sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Eu sou, apenas, um homem

Termino o ano feliz. Com a sensação do dever cumprido. Contente comigo mesmo. E nada melhor do que terminar algo com a consciência tranqüila. Dá aquela sensação de leveza na alma.

Débito? Só bancário. E olhe lá. Já é demais.

Cabelos? Poucos, mas mais longos. Foi uma maneira mais do que paliativa de esquecer da careca. Mas ela não me esquece e não me deixa.

Com o passar deste ano, caindo e levantando diversas vezes, percebi o que realmente me faz falta, a amizade que importa, o amor verdadeiro e, que para estar de bem com a vida, não é necessário uma infinidade de coisas, de pessoas ao seu redor. Solidão, dirão alguns. Solitude, digo eu. Apenas saber peneirar tudo ao seu redor.

Mas, por passar por tudo isso é que concluo que, diferentemente do que muitos pensam por aí, eu sou, apenas, um homem.

Nem adianta vir com subterfúgios, nem dizerem por aí que sou poeta, cronista, artista e formador de opinião. Não formo nada. Não há nenhuma classificação cabível no meu ser tão vário.

Eu sou, apenas, um homem.

Com minhas crenças e descrenças; angústias e lástimas; sorrisos forçados e gargalhadas sinceras; amigos perdidos e reconquistados a muito custo, mas com os braços sinceros pelo aperto da saudade. Por isso e por tudo o mais elencado, concluo que, de fato, sou apenas um homem.

Um como outro qualquer. Sem nada de mais e, também, nada de menos. Nada medíocre, também. Nem normal, mas nem tão louco e, muito menos, um pouco sóbrio.

Apenas, um homem.

Não um super-homem. Mas há quem se apaixone por seus atos de bravura desmedida, de abraçar uma causa por puro altruísmo, de acreditar, piamente, no ser humano e por ele ser traído.

Um homem.

Não uma máquina de decorar palavras e gestos. Mas um ser feito da amalgama da cultura de seu povo, do desatino que faz ser, ainda que único, porém, coletivo, um simples homem.

Eu sou, apenas, um homem.

Quero ser, como muitos o são, passado, presente e futuro: passado à sombra de meu pai e ser a luz do amanhã de um filho que ainda não tenho.

Apenas, um homem.

Que está ao sul, limitado pelo seu nascimento. Ao norte, pela morte. A leste, pelo Direito não só seu, mas dos outros. E, a oeste, pelas divagações e dilemas mais intrínsecos e recônditos.

Ah... quisera eu ser a chuva, brisa, primeira namorada, música do Vinícius, nuvem, amor, paixão e desejo.

Mas eu sou, apenas, um homem.

Com todas suas contradições e inquietudes que só um homem tem.

sábado, 22 de dezembro de 2007

O que é um tiozinho?

Juntamos a turma antiga num almoço de final de ano. Sabe aquela turminha que convivia quase diariamente, que iam para o bar juntos, que sabiam o telefone da casa de cada um decor? Pois é, hoje essa turminha só se encontra em casamento, velório e... almoços de final de ano.


Mas a amizade é a mesma, e a sensação de nem faz tento tempo assim que nos encontramos não é mentira. Os mesmos papos, a mesma afinidade.


Mas sempre tem um que faz questão de dizer que as coisas não são como antes. Dessa vez, quem provocou foi o Japonês.


O Japonês sempre foi o mais sensato da turminha. Sempre de avaliações ponderadas, despido de preconceitos, com muito jeito te põe contra a parede. Muito diplomático, o Japonês.


Está com algum problema? O Japonês te chama para um papo, abre um pacote de salgadinho, cruza as mãos e apóia os cotovelos nas coxas, num a posição intimidadora, porém que demonstra grande interesse no que você vai dizer.


E você diz, esperando um afago, uma palavra de conforto. Mas ele é o Japonês, e vai enfiar o dedo na tua ferida até você ficar com vontade de dar-lhe um murro nos cornos. O que você não vai fazer, porque ele joga com uma sinceridade desconcertante.


Mas como eu estava dizendo, no último almoço de final de ano, o Japonês disse que eu fiquei tiozinho. Tiozinho? Eu?


Argumentei que não havia como eu ser um tiozinho. Apontei alguns tiozinhos no restaurante onde estávamos, daqueles grisalhos, óculos escuros, roupas esporte e muita lábia para cima das pós adolescentes de pernas de fora que confraternizavam no estabelecimento.


