sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Caindo de maduro

Se tem uma pergunta que me faço constantemente é: “O que é amadurecer?”. Não é nem questão de curiosidade, é para uso próprio, senão, como farei para saber se eu estou amadurecendo.

Depois que me livrei do peso de achar que amadurecer era se iludir com estabilidade, se vestir com roupas desconfortáveis e basicamente fazer todo o resto que esperam que você faça, fiquei meio perdido.

Eu poderia aceitar que sim, aos 30 anos eu já deveria estar casado, ter filhos, um excelente emprego(pois bom já tenho), só me embriagar em churrascos de amigos próximos e ter a certeza que levaria uma bronca da esposa quando chegasse em casa. Não seria confortável, mas seria mais...simples.

Seguindo o caminho dos “rebeldes”, em que amadurecer é uma questão bem mais complexa do que contas e protocolos sociais, fico bem perdido sobre o que deveria estar fazendo o homem maduro. Deveria parar de gastar o dinheiro que não tem em viagens e brinquedos? Deveria se preocupar mais com o futuro? Deveria ter um plano de previdência privada?

Acho que não. Acho que tais questões tem mais a ver com a personalidade de cada um e de como estes obtém paz de espírito no presente. Amadurecer deve estar mais no fundo. Deve ser mais pessoal.

Daí eu penso que a cada dia que passa me sinto mais sozinho. Não solitário, sozinho. Não porque me abandonaram, mas porque eu percebi isso, antes que uns, depois de outros.

Não importa quantos amigos você tenha, se é casado ou solteiro, se sua família é unida ou não. Em nossas análises, decisões, perguntas, sempre estamos sozinhos. Não dá pra trazer alguém para dentro de nossas cabeças. Não dá para fazê-los sentir o que sentimos quando encaramos cada opção. Não dá para imprimir em seus dnas, nossas dificuldades físicas, muito menos compartilhar nosso repertório de experiências.

Felizes ou tristes, estamos sozinhos, e o que entendemos como companhia são as projeções de todos que nos cercam. As outras pessoas não estão juntas de nós, e sim o que esperamos e enxergamos delas. Que sim, podem ser impressões corretas, mas sejamos realistas, quanto de você mesmo é mostrado pro mundo? Quanto do que te define está trancafiado e não é compartilhado nem mesmo com seu consciente?

Talvez amadurecer esteja relacionado com a essa epifania. Com essa lucidez que transforma completamente nossa percepção de mundo. Mexe com nossa tolerância, empatia e expectativas para com o mundo, e esse povo todo que está em cima dele.

Quem sabe amadurecer seja entender esse mundo, aceitá-lo e não enlouquecer. Não entrar em profunda melancolia causada pelo que nos prometeram por anos e anos. Pela clara realização de que não existe mundo feliz, família feliz ou coletivo algum feliz. Existe indivíduo, feliz, triste ou qualquer outro estado de espírito. Este indivíduo pode ter a sorte de sincronizar sua felicidade com a dos outros, ou pode simplesmente não dar importância. Pode entender que o mundo não tem que ficar excitado porque ele está feliz, nem compreensivo porque ele está triste.

Hoje, esse indivíduo aqui do outro lado da tela está apreensivo, amedrontado, desamparado. Mas eu entendo que o mundo não. Eu entendo que meus amigos estão cada um em seu estado, e eles não são menos amigos meus por isso. Não digo que não doa, não digo que não queria que o mundo parasse para olhar pra mim, que todos parassem de rir enquanto eu choro. É falta de respeito. Assumo, pois já desisti de mentir para mim mesmo. Mas fazer o que? Não posso mais fazer como antigamente e espernar. Eu amadureci, né?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

10 coisas que um Homem pode aprender com os Bebês

• Não seguro o choro.

Você conseguiu a sua primeira refeição chorando, mais tarde o seu primeiro brinquedo e algumas pessoas até o seu primeiro carro. Não tenha vergonha de chorar, não faça manha, só não tenha medo de se expor.

• Faça apenas o que você sabe fazer bem.

O bebê sabe fazer necessidades, chorar e mamar. Ele não sai por ai tentando dirigir um trator. Ele não da um passo maior que a perna, ele vai com calma aprendendo uma coisa de cada vez. Pense nos seus projetos que deram errado, quantos realmente nunca iriam dar certo e quantos foram executados antes da hora?

• Não tenha medo de pedir ajuda.

Quando a coisa apertar “corra pra mamãe” sem vergonha nenhuma. Corra pra namorada, esposa, companheira, etc. Peça ajuda por que sozinho não conseguimos nada.

• Observe mais e fale menos.

Nunca subestime o poder da observação. Se as mulheres falam mais é por que têm mais coisas (e muito mais interessantes) à dizer. Preste atenção pode ter certeza que sua taxa de sucesso ao tentar conquista-las irá subir exponencialmente.



• Sorria mais vezes ao dia.

Realmente um sorriso te leva longe. Sorria por motivos mais simples, não seja tão exigente, as felicidade esta nas pequenas coisas.

• Ame sua família.

Com o tempo a tendência é nos distanciarmos de quem nos criou. Esta certo que crescemos e precisamos ter nossas próprias vidas, mas faça de um costume um almoço ou jantar uma vez por semana, você nunca sabe por quanto tempo os terá na sua vida.

• Coma direito.

