Sou dos que sentem medo da possibilidade de Lula voltar à
Presidência. Admito. Seria horrível e, sim, pode acontecer. Coisas
horríveis acontecem. Mais quatro anos andando para trás. Mais quatro
anos de atraso. O Brasil vai demorar muito tempo para se recuperar
desses governos petistas. Se se recuperar. O PT, com seu discurso de
“Elite Branca x Pobres Pretos”, conseguiu instaurar no país um clima de
animosidade irracional que não será desfeito tão facilmente. E o pior é
que a disputa não é entre a Elite Branca e os Pobres Pretos. A disputa é
bem mais rasa, entre governistas e antigovernistas. Não é disputa por
ideologia. É por poder.
Lula gosta de se comparar a Getúlio, e ele tem razão. Ambos foram
responsáveis por rompimentos do natural processo evolutivo da democracia
brasileira. Getúlio deu um golpe num processo democrático regular que
vinha desde Floriano Peixoto. Cada vez que escrevo isso, os getulistas
modernos, que (assombrosamente) os há, gritam que na época havia fraude
eleitoral e que a política “café com leite” revezava as elites paulista e
mineira no poder. É verdade. Nenhuma democracia nasce pronta. Nenhuma
democracia talvez nunca fique pronta. Prontas são as ditaduras. As
democracias vão se aperfeiçoando com o exercício democrático, que não é
só exercício do voto, é o exercício da convivência das diferenças.
Há um elogio que deve ser feito a Dilma: seu
comportamento é absolutamente respeitoso com a democracia. Por mais
acuada, por mais agredida, por mais ameaçada que esteja, ela nunca deu
uma única declaração que arranhasse a normalidade da regra democrática,
como Lula faz amiúde.
Natural. Lula está muito mais comprometido com o projeto de poder do seu grupo do que Dilma. Afinal, o grupo é DELE. Ele é o capo de tutti capi. Foi nessa condição que Lula golpeou a democracia brasileira, embora de forma muito menos contundente do que Getúlio.
O método foi quase o mesmo.
Externamente, Getúlio se associou aos ditadores da época, como Perón.
Tentou até se consorciar a Hitler e Mussolini, mas foi dissuadido pelos
dólares americanos. Já Lula se associou aos cubanos, à Venezuela, à
Argentina.
Internamente, Getúlio fundou o peleguismo sindical. Que é um dos pontos de apoio de Lula.
Lula conseguiu chegar ao poder pelo voto, como Getúlio em 1950. Lula
começou bem, com a ampliação do Bolsa Família e a manutenção da política
econômica estabelecida pelo Plano Real. A impressão era de que o Brasil
havia entrado num caminho de melhora sistemática e de possível solução
de seus dramas históricos.
Aí se deu a traição. Nesse momento. Um presidente operário, simpático
à população, com prestígio em todo o mundo, comandando um país com
economia em ascensão, com uma indústria diversificada e uma agricultura
poderosa, esse presidente e esse país podiam empreender as difíceis e
necessárias reformas da escola pública, dos sistemas federativo,
tributário, previdenciário e penal, poderiam, com muito esforço e pouco
sacrifício, construir uma nação.
Mas Lula tinha o seu projeto particular. Tinha o seu grupo. Foi a
eles que Lula dedicou seu empenho. E o Brasil ficou para trás. Esse
tempo perdido não será recuperado sem dor. O Brasil perdeu muito por
causa de Lula. E o pior nem foram as perdas na economia e na política. O
pior foi a perda de esperança.
Sim, tenho medo de Lula. Não, não quero que ele volte. Nunca mais.