Mas ele rebateu me dizendo que aqueles eram tiozões. Eu era tiozinho.


O que será um tiozinho? Não cheguei na fase (ainda) de querer fazer esportes radicais para provar a minha masculinidade e juventude anciã. Não estou tingindo os cabelos nem estou prestes a comprar uma moto. As mulheres que me chamam a atenção ainda são as da minha idade. Por que será que o desgraçado me classificou de tiozinho.


E percebi no discreto sorrisinho nipônico que ser tiozinho não é lá muito bom.


Sou o solteirão da turma, tudo bem, mas creio que isso não seja o bastante para eu ser um tiozinho.


Deve ser despeito. Eu aqui, na flor da idade, com os cabelos ao vento e com a barriga não tão proeminente assim.


A barriga! É isso! O Japonês me ultrapassou no quesito barriga e agora vem querer tripudiar.


Não sou tiozinho coisa nenhuma! Só estou mais em forma que o tiozinho Japonês.

Um alívio. Acho que vou aproveitar o final de tarde, pegar a moto e ir até o bar onde a turma do rapel se encontra pra olhar as menininhas.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Fiquei mais rico

Nesta semana comecei a ficar mais rico. Já estou até esperando o dia primeiro do próximo ano. Vou ver meu simples dinheirinho não ser comido todos os dias pela CPMF. Fiquei feliz com a decisão do parlamento.

Feliz por várias aspectos, o primeiro deles é ver a derrota do Lula e seus asseclas. É bom para ele provar do veneno que por várias vezes destilou quando em outros governos os presidentes tentaram votar a CPMF e ele vinha na televisão dizendo que era um imposto injusto e que o pobre é que pagavam a maior parte.

O segundo aspecto é ver a confusão que esse governo é. Ninguém se entende e eles mal conseguem organizar as pessoas que fazem parte de sua base aliada. Adoro ver confusão neste governo. É só a mostra de quanta incompetência existe no planalto central.

O terceiro aspecto é a diferença no meu bolso que deve ocasionar. Semanas atrás escrevi aqui sobre como a CPMF prejudica a economia e teoricamente a partir de agora a carga tributária brasileira deverá cair perto de 1,9%. Também a inflação deve cair muito ou até ficar negativa, já que os empresários podem repassar a diminuição da CPMF para o preço dos produtos.

O governo negociou mal. Fez o senado de gato e sapato, liberou verbas, fez promessas e até alterou o destino do dinheiro na última hora. Mas de nada adiantou. O resultado foi justo pela forma como o governo tratou a questão.

A população como um todo ficará perto de 1,9% mais rica, pois não teremos o débito dos 0,38% nos saques de nossas contas e pagaremos menos por produtos já que a CPMF também vai afetar a produção.

Resumindo, todo mundo sai ganhando. Menos o governo. Mas no final, o governo não perde os tais 40 bilhões. Como todos terão um pouco mais de dinheiro para gastar, gastaremos mais e com isso outros impostos serão recolhidos e o governo não perderá os 40 bilhões, perderá menos que isso.

O governo diz que algumas áreas sociais do governo serão afetadas e que a população pode ser impactada por isso. Para melhorara isso, é só diminuir o desvio de verbas que acaba sobrando dinheiro.

E a saúde?A saúde ficará mais precária com a ausência da CPMF? Difícil. Difícil ficar mais precário do que já está!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Empréstimo de risco

Cláudio e Rogério eram amigos há muito tempo. Desde a infância. Fizeram o primário, ginásio e colegial juntos, eram praticamente irmãos. Depois de uma vida toda só de alegrias, Cláudio chamou Rogério para uma conversa muito séria. Como eles nunca tiveram. E como talvez nunca mais fossem ter :