Tudo bem o bebê não tem opção então é muito mais fácil. Mas tente comer coisas mais saudáveis. Não abra mão do junk food se ela te faz feliz, mas não esqueça que você vai envelhecer e vai precisar de todas as vitaminas que hoje a falta passa despercebida.

• Esteja cheiroso o tempo inteiro.

O perfume marca um momento, você tem que ter certeza que irão lembrar de você como uma pessoa cheirosa. Você pode falar que as vezes é impossível estar com cheiro de banho, por exemplo no fim da balada. Isso não é desculpa. Não economize na hora de comprar desodorante, compre um que fique até o outro dia de manhã, lave o rosto toda vez que for ao banheiro para evitar o cheiro de suor e deixe sempre um perfume no porta luvas do carro.

• Durma o quanto puder.

Balada atrás de balada + acordar cedo pra trabalhar vai ter deixar acabado antes dos 40. Valorize mais suas horas de sono e escolha com mais discernimento quais baladas valem a pena você ir.

• Não tenha medo de crescer.

Não pense na passagem de anos como envelhecimento. Pense em amadurecimento.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ela foi experimentar um biquíni

Ela disse que ia só experimentar um biquíni, bem ligeirinho, e entrou na loja. Fiquei na porta, esperando. O que mais poderia fazer, senão ficar na porta, esperando? Suspirei. Olhei para a calçada do outro lado da rua, para me distrair. Um cachorro preto, desses vira-latas, de tamanho médio, dormia enrodilhado em frente a uma padaria fechada. Não havia nada aberto àquela hora, só a loja de biquínis. Voltei-me novamente para dentro da loja.

As atendentes, umas quatro ou cinco, me olhavam lá do fundo. O que estariam pensando? "Aí está mais um babaca na porta, esperando a namorada escolher biquíni". Acho que riam de mim. Só podiam estar rindo. Também, o cara fica mesmo com jeito de abobado esperando alguém numa porta de loja. Tinha apoiado o peso do corpo no pé direito; troquei para o esquerdo. O cachorro preto do outro lado da rua acordou, piscou uma ou duas vezes, mas não fez menção de se levantar.

A namorada havia sumido. Devia estar no provador. Quanto tempo uma mulher leva para experimentar um ou dois biquínis? Um biquíni é tão pequeno… Tirar os chinelos é rápido, zupt, zupt, dois segundos. As calças? Basta baixar o zíper, abrir um botão, arriar uma perna, depois outra. Digamos, cinco segundos. Mais a blusa, puxada pela cabeça, acomodada com critério no gancho da parede, outros cinco segundos. Total: 17 segundos.

Mas deixemos por 20. Trinta, até. Outros 30 para experimentar um biquíni, 30 se mirando no espelho, mais 30 para outro biquíni e 30 se admirando de novo. Operação completa, contando que ela precisa vestir as calças e a blusa de novo, uns quatro minutos. Arredondando, cinco. É bastante, cinco. Tudo bem, as mulheres são demoradas mesmo, cinco é razoável.

Mas já se haviam passado cinco minutos, quem sabe oito ou nove, o cachorro se erguera preguiçosamente e farejava o ar sem grande interesse. Juntei as mãos às costas num gesto que, lembro, meu avô repetia muito. Depois cruzei os braços diante do peito. Levei as mãos à cintura. Cocei a cabeça. Suspirei outra vez.

Ouvi risadas femininas. Ah, mas aquelas gurias da loja estavam tirando o maior sarro de mim, isso era certo. Muito engraçado, de fato, um imbecil parado na frente de uma loja, sem fazer nada, só observando um cachorro preto na calçada. Aliás, onde é que estava o maldito cachorro preto? Como conseguira sumir tão rapidamente? Bom, talvez não tivesse sido tão rápido — eu devia estar há uns 20 minutos ali. Não queria mais olhar lá para dentro, para aquelas atendentes debochadas, e agora o cachorro se fora.
Oh, Cristo.

Ah, salvação: uma mosca acabara de pousar na vidraça da vitrine. Uma mosca gorda, dessas de verão, lerdas. São alvos fáceis, essas moscas obesas de verão, ainda mais se pousam em vidraças. Por que as moscas engordam no verão? Nós humanos engordamos no inverno. Feijoada e tal. Tive ganas de esmagá-la, mas não tinha nada à mão, um jornal, nada.

Um jornal viria a calhar, mesmo de anteontem. Para ler algo. Até a lista telefônica seria bem-vinda naquele momento de tédio absoluto, de minutos pastosos e angustiantes, como se estivesse afundando na areia movediça. Deixei a mosca ali, passeando pelo vidro. A namorada não saía do provador. Quanto tempo? Trinta e cinco minutos? Quarenta? Não era possível que demorasse tanto assim para experimentar um biquinizinho minúsculo.

Foi me dando uma irritação. Uma irritação, uma irritação, uma irritação.

Uma irritação.

Li em algum lugar que, se você está sozinho e se aborrece, então você não é boa companhia nem para você mesmo. Provavelmente sou uma péssima companhia, porque estava mortalmente chateado de estar comigo mesmo. Como eu estava me chateando a mim próprio, Jesus. Por que eu tinha de estar naquele lugar, onde o tempo não passava, onde nada acontecia, onde tudo parou? Quanto tempo fiquei ali? Pareceram horas.

Quando ela finalmente surgiu, suspirei de alívio. Era como se eu estivesse saindo do presídio. Mas, para minha surpresa, ela veio de mãos vazias.

