essa dor escondida, sufocada, pra que aos poucos morra sem ar, asfixiada pela falta de atenção.

A pesquisa indica que em vez de virar o rosto ao sentir dor, é melhor encará-la. Tudo bem, a próxima vez que bater meu dedinho contra uma quina farei isso, mas quando derem com uma marreta no meu coração vou fingir que não é comigo.

PS: Happy Valentine's Day nessa segunda! Rs...