-Cláudio, na boa, eu nem sei como começar essa conversa ….
-Porra, Roger, fica na boa meu!
-É, eu tou ligado ma-
-Seguinte! A gente se conhece desde que eu me entendo por gente.
-Verdade …
-Nossas famílias nos conhecem melhor do que muitos parentes por aí!
-É, mas …
-Já passamos todo tipo de dificuldade juntos, amigão!
-Eu sei …
-Então! Não faz essa cara! Pode começar … Quer relaxar?
-Não, na-
-Vamos lá! Ô “bigode” - chamando o garçom - trás dois “whiskies” aqui pros amigos! Dois! Duplos, heim?!
-Ah …
-Vamos lá, Roger … Pode falar! Tou aqui pra isso!
-Então …
-Já sei!
-Acho que nã-
-Cara! Não vem com essa! Saquei! Não precisa ficar assim!
-Olha, na verdad-
-Eu não quero nem saber quanto! Muito menos o porquê! Vou te dar um chequ-
-Cláudio! Me escuta!
-Roger, eu te conheço, irmão! Você é orgulhoso que dói! Não deve nem estar conseguindo dormir! É um empréstimo, não é?
-Bem …
-Tá vendo?! Sabia!
-É, mas ….
-Pode falar! Eu já te disse milhares de vezes. O que é meu é seu! Puxa vida … amigos há tanto tempo, e você com essa bobagem por causa de papel pintado! Dinheiro não passa disso, Roger!
-Cláudio … É verdade! Eu quero um empréstimo.
-Isso, isso! Se solta cara. Relaxa. Só tem eu e você aqui. Que mal pode acontecer, vamos sair dessa juntos! Diz aí!
-Então … é … bem … eu não sei, mesmo, se você vai poder me emprestar o que …
-Cara! Pára com essa bobagem! O que eu não poderia dividir com você, meu irm-
-A Gabi !
-Heim?!
-É isso mesmo! A Gabi! Mas calma!
-Como assim?! A minha mina, Cláudio! Você tá louco! Ficou doidão!?
-Deixa eu explicar, porra!

Rogério fica balançando a cabeça e chacoalhando os pés, descontroladamente. Depois de um breve silêncio Cláudio volta a falar.

-Seguinte :
-Diz … tenta …
-Há quanto tempo acabei meu namoro com a Susie?
-Sei lá … 3 anos!
-É 3 anos. Pra ser mais exato, 3 anos, 2 semanas e 21 horas!
-Sério mesmo?
-Pois é, então! Posso continuar …
-Vai fundo …
-Desde então : 3 anos, 2 semanas e 21 horas, que eu NUNCA mai-
-Pára, velho! Não vai me dizer que você nunca mais tr-
-Cala a boca, Cláudio! Você acha que eu não ia ter matado meio-mundo se isso tivesse acontecido!?
-Ufa …
-Sexo não é o problema hoje em dia!
-É ? Sei lá … tou com a Gabi desde o ginásio … nem imagino …
-Acredita, Cláudio ! E você acha que eu ia ser imbecil de te pedir ela emprestada pra isso!?
-Cara! Explica logo, que eu já tou querendo dar uma muqueta no meio da tua fuça!
-Calma! É o seguinte :
-Hmm …
-Faz 3 anos, 2 semanas e 21 horas, veja bem o número, que eu não assisto um filme, vou há uma lanchonete e converso completamente despreocupado com uma mulher!
-Caramb-
-É, velho! Eu não agüento mais!
-Mas …
-Não tou falando de beijo ! Amasso! Essas porras todas …
-Pô, Rojão, num sabia desse negócio, não!
-É Clau! Na boa, isso é impossível hoje em dia!
-Sério mesmo?
-Pois é! Agora acompanha meu raciocínio!
-Tá! Ok! Tou mais calmo agora …
-Depois da minha mãe, qual mulher, presente no meu dia-a-dia, que eu conheço há mais tempo?
-Hmm … sei lá … deve ser a…
-Pensa bem!
-Hmm …
-Vai, mano! O cérebro tá pago, é só usar, vai!
-A Gabi!
-Isso!
-E com que mulher eu fico tão despreocupado a ponto de ser o melhor de mim, só de estar junto, por conhecer há muito tempo, e por não ter nenhum tipo de preocupação sobre o que ela está pensando?
-A Gabi?
-Claro! Ela é sua! Sempre vai ser sua! Eu vou ser padrinho de vocês! Vocês são o Romeu e Julieta dos tempos modernos, e sem cianureto! Ela é a única mulher que eu conheço, pra quem sou absolutamente inofensivo!
- É ….
- Então!
- Faz sentid-
- Cara! Me empresta, uma única vez, umazinha só, a Gabi pra sair comigo de sexta à noite!
-Bom …
-Eu só quero passar uma noite (só a noite, sem madrugada!) com uma mulher inteligente, agradável, com senso de humor, etc, etc, e despreocupado como talvez eu nunca mais possa ficar na vida !!
-Você está exagerando, irmão!
-Exagerando !? 3 anos, 2 semanas e -
-Ok ! Entendi!
-Ufa …
-Tá certo!