— E o biquíni? — perguntei, aflito.

E ela, indo-se da loja:

— Não gostei de nada. Vou procurar outra loja, para ver se encontro algo melhor.

sábado, 24 de setembro de 2011

O marido perfeito

Norton era o marido perfeito. Passava o dia cobrindo a mulher Silvia de atenções. Comprava-lhe Sonhos de Valsa. Massageava-lhe os pés com Creme Nívea. Até colou aquele decalco no vidro do carro: “ Eu amo a minha esposa”.

Norton era também o colorado perfeito. Não perdia um jogo do Inter. Era sócio. Só usava cueca vermelha.

Havia apenas um problema que lhe perturbava a tranquilidade, e esse problema tinha pernas longas e macias, cabelos da cor da laranja do céu e pele levemente dourada pelo sol de Santa Catarina.

Clarissa. Era sua colega de escritório e, por algum motivo, passava o dia a tentá-lo. Fazia insinuações, enviava-lhe sorrisos de malícia, roçava-se nele quando passava por sua mesa e, ao cumprimentá-lo, pespegava-lhe um beijo na comissura dos lábios.

Norton ficava angustiado. Chegava a sonhar com ela. Mas não cogitava de trair sua esposa. Até porque as insinuações de Clarissa não passavam disso: insinuações. Eram só olhares oblíquos, sorrisos de lado, brincadeirinhas picantes. Norton jamais teria a ousadia de assediá-la.

Até o dia em que ela decidiu ser explícita. Estava mais linda do que nunca. Vestia jeans tão apertados que Norton deviam ter sido costurados em volta dela. E uma mini blusa que lhe deixava três centímetros de barriga de fora. Norton olhava para aquela faixa de barriga e sentia uma dor no peito. Ela se aproximava e com ela vinha um cheiro de melão maduro que fazia Norton ter vontade de chorar e chamar pela mãe. Ele até gemia:

– Mãe…

Para afugentar maus pensamentos, concentrava-se em Silvia, sua esposinha. Era como a chamava: “ minha esposinha”. Mas naquele dia não adiantou. Porque, naquele dia, Clarissa se aproximou da mesa dele, agachou-se ao seu lado e sussurrou:

– Quer jantar lá em casa na quarta?

Norton começou a tremer. O ar se lhe sumiu dos pulmões. Gaguejou:

– J… j… j… j…

Queria dizer jantar. Não conseguiu. Ela sorriu. Debruçou-se um pouco mais. Ele sentiu o cheiro quente dela. Lágrimas lhe vieram aos olhos.

– Te espero quarta – ciciou ela, e lhe deu uma mordiscada na orelha. Por Deus! Uma mordiscada!

Norton tremia. Clarissa passou o resto do dia olhando para ele e sorrindo. A cada sorriso, os dedos dos pés de Norton se encolhiam. Ele repetia, para si mesmo:

– Ai, mãe… ai, mãe…

Quando chegou em casa, só pensava no convite: quarta, jantar na casa dela… Foi aí que se flagrou: quarta era o dia do jogo do Inter! Puta que pariu, como poderia aceitar um convite daqueles para o dia do jogo do Inter??? Ainda mais que era a decisão da Libertadores! Quer dizer: mais um motivo para não trair sua esposinha. Isso. Decidido. Não trairia a esposinha.

Mesmo tendo tomado a resolução, Norton sonhou a noite inteira com Clarissa nua. Totalmente nua. Foi trabalhar resolvido a ignorá-la. Mas ela… ela… ela veio de minissaia! À vista daquelas pernas sem fim, Norton balbuciou, com uma voz que não parecia ser a dele:

– É de verdade? Aquele convite?

Ela, dengosa, chegando perto, muito perto, disse, apenas:

– Quarta-feira…

Ele miou:

– O Inter joga na quarta-feira.

– Quarta-feira…

Norton correu para o banheiro. Trancou-se lá dentro. Lavou o rosto. E pensou em sua esposinha.

– Ai, esposinha – gemeu. – Ai…

Norton passou mal durante os dias subsequentes. Não conseguia dormir. Nem decidir o que fazer.

Ele, conhecido na cidade como o marido perfeito, o colorado perfeito, ele que se orgulhava de seu matrimônio e de seu coloradismo, ele agora, por uma noite de prazer, sentia abalarem-se suas mais caras convicções.

Então, a quarta-feira chegou. Clarissa, mais linda do que as Cataratas do Iguaçu, dizia:

– Marido perfeito, colorado perfeito: é hoje.

À noite, Norton saiu de casa dizendo que ia ao jogo. De fato, sua intenção era essa. Porém, quando deu por si, estava em frente à casa dela. Pensou naquelas pernas. Em tocá-las. Em lambê-las. E salivou como um lobo.

Raciocinou: vai ser só hoje, só um dia e nunca mais! Vou continuar sendo o marido perfeito, o colorado perfeito, vou, vou!

Saiu correndo do carro. Nem fechou a porta. Subiu as escadas do edifício de dois em dois degraus.

A excitação tomava conta de seu corpo, o sangue latejava em suas frontes. Parou diante da porta do apartamento. Respirou fundo. Acionou a campainha. Norton ouviu o som de passos. Viu que alguém espiava pelo olho mágico. Pensou: será que ela está de baby-doll? A porta se abriu. Vestia abrigo. Usava rabo-de-cavalo. Norton piscou, um tantinho decepcionado. Ela olhou para ele, muito séria.