Cláudio quase levantou da mesa no ímpeto do seu discurso. Ele fica quieto, olhando para o chão, ofegante, enquanto Rogério recobra suas forças, e com cara de quem não acredita no que vai fazer, diz :

-Esse é o pedido mais estranho e absurdo que eu já ouvi na vida, mas, por mais estranho e absurdo que possa parecer, eu acho que entendi.
-E aí … ?
-Olha velho! Já te disse algumas vezes, que deixaria tranquilamente você dormir no mesmo quarto que a Gabi, por total confiança nos dois …
-Então, Mano … Não te pediria se não confiasse em nós dois também! E se essa abstinência não tivesse chegado a um ponto tão insuportável!
-Ok!
-Puta Claudião! Sabia!
-É ! sabia … sei! - ainda um pouco contrariado.
-Puta velho! Isso é uma coisa que nem irmão faria!
-Tou ligado …
-Ah ! Demais!
-Seguinte!
-Diga !
-Uma condição:
-Quantas você quiser!
-Vocês podem fazer o que vocês quiserem. Confio nos dois. Não quero nem saber o que vai rolar!
-Tá …
-Mas … uma condição é cinequanon !
-Claro! Pode falar!
-Vocês não podem ter nenhum, repito, NENHUM tipo de contato físico!
-Certo.
-Beijinho ao chegar …
-Não!
-Abraço!
-Nunca, jamais!
-Isso, esse é o espírito. Mãozinha dadas …
-”Jamé”!
-Isso aí, Roger. Assim sendo-
-Assim será, nem precisa falar mais!
-Perfeito!
-Pô cara! Ainda bem que essa condição não impede contato físico entre a gente!
-Magina, brow !
-Verdade! Chega aí! Me dá um abraço cara!
-Num precis- … Ei! Calma!!

Cláudio, num ímpeto de felicidade, tenta abraçar o amigo.

-Porra velho! Eu tava ficando louco com isso! Ô “Barba” - para o garçom - traz 2 quádruplos pros irmãos aqui! Dos bão!

Rogério concorda, acenando positivamente com a mão para o garçom.

-Poxa ! Não sabia bem o que ia acontecer hoje, depois que eu te contasse tudo.
-É velho! Mas mesmo envolvendo a Gabi e tal … Nossa amizade é sempre maior! Confiança de irmão mesmo!
-Pai e filho, eu diria. Pai e filho! Eu seu pai, você pai de mim, e vice-versa!
-Pois é …
-Puxa vida … (irradiante)

Outro silêncio. O Garçom serve os whiskies pedidos . Os amigos brindam e tomam um gole do drink. Cada um pensando na bencão de ter uma amizade tão boa como a deles.

-Cláudio!
-Opa! Diz aí.
-Só uma dúvida!
-Fala aí …
-Então … - (agitando o gelo no copo) - Cafuné é contato físico ?
-Ah, vem aqui seu filhadumap —

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ponto de vista

- Nhan han humpf er…Alô.
- Rô?
- Nham han pufpuf er er…Quem tá falando?
- É a Su, Rô. Você está dormindo?
- Nham puf… Agora não mais. Que Su?
- Como assim que Su? Sou eu. Suzana. Sua ex-namorada..
- Ahhhhh Su. Porque não disse que era você? Me desculpa gatinha. Como é que você está?
- Tô ótima e você?
- Tranquilo. Pô, engraçado, estava pensando em você esses dias. Em nós dois.
- Ah é? Que coisa. Então, liguei só pra dar um “oi”. Manter contato.
- Lógico. Legal você ter ligado. Uma surpresa. Depois de tudo….
- É na época foi bem difícil..
- Terminamos de um jeito bem conturbado.
- É bem verdade Rô, mas desencana, não pra liguei pra falar sobre isso. O que passou, passou. Creio que somos adultos o suficiente para separarmos bem as coisas e nos relacionarmos sem problema.
- Claro, com certeza.
- Mas me diga, como estão as coisas?
- Ah tudo jóia. O de sempre né. “Facul”, balada, cineminha. E você?
- Eu também. Só na balada que estou em falta. Agora namorando né…
- Ah! Tá namorando?
- Tô sim, já faz 9 meses, super felizes. Já fazemos planos até de casamento. E você?
- O que tem eu?
- Tá namorando?
- Ah sim. Mais ou menos. Mas acho que tô.
- Como assim “acho que tô”?
- Não. Quer dizer. Estou sim. Claro que estou. Ela é linda. 27 anos.
- Ah tá. Mas você tomou jeito né? Não é mais canalha como na minha época?
- Claro que não. Sou um novo homem. Outra mentalidade. Consigo ter amigas numa boa. Sem segundas intenções.
- Nossa Rô, que bom saber disso. Fico feliz.
- É, to feliz também. Aliás falando em amigas podíamos combinar de sair essa semana. Depois da “facul”. Aliás você estuda a noite ou pela manhã?
- Tô estudando a noite. Na mesma classe da Rutinha.
- Putz a Rutinha. Faz tempo hein. Aliás e o resto do pessoal? Tem visto?
- Só a Rutinha mesmo.
- Ah lógico, vocês são inseparáveis.
- É. Somos irmãzinhas praticamente. E você? Tem contato com o povo?
- Todo mundo na mesma Su. O Duda com a Raquel, brigando brigando mas sempre juntos. O João perdido como sempre, agora tá numa onda Hare Krishna. Ligo de vez em quando pra eles mas nada muda. Aliás, me diz uma coisa, seu telefone continua o mesmo?
- Nossa, o Duda ainda está com a Raquel??? Que legal, esses vão casar!
- É o que todos dizem. Mas é ruim do Duda casar. Aquilo é um traste.
- Verdade.
- Su, me desculpa, mas tenho que sair agora. Lembrei que tenho dentista. Depois nos falamos hein, temos que nos ver.
- Um beijo Rô.
- Beijo.

:::::::::

- Alô?
- Fala Su. Tudo bem
- Oi Lili. Não sabe da última!
- CONTA, CONTA!!!
- Liguei pro Rô.
- NOSSA! Aquele cafajeste, te tratou tão mal e você ainda liga pra ele?
- Ah Lili, foi justamente por isso. Tenho que provar que estou totalmente recuperada.
- É verdade. Mas e aí? Como foi?
- Falei com ele numa boa, como uma pessoa civilizada.
- Jura???
- Juro amiga. Acho que agora coloquei um ponto final no assunto. Ele entendeu que podemos ser amigos numa boa já que não sinto mais nada por ele e nem ele por mim.
- Ai, que bom Su. Ainda bem que isso acabou de uma vez por todas.

::::::::::

- Fala sua bicha!!!
- Faaaaaala Rodrigão como é que tá?
- Beleza. Você não sabe da última? Lembra daquela minha Ex, Suzana?
- Tô ligado.
- Vou comer de novo!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Mal entendido

Sentaram no primeiro banco que estava vazio na praça. Antes, obviamente, ele limpou o banco. Sentar em cima de folhas não é agradável, a conversa, certamente, não seria também. Haviam se separado há mais de três anos. Ela estava de volta à negócios e ele nunca havia se mudado da cidade natal. A praça era a mesma onde eles tiveram sua primeira briga, eram adolescentes na época.

- Fiquei contente que você me ligou.
- Eu estava de passagem, tinha que te ligar, já faz três anos afinal.
- É muito tempo mesmo. Inacreditável como você não mudou nada.
- Não precisa me bajular, a idade já me é companheira.
- E o que isso quer dizer?
- Estou velha.
- Bobagem. Você ainda está bem gostosa.
- Eu devia ficar ofendida com isso, mas não consigo.
- Eu sei, é o meu sorriso. Irresistível.
- Você continua um palhaço.

Imóveis por alguns segundos, observaram o carrinho de cachorro quente. Provavelmente lembrando das inúmeras vezes, que haviam matado aula para comer e depois namorar na praça. Se entreolharam.

- O que será que deu errado?
- Conosco?
- Não, com o "Cadeirão". Era um bar tão bom!
- Achei que você fosse querer conversar sobre a gente.
- Não há mais o que conversar. Você foi embora, em busca dos seus sonhos, eu não fazia parte deles. Eu fiquei e fui em busca dos meus.
- Você sabe que não foi bem assim que aconteceu. Era uma oportunidade de ouro.
- Eu sei muito bem o que aconteceu, e realmente não precisamos falar sobre isso.

Ela estava nervosa, mas não demonstrava, já ele, não conseguia disfarçar o nervosismo. Ele sempre coçava o joelho quando estava nervoso. Ela pegou na sua mão.