– Entra – disse, e se foi para dentro do apartamento.

Norton vacilou. Entrou. As horas seguintes foram as mais constrangedoras da sua vida. Clarissa lhe serviu uma pizza vulgar e guaraná diet. Mal falou durante o arremedo de jantar. Ele não conseguiu sequer aproximar-se dela. Era como se entre eles houvesse dois volantes e três zagueiros. Pior: Norton experimentou não sabia qual era o resultado do jogo. Apenas ouvia foguetes espocando. Seriam colorados? Ou, glup, gremistas? Não teve coragem de pedir para que ela ligasse o rádio ou a TV. Percebeu que nada ia acontecer. Disse que ia embora. Ela:

– Tá.

Norton foi se dirigindo para a porta. Ela o acompanhou, impaciente. Ele já ia saindo, mas resolveu descobrir o que, afinal, tinha acontecido naquele apartamento. Perguntou. E Clarissa, como se estivesse muito cansada:

– Francamente, estou decepcionada.

E ele, aflito:

– M-mas p-por quê???

Ela, irritada:

– Porque pensei que, enfim, tinha encontrado o marido perfeito, o colorado perfeito!

E bateu a porta, deixando Norton ali parado, querendo morrer.

sábado, 3 de setembro de 2011

Tudo

Natan era o típico canastrão. Aproximava-se das mulheres sempre ronronando, sempre com um sorriso enviesado, sempre com uma sobrancelha levantada. Fazia algum sucesso porque era meia-esquerda (todos sabem que os meias-esquerdas fazem sucesso com as mulheres). E se gabava disso. Vivia falando de suas conquistas, dizendo que era gostoso.

– Sou totoso… – se vangloriava.

Tríssia o odiava.

Tríssia era uma mulher sofisticada. A psicóloga do clube. Alta, morena clara, ela não andava; deslizava pelo mundo a um palmo do chão. Jamais levantava a voz, jamais fazia um gesto brusco, jamais se alterava. Era uma rainha. Por isso detestava aquele falastrão.
Natan sentia a repulsa de Tríssia e se mantinha à distância. Até porque Tríssia não dava confiança a homem nenhum. Nenhum! Tríssia não precisava de homens. Tríssia era soberana.
Mas um dia ela foi ao clube de minissaia.

Tríssia jamais usava minissaia no trabalho, mas naquele dia fazia calor, ela se sentia bem, sentia-se sensual e
bela e algo ousada. Pulou dentro de uma minissaia negra como seus cabelos e foi, ondulando de cima de suas pernas compridas e apessegadas.

Natan viu. Foi como se tivesse engolido um paralelepípedo. Ficou entre angustiado e emocionado. Tomou uma decisão. Pela primeira vez, entrou no gabinete de Tríssia. Abriu a porta num repelão. Ela estava parada ao lado de um armário. Levou um susto.

– O que foi? – espantou-se ela, levando a mão ao peito.

Natan se aproximou gingando. Estava sério como Tríssia jamais vira. Olhava-a nos olhos. Ela recuou. Bateu com as costas no armário.

– Que foi? – repetiu, cada vez mais assustada.

Ele chegou bem perto. Parou a centímetros do rosto dela. Olhou-a de baixo para cima, olhou-a bem, olhou-a toda. Respirou fundo, como se sorvesse seu cheiro. E disse, enfim, num gemido rouco:

– Vou fazer… “tudo”… contigo.

Frisou aquele “tudo”. Aquele tudo explodiu na boca de Natan e reboou no ouvido de Tríssia. Ela arregalou os olhos. Sua surpresa foi tamanha que não conseguiu sequer reagir. Nem teve tempo: Natan já havia lhe dado as costas e saíra para o treino.

Só depois de passado o assombro é que a indignação tomou conta de Tríssia. Mas aquele tipinho era mesmo um abusado, um convencido, um desavergonhado. O que ele estava pensando?

O incidente abalou a manhã de Tríssia. Ela marchava de um lado para outro do gabinete, fula. Ao meio-dia, foi almoçar com Lívia, a secretária do Departamento de Futebol. Desabafou:

– Tu acreditas que o Natan entrou no meu gabinete e disse que ia fazer tudo comigo?

Lívia parou de comer:

– Ele disse? Tudo? Disse mesmo?
– Disse. Bem assim: “Tudo”.
– Aiai…

Tríssia arregalou os olhos:

– Que quer dizer esse suspiro?
– Aiai…
– Lívia! Tu e aquele canalha? Não acredito!
– Tudo… Aiai… Tudo…
– Lívia!

Mas Lívia estava fora do ar, e fora do ar ficou até o final do almoço. Tríssia voltou para o trabalho intrigada. Quando passava pelo pátio, Natan passou por ela. Ciciou, mais com os lábios do que com a voz, a cara de cafajeste reluzindo de lascívia:

– Tudo…

E se foi para o campo outra vez. Tríssia estava irritada com aquela situação. Entrou no gabinete e encontrou Luciana, a mulher do presidente do clube.

– Que aconteceu? – perguntou Luciana. – Tu pareces braba.
– E estou! Aquele Natan! Aquele ridículo!
– Que é que tem?
– Deu para dizer que vai fazer tudo comigo!

Luciana deu um gritinho. E a agarrou pelos ombros:

– Não! Ele disse tudo?
– Isso: tudo – Tríssia estava perplexa.