- Não precisa ficar assim. Podemos apenas dar uma volta pela cidade.
- Andando?
- É melhor. Você pode andar comigo até a casa da Patrícia, ela viajou e me deixou ficar lá até quinta-feira.
- Tudo bem. Acho que uma caminhada vai fazer bem.

Andaram por trinta minutos, relembrando cada passagem de suas vidas naquelas ruas praticamente intocadas. Os passeios de bicicleta, as brincadeiras de rua, a turma da rua de cima e a turma da rua de baixo, os cachorros bravos, os velhos mau humorados e até a velha fonte da Dona Iracema.

Quando chegaram na porta da casa da Patrícia, ele pegou em suas duas mãos e se aproximou.

- Achei que nunca mais fosse beijar essa boca.
- Mas quem disse que você vai?
- Eu achei que isso tudo era...
- O que?
- Bem, você me ligou, me convidou para ir na praça.
- Era o lugar mais conveniente.
- E a conversa sobre nós dois?
- Olha, não queria estender essa conversa, mas você entendeu errado.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Nana Dona Dirce

Grande parte de nós cria seus rituais...

São coisinhas que podem ou não ter função específica, razão de ser, motivo pra existir. Criamos de forma consciente ou não, meios de conseguir chegar a algum resultado, e quando o resultado é bom e satisfatório, aí é que pode nascer um ritual.

Claro que há casos em que mais do que um rito ligado a uma superstição, há também o aspecto da necessidade de uma rotina, de um método único pra se realizar tarefas complicadas (como escrever uma crônica), ou as mais simples.

Depende do grau do maniado.

Existem rituais pra se tomar banho, onde segue-se ou não uma coreografia que inicia desde a forma como se tira a roupa, a regulagem do chuveiro, a maneira de se entrar na água, e acompanha um método ritualístico pra se lavar cada parte do corpo em uma ordem lógica que preserve limpas as partes de cima pra finalizar nas partes mais baixas. Conforme o escorrer da água. Juro que existe isso.

E depois tem o ritual pra se secar após o banho, mas encontro paciência pra isso. Era só um exemplo mesmo.

O ritual pessoal é necessário, entendo.

Mas alguns beiram ao exagero, viram mania irretocável.

Sim, também eu tenho os meus. Um deles é a forma como corto minuciosamente as unhas. Um processo longo e demorado, um parto!

Mas eu sofro com essa mania, esse ritual de despedida e desprendimento de partes do meu corpo que precisam ir pra dar lugar ao novo (e mais limpo). A análise já me ajudou bastante, como podem ver.

Dia desses eu, embasbacado do início ao fim, atendi uma pessoa que em meio a conversa me descreveu seu tão particular processo ritualístico para dormir. Foi... Interessante.

Vou chamá-la de Dona Dirce para evitar que futuras zombarias lhe tirem o sono. Na verdade a Dona Dirce era um caso mais complicado, ela batizara uma parte de seu corpo, uma pinta na bunda (pra ser mais assertivo), e entendia que precisava "ninar" a Judite (a pinta batizada).

Ficou confuso?

Bom, o ritual era assim: Dona Dirce se colocava pra deitar de lado, e balançava o quadril e o resto do corpo se auto-ninando, entendendo que com isso faria a Judite (a pinta na bunda), dormir. E por conseqüência ela também embarcava no sono.

Não bastasse esse doce balanço, Dona Dirce também murmurava alguma música qualquer durante o processo.

Difícil acreditar? Acreditem, pois é a mais pura verdade.

Eu ali, que naquele momento tinha apenas comentado sobre uma matéria sobre os distúrbios do sono, ouvi boquiaberto o ritual da Dirce ninando a Judite. Só consegui encerrar a conversa depois de, não me agüentando, perguntar sobre o marido (da Dirce!):

- Mas, Dona Dirce e o seu marido? Vocês conseguem dormir juntos com essa movimentação toda na hora de dormir?

- Olha Seu Orlane, no começo ele ficava meio enjoado de tanto balanço... Mas depois se adaptou.

- Adaptou?

- Ele entrou no embalo. De duas uma, ou ele toma um Dramin antes de dormir, pra não enjoar, sabe?

- Ou?

- Ahhh... Ou ele dá uns tapas na Judite pra ela sossegar.

Não deixa de ser um ritual.

sábado, 3 de novembro de 2007

Brasil-sil-sil

Hoje estão todos felizes, alegres e contentes, batendo a mão no peito e bradando que tem muito orgulho de ser brasileiro. Afinal, a copa é nossa!

E o Brasil, pentacampeão, não poderia ficar mais tempo sem sediar uma copa. Seria um absurdo! Ainda bem que temos um presidente que foi competente o suficiente para trazer a copa para cá. E foi uma notícia tão boa que nem me lembro mais o que está acontecendo no governo.

E tem mais, agora vamos ser um país de primeiro mundo! Vamos mostrar para os gringos que Brasil é mais! Crimes, pobreza e corrupção é invenção da mídia.

Nossos estádios serão reformados, o que é fantástico. As obras serão hiperfaturadas, mas quem liga? O que importa é mostrar para os gringos. E novos estádios serão construídos, a um custo dezenas de vezes maior, mas isso não é problema. É só ver os Jogos Pan Americanos. A beleza das obras, tudo de primeiro mundo. Agora ninguém está usando, mas no Pan as câmeras mostraram para o mundo todo que aqui é primeiro mundo.

A copa vai trazer o futuro! A copa vai trazer o progresso! Os meios de transporte vão ser de primeiro mundo! Nossas ruas e avenidas não vão ficar devendo nada para a Alemanha.

É como o nosso presidente falou lá na cerimônia a na Suíça: o que vai empolgar a patuléia do mundo todo é o comportamento extraordinário do povo brasileiro.

Ah, sim, por que alguém aí duvida que o nosso comportamento não seja exemplar? É só olhar nas torcidas organizadas dos clubes brasileiros, na limpeza das nossas ruas, no trânsito, nas filas e nos transportes coletivos. Eu arrisco dizer até que o povo brasileiro é o mais comportado e educado do mundo!

E por falar na cerimônia, o ponto alto foi o discurso do maior escritor brasileiro de todos os tempos. Paulo Coelho foi mais do que gênio em sua comparação entre futebol e sexo! Só um cara como ele, um brasileiro, um orgulho para todos nós, para conseguir traduzir tão bem o que o futebol representa para nós.

E desta vez não será como a copa de 1950 não! Dessa vez não vai ter Ghiggia pra estragar a festa não! Pode escrever o que eu digo. Vai ser Brasil hexa no Brasil!!!

Corrupção é bobagem. Superfaturamento é bobagem. O que importa é que a copa é nossa e vamos deitar e rolar.

Brasil-sil-sil...

sábado, 27 de outubro de 2007

O Binha na Fórmula 1.

Em toda turma de amigos, ou na maioria esmagadora delas, alguns tipos são indispensáveis. Sempre tem um que é o bonitão, outro é o mais inteligente, o outro é o mais engraçado, o outro é o atleta da turma, o outro é o mais descolado e o outro é aquele que não deu certo.

E eu conheço o Binha, que é o que não deu certo da turma.

O apelido Binha veio de Goiabinha. Não me lembro quem o apelidou de Goiabinha, mas o Binha era realmente o estereotipo de um goiaba: grandão, gordão, brancão, desajeitado e de coração grande. Esse é o Binha.

E desde moleque o Binha é apaixonado por Fórmula 1. Daqueles chatos mesmo, que te faz ver revistas e mais revistas, fotos e mais fotos, vídeos e mais vídeos do assunto toda vez que se entra na casa dele.

(Não se preocupem por eu falar assim do Binha em público. Todos esses adjetivos já foram falados para ele pessoalmente. Mas ele não liga, o que faz muito bem. Talvez por isso que todos gostem dele)

Mas o Binha, como nunca deu muito certo na vida, nunca havia chegado nem perto de um carro de Fórmula 1. O máximo de um monoposto de competição que ele chegou perto foi de um kart, quando fomos correr certa vez. Bem, o Binha não correu porque não coube no carrinho, mas ele se deu bem como incentivador, gritando de fora para a gente acelerar.

Porém, como nem tudo na vida são trevas, neste ano o Binha conseguiu uma credencial para ir a Interlagos presenciar de perto um dos treinos da Formula 1. E não era uma credencial qualquer não, era uma que dava acesso ao paddock e tudo o mais.

Imaginem o quanto tivemos que ouvir o Binha, que nem nunca colocou ou pés em Interlagos, recitar de cor e salteado todas as curvas e retas da pista, todos os nomes das escuderias e seus pilotos, e todas as fotos que ele iria tirar quando chegasse lá.