Que reação era aquela da mulher do presidente?

– Meu Deus! Tu és uma mulher de sorte.
– Lu!

Lu não respondeu. Saiu do gabinete, afogueada, repetindo: mulher de sorte, mulher de sorte, tudo, tudo…

Tríssia passou o resto do dia perturbada. Foi para casa pensando naquilo: tudo, tudo. O que seria “tudo”? Por volta das dez da noite, a campainha soou. Ela foi atender. Abriu a porta, e lá estava ele. Natan. Olhava-a em silêncio. Uma sobrancelha erguida. O sorriso de lado. Por algum motivo, Tríssia não se surpreendeu. Apenas o puxou pela mão e o levou para o quarto. Ia resolver aquilo de vez. Vinte minutos depois, ele abotoava a camisa, preparando-se para ir embora. Tríssia, frustrada, reclamou:

– Isso é “tudo”? Tudo? Por favor!

Ele, da porta:

– Beibe, você ainda não está preparada para “tudo”.

E foi embora.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Trabalho para tirar o ronco

Domingo de manhã. Acordando da primeira noite fora de casa. E estava com fome. Maldita mulher, sempre reclamando do ronco. Já não bastava ter passado a dormir na sala, as portas cerradas, pra não acordar ninguém? Já não bastava a humilhação da vizinha de cima ficar fofocando pro condomínio inteiro que ali no andar ninguém conseguia dormir? Precisava expulsar de casa?

O estômago roncou novamente. Tinha saído enxotado. “Ou você dá um jeito nisso, ou eu resolvo do meu jeito”, aos gritos. “Do meu jeito”, o que ela queria dizer? Maldita mulher, sempre reclamando. Na rua atrás da praça, viu que tinha um trabalho de macumba na encruzilhada. Chegou perto pra dar uma olhada: uma galinha preta, num prato sobre uma toalha vermelha, algumas velas, e farinha de acompanhamento. E ele adorava uma galinha caipira.

“Melhor não mexer nisso. Deve ter mau-encanto”, pensou. Vai ver tinha sido a vizinha a encomendar o trabalho. Ou então a própria mulher. Não era possível. Será que era isso que ela queria dizer com “resolver do meu jeito”? Agora estava metida com coisas do além? Maldita mulher, sempre.

Foi pro boteco. No lugar da cerveja e do rabo-de-galo que durava horas em dias normais, foi logo pra cachaça. Uma branquinha. Uma amarela. Outra de umburana. Abusou: pediu duas salineiras. Maldita mulher. Depois perdeu a conta.

No final da tarde, o dinheiro tinha acabado. Foi embora, e agora era a vez da barriga roncar furiosamente. E como roncava! Ah, maldita. Ao passar novamente pela encruzilhada, achou uma solução: de joelhos, fez um sinal-da-cruz. Elevou os braços aos céus, numa reverência solene, não fosse o desequilíbrio da caninha. “Reza quebra O mau-encanto”, raciocinou.

Apagou as velas uma a uma, com as mãos raspou a farofa pra dentro da cumbuca e pegou um pedaço grande de galinha. Ele adorava galinha caipira. Limpou a cara com a toalha encarnada. De barriga cheia e cabeça vazia, devia estar curado. Já não tinha mais nada a dizer à mulher.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Tic tac tic tac

Preciso tomar banho! Onde diabos está a minha toalha? Cadê o relógio! Ponte que partiu, vou chegar atrasado no trabalho pela terceira vez nessa semana! A toalha! Onde eu deixei a toalha?

Tic tac tic tac...

Acho que peguei tudo: celular, carteira, dinheiro pro ônibus. Não, não peguei o dinheiro do ônibus. Também não peguei a carteira. Cadê a porcaria do celular? E não coloquei a gravata. Volta tudo. Saco.

Tic tac tic tac...

Se eu for por dentro eu chego no ponto mais rápido? Acho que não, vou pela avenida mesmo. Caracas, esqueci de pegar o meu crachá! Dane-se, pego um provisório lá no prédio. E esse maldito ônibus que não chega?

Tic tac tic tac...

Só um elevador funcionando? Ta de brincadeira comigo? Ir de escada? Minha filha, eu trabalho no décimo oitavo, é, no último andar dessa porcaria de prédio que nunca está com os quatro elevadores funcionando.

Tic tac tic tac...

Alguém sabe me dizer por que meu computador não liga? Já tentei de tudo, mas... peraí, acho que ligou. Não, não ligou. Ligou sim! Apagou. Agora foi. Ta lerdo... Quem deixou esse papel na minha mesa? É claro que eu perdi a reunião!

Tic tac tic tac...

Aquela auditoria, qual era o projeto que eu tinha que auditar hoje? Alguém viu um cronograma por aí? O telefone? Fala que eu estou em reunião por que agora não posso atender nem entidade mediúnica! Cadê o amaldiçoado projeto?

Tic tac tic tac...

Três auditorias hoje! Adeus almoço, adeus cafezinho. Adeus banheiro, adeus, adeus. Abaixa esse som, infeliz! Adoro Sá e Guarabyra, mas ouvir Sobradinho agora não! Tenho que fazer outra coisa, mas não estou lembrando o quê agora. Adeus, adeus...

Tic tac tic tac...

A última auditoria! Até que enfim! Será que ainda tem ônibus na rua? Eu precisava fazer alguma coisa hoje, mas acho que vai ficar para amanhã. E-mail enviado com sucesso. Adeus, adeus, e-mail. Essa música não vai sair nunca da minha cabeça. Adeus, adeus...

Tic tac tic tac...

A crônica!!! A crônica de amanhã! Não escrevi a crônica de amanhã!!! Liga de novo, máquina maldita, liga! Não trava! Os leitores vão ficar tiririca da vida comigo! Vamos lá, página em branco. Será que ainda tem ônibus? Táxi a essa hora é uma facada.

Tic tac tic tac...

Bom, melhor que nada. Ainda encontrei meu cronograma. Quatro auditorias amanhã.
Adeus, adeus...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Um pouco de tudo

- Olá tudo bem? Então você é o famoso Cristiano?
- Não tanto quanto eu gostaria.
- Hehehe, bem que seu pai me falou que você era diferente.
- Diferente? Como assim?
- Ah, meio assim, tchop-tchura.
- Tchop-Tchura?
- É, meio assim alternativo…
- Ahhh…
- Mas me fale garoto, no que posso te ajudar?
- Olha Paulo, não sei se meu pai te adiantou alguma coisa. Mas eu estava precisando de um emprego mesmo. Como o senhor trabalha em diferentes áreas achei que poderia ter alguma coisa interessante.
- Sim claro. Faço de tudo pelo seu pai. Um grande homem. Ajuda a todos.
- É, é mesmo.
- Uma vez estávamos pescando no Pantanal e ele salvou minha vida.
- Jacaré?
- Não, ia levar pro rancho uma paraguaia chamada Ramon. Ele que impediu.
- Jura, ele te avisou?
- Não, ele tinha me dado uma daquelas cápsulas de alho para espantar mosquito. Descobri que espanta travesti também.
- Hummm…entendi…
- Mas me fale. No que você gostaria de trabalhar.
- Bem, pra ser bem sincero com o senhor não tenho idéia.
- Não tem idéia? Como assim? Você não é formado?
- Sou sim. Em comunicação social.
- Então, perfeito. Estava precisando de alguém para criar os banners que colocamos nas lojas. Tem um moço do financeiro que faz pra gente, mas não gosto muito. Você pode fazer como eu sempre quis. Te passo o que quero e você cria.
- Hummm…é…pode ser…
- Que foi? Não gostou da idéia?
- Imagina senhor. Gostei sim. Mas é que imagino que o senhor tenha ótimas idéias, seria inútil na empresa. Queria fazer algo que fosse útil de verdade.
- Entendo. Bem, você precisa me ajudar então senhor Cristiano. Do que entende?
- De tudo.
- De tudo? Como assim?
- É sou maníaco por informação, então acabo entendendo um pouco de tudo.
- Então ótimo. É só escolher. Nosso departamento de vestuário está precisando de gente. Você entende de moda?
- Entendo.
- Então pronto, fica na parte de novos designs.
- Olha, eu entendo, mas não sei desenhar nada. O máximo que sairia seria as roupas da Turma da Mônica.
- Hummm…entendo. E tecnologia? Você entende?
- Entendo sim senhor.
- Fantástico. Nosso administrador de redes pediu licença para ir ver a pré-estréia do último filme do Homem-Aranha e nunca mais voltou. Você entende de computadores?
- Entendo sim senhor, mas apesar de conhecer os tipos de servidores, sistema de senhas, permissão de conteúdo e gerenciamento de arquivos, não sei lhufas de administração de redes. Não controlaria bem o acesso nem a um Pense Bem.
- Hummm…então deixa eu entender…
- Sim.
- Você disse que entende um pouco de tudo.
- Isso.
- Diz que conhece todo tipo de assunto.
- Isso.
- Você por acaso entende tudo de alguma coisa.
- Errr…creio que não.
- Então você não entende é de nada.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Carta de intenção de amor

Exupéry diz que somos eternamente responsáveis pelo que cativamos. Alguém aí, em alguma rede social, esses dias postou que a maior covardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de amá-la. Pois bem, é isso mesmo?

Quando primeiro confrontei as duas frases, pensei dizer no fundo a mesma coisa. Mas me precipitei. O pai do “Pequeno Príncipe” não dá ponto sem nó. Realmente somos responsáveis pelo que cativamos. Na verdade, somos responsáveis por qualquer coisa que façamos. Afinal, se escolhemos aquele caminho (e não se engane, você sempre escolhe por si próprio), temos que arcar com qualquer conseqüência por vir. Da maneira que bem entendermos, mas somos obrigados a lidar. Agora para a outra frase, que o Google de início me disse que era do Bob Marley, mas na real é do poeta Augusto Branco, bem, essa eu contesto.

Contesto porque o escritor faz um belo elogio aos homens, dando a entender que sabemos - de verdade - o que raios fizemos de certo para despertar o amor de uma mulher.

Não temos plano, não somos calculistas, saímos tentando a conquista como jogávamos Street Fighter aos 12 anos. Apertamos todos os botões ao mesmo tempo. Soco baixo, chute médio, pra cima, pra baixo e pula. Ás vezes sai uma voadora, ou um golpe fatal. As mulheres sabem disso, nem que seja inconscientemente, afinal, só elas sabem as bobagens que falamos e fazemos achando que estamos abafando.

Admito sim, alguns de nós nascem predestinados e outros aprendem com tempo. Ao longo dos anos descobrimos que uma tática é eficiente para um tipo de alvo e inútil para outro. Aprendemos contragolpes, esquiva, defesa, e o espancamento de botões diminui. Porém, quando o bicho pega, volta em toda sua glória.

Certas táticas podem ser consideradas desleais no entanto. Mandar flores, dizer que está apaixonado, levar café na cama. Me pergunto então: temos de ter uma carta de intenção de amor para demonstrar afeto e carinho? Uma mensagem de texto dizendo que se lembrou da pessoa, uma lembrança comprada em viagem porque é a cara dela ou um convite para um evento familiar são proibidos? Galanteadores e românticos são persona non grata?

Se for isso, afirmo que sou – e sempre serei - um grandessíssimo covarde. Já peço desculpas a qualquer mulher com que possa me relacionar. Uma hora ou outra vou te telefonar pra dizer que estou com saudade. Quem sabe te levar pra jantar num restaurante que não posso pagar, só porque sei que é seu sonho. Até quem sabe, no alto da minha covardia, te dedique um texto brega em que diga que depois que te conheci, nunca mais fui o mesmo. Pura covardia.

Não culpo Augusto Branco, ele também é um covarde. Coitada da mulher pra quem ele escreveu este texto abaixo. Afinal, poeta só escreve pra conquistar mulher. E ele deu uma bela rasteira.


TODO AMOR

A maior covardia de um homem

É despertar o amor de uma mulher

Sem ter a intenção de amá-la
Nenhum homem vale as lágrimas de uma mulher

Nenhum homem é merecedor de fechar um sorriso feminino

O homem que despreza o coração de uma mulher doce e pura

É, sem dúvida, um tolo

E sequer é merecedor do sentimento de desprezo
Mas o maior erro de uma mulher

É acreditar que encontrará em um homem

O Amor que apenas dentro dela está
Quando um homem ama uma mulher

É apenas ele o agraciado

Por que a mulher já é em si toda a beleza

Toda a graça

E todo o amor…

Augusto Branco

terça-feira, 19 de abril de 2011

Eu não pego ninguém. (E você também não.)

“Homens não entendem que a gente bate o olho neles e decide se daria ou não. Se vamos dar é outra história.”. Parei pra pensar na afirmação da minha amiga e concordei plenamente. Inclusive, acredito que não só dar como beijar.

Se tem um prazer que tenho nessa vida é conhecer o “backstage” da minha própria vida. Aquelas informações que acabamos sabendo depois que algo aconteceu. Uma daquelas coisas que vivem influenciando nossa vida diretamente, mas não temos a mínima idéia no momento.

Pois bem, na grande maioria das vezes que tive acesso a esse tipo de informação, percebi que meus méritos eram menores do que imaginava. Percebo que não conquistei aquela mulher com meu senso de humor inteligente, não foram meus dentes brancos que a trouxeram até minha boca, muito menos minha personificação de John Travolta na pista da balada. Sempre acabo descobrindo que ela já tinha me aceitado bem antes. Fosse no Facebook, no “oi” ou qualquer outro contato. Quando eu nem estava destilando todo meu charme.

Isso quer dizer que somos pegos? Não! Como bem disse a Carolina, elas decidem se dariam ou não. Dar é outra história. E é aí que a gente entra, não como Casanovas conquistadores e sim como Homers Simpsons. Nos concentrando pra não estragar o que está funcionando, como fazemos tantas vezes. Duh!

Basta não falarmos (muita) coisa errada, não termos bafo, não tentarmos pegar a amiga dela ao mesmo tempo (se quiser um ménage, pegue uma primeiro, depois seja bom o suficiente para convence-la a adicionar a amiga a brincadeira). Se nos atentarmos a esses detalhes, nos damos bem.

Agora será que é possível achar a fonte? Fazer com que elas desejem dar pra gente? Acho que não, não como uma ciência exata. As coisas podem mudar, de repente ela pode te achar atraente após anos, ou ela mesma mudar e decidir que em certo momento quer algo que abominou no passado. Mas isso é mérito nosso? Só se for por acidente.

Assim aceito essa verdade de braços abertos, pois no fundo, no fundo, sempre soubemos que o controle nunca esteve em nossa mão. Sempre (ou quase sempre) sentimos que tivemos um sorte desgraçada delas terem se convencido a ficar conosco. De certa forma é libertador assumir que nós não pegamos ninguém. Só fazemos menos besteiras que outros.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Na alegria, na saúde, na riqueza e tá bom assim.


Quem não conhece os famosos votos do casamento católico?


"Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe."


Todos conhecemos, nem que pelos capítulos finais das novelas globais. O voto é bonito, simboliza parceria, cumplicidade, entrega. Mas não a toa termina com a frase “até que a morte os separe”.


Apesar de nunca ter casado, posso dizer que fora a parte da morte, já vivi sob o juramento católico. Sempre achei que isso era o certo, o bonito, o justo. E principalmente, a única opção.


Mas e se não? E se eu nao quiser viver dessa maneira? E se eu quiser dividir apenas as coisas boas. Sem egoísmo, um trato justo, você cuida de suas doenças, eu me viro com minha pobreza e nos encontramos para curtir o que temos de bom? Sem exageros é claro, sem desamparo, sem levar ao pé da letra. Afinal, se você gosta de uma pessoa nunca vai abandoná-la na doença. vai querer estar a seu lado. O mesmo serve para a pobreza, etc. Isso é bom senso.


Mas se pensarmos no voto como o símbolo de "você TEM que estar junto a mim, haja o que houver, até no aniversário da minha Tia Zuleide". O que seria se não precisássemos nunca mais aguentar a chata da Tia Zuleide? Como seria esse relacionamento?

Não, não seria bonito, mas justo sem dúvida, e certo, bem, quem somos nós para dizer o que é certo. Eu sei bem que minha concepção de certo difere muito da dos outros.


Como um exercício, pensemos na possibilidade de todos nos virarmos sozinhos, sem ninguém para ajudar por convenção ou obrigação. Sem transformar nossos próprios problemas em problemas dos outros. Em não estragar o dia do parceiro porque o nosso foi por água abaixo.


Mas você vai dizer “isso não é relacionamento”. Bem, você é burro, é sim. Afinal, se temos duas pessoas se relacionando, seja lá como for, temos um relacionamento. O modelo, sem dúvida é diferente. Mas não seria mais legal se usássemos a alegria do outro para amansar nossa tristeza? E só?


Afinal, estamos prontos para apontar o dedo na cara do outro, em gritar “egoísta” quando nosso cônjuge não quer participar de uma coisa chata de nossa vida. Mas e nós mesmos? Não somos mais egoístas ainda de querer que eles façam isso? De querer que se sacrifiquem por um capricho nosso?


Ok, se sentir desamparado num compromisso “mala” não deve ser nada legal, mas pense que a recíproca é verdadeira. Não ter que ir a algum lugar que não queiramos. Nunca mais. Ok, nunca mais é exagero, ainda trabalhamos e temos de pagar as contas. Mas de resto, somos nós mesmos quem escolhemos. (o que sempre complica as coisas).


Não decreto assim o fim do relacionamento tradicional, cheio de coisas boas e ruins. Mas apenas paro pra pensar até onde essa troca é boa, ou se apenas acaba fazendo mal e desgastando os dois e no máximo, no máximo, agradando a Tia Zuleide.

sábado, 8 de janeiro de 2011

A gente vai se falando

- Não agüento mais. Vou responder.

- Calma. Muito rápido.

- E daí?

- E daí que se responder agora, vai parecer que está desesperado.

- Eu estou desesperado.

- Eu sei, você sabe, ta bom assim.

- Vou responder essa merda.

- Você quer a minha ajuda ou não?

- Querer eu não quero. Mas depois dos meus fracassos sucessivos, não tenho opção.

- Cara, você tem coração bom, é educado, é claro que só vai se ferrar com mulher. Vem na minha.

- Mas sério que isso é importante? Puta coisa de menininha, ficar esperando pra responder. Não posso responder e pronto?

- Pode. Responde aí.

- Não é para eu responder né?

- Nope.

- Mas já faz uma cara.

- Que horas ela te mandou a mensagem?

- 14:33

- E que horas são?

- 14:51

- Espera mais 3 minutos.

- 3? Porque 3?

- Daqui a 3 minutos vai dar 31 minutos que ela te mandou a mensagem. Um numero bom. 30 minutos fica forçado.

- Ah, cala boca.

- Sério.

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3 minutos depois

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- Beleza, vou responder.

- Vai fundo.

- Ta.

- …

- O que eu respondo?

- Cacete. Você ta de sacanagem né?

- Por que?

- Fica me enchendo o saco que quer responder logo e nem sabe o que falar.

- Ah, até sei, mas sei lá.

- Qual foi a última mensagem dela?

- Ela me disse que podemos nos ver quinta, mas que ela pode ficar com vergonha porque ela acabou de pintar o cabelo.

- Como se você se importasse.

- É!!!

- Bem. Deixa eu pensar.

- Não. Já respondi.

- Respondeu o que?

- Que ela não precisa ter vergonha, que é linda de qualquer jeito.

- Sério, mano?

- O que?

- Por que não declamou logo uma poesia pra ela?

- Será?

- Não, seu cabaço. Óbvio que não. Não pode tratar mulher assim.

- Assim como?

- Assim. Bem.

- Ah ta, malandrão. Então quer dizer que o lance é tratar mal?

- Sim. E não.

- …

- Assim. Você tem que sacanear a mulher, brincar com ela. Sem desrespeitar é claro.

- E como eu faria isso?

- Ah, sei lá. Se fosse eu diria que só iria se ela garantisse que ia ficar extremamente envergonhada.

- E qual o sentido disso?

- Sentido? Que sentido? Isso aqui é pegação, brother, conquista. Não rua, que tem sentido. O negocio é brincar com a vaidade dela. Fazer ela sorrir.

- Fazer ela sorrir?

- É. Você tem que falar coisas que saiba que do outro lado, ela vai sorrir.

- E acha que ela não vai sorrir?

- Ah vai, mas…

- Cala a boca. Ela respondeu. Nossa, que rápida.

- Lógico que ela é rápida. Puta encalhada.

- Ah, vá se catar.

- Que ela disse?

- Ela disse que a gente vai se falando.

- Aê! Conseguiu tomar perdido da encalhada.

- Como assim perdido? Ela disse que vamos nos falando.

- Pensa comigo. Lembra semana passada, que estávamos lá no bar da Neide, e apareceu aquele mala do colegial.

- O Joça. Lembro. Cara chato dos infernos.

- O que você falou pra ele quando estávamos nos despedindo?

- Merda. Devia ter feito a sua piada.