Foi um mês inteiro de euforia do Binha, com seu grande sorriso entre as grandes bochechas vermelhas.

E lá foi o Binha, para o treino de sexta-feira com outro amigo nosso, o que lhe arrumou as credenciais.

Já na Avenida Interlagos, Binha fez questão de fotografar a caixa d’água da Sabesp, que praticamente faz parte do cenário do autódromo. Carro estacionado nas redondezas, e Binha vinha fotografando as placas de indicação do autódromo na rua. Em frente ao portão sete, Binha, emocionado, fotografou a guarita e os seguranças. No acesso, fotografou o busto de José Carlos Pace. Fotografou, trêmulo, o túnel que passa debaixo da reta e que dá acesso aos boxes.

Binha andava e fotografava, andava e fotografava. Olhava para todos os lados enquanto subia a íngreme ladeira até o portão de acesso aos boxes.

Binha olhava para tudo, menos para o chão. Não viu a guia, nem o bueiro. Torceu o pé direito. Ligamentos rompidos.

Não chegou ao portão de acesso aos boxes. Ficou na ladeira. Saiu de ambulância sem nem ouvir um ronco de motor sequer.

Em toda turma sempre há os tipos indispensáveis. O bonitão, o inteligente, o engraçado, o atleta e aquele que não deu certo. O azarado.

O Binha.

domingo, 21 de outubro de 2007

Onde vamos parar?

A coisa tá feia, gente.

Noutro dia escrevi sobre o governador do Distrito Federal que "demitiu" o Gerúndio. Mas, ao que parece, o mesmo foi readmitido pelo doutor Lair Ribeiro em seu mais novo livro de auto-ajuda: Preparando-se para Concursos Públicos e para o Exame da OAB.

E, pasmem, a coisa é feia. Péssima, para ser mais preciso.

Sinceramente, já que o Paulo Coelho é um imortal da ABL, creio que o próximo a se imortalizar deva ser o Lair Ribeiro, seguido da Zíbia Gasparetto e, de quebra, mandamos o Jucelino da Luz também.

Com o tempo, será imortalizado o Lula também com seus livros de bolso: "Como vencer as eleições no Brasil", "Você se lembra do Fome-Zero?", "O que é Ética?", com ajuda da Marilena Chauí e prefácio do Zé Dirceu e, claro, "Esqueçam tudo o que fiz e falei" com colaboração do Fernando Henrique Cardoso. Ah, não podemos esquecer também da "CPMF – Do repúdio ao Amor incondicional", com comentários na orelha de Antonio Palocci.

Enfim...

Claro que não li o livro do Lair Ribeiro e, nem passa pela minha cabeça, lê-lo. Pela crítica que li na Revista Eletrônica Consultor Jurídico (artigo do Maurício Cardoso), trata-se de mais uma verdadeira choldra a obra do ilustre (!) "autor-dôtor".

E, para piorar a situação, ainda há os mandamentos para quem quiser lograr êxito nas provas.
O livro, infelizmente, tende a ser mais um daqueles com vendagem de milhões e milhões de exemplares, pois brasileiro, além de carente e acreditar em qualquer balela, ADORA essas coisas que não têm efeito nenhum.

Mas o psicológico... ah... é uma caixinha de surpresas.

Esse pessoal que é do mesmo ramo do Lair Ribeiro deveria ser preso como verdadeiros estelionatários intelectuais.

A bem da verdade é que isso não dá certo. Por exemplo: Ele é advogado? Quando ele prestou vestibular, em qual lugar passou?

E essas coisas de palestras de motivação, de auto-ajuda, Osho, Dalai Lama, Osama Bin Laden e sei lá eu mais o quê, só servem para angariar dinheiro fácil.

Mas, estamos no Brasil.

E, já que esse negócio de auto-ajuda dá certo, vou enveredar por esse lado também. Ô se vou.
E, o meu primeiro Best-seller, sim, pois esse negócio de livretinho não é comigo, terá o seguinte título: Para estressar sorrindo – dicas de sobrevivência no Brasil pós Lula.

O lançamento mundial será no dia 1º de janeiro de 2.011. Ajudem-me para eu ajudar vocês.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Ausência de Razão... Excesso de Emoção

Acontece de nos ausentarmos.

Por alguma razão, em alguns momentos de nossas vidas parecemos não estar presentes, meio que catatônicos, esperando algo passar pra poder recomeçar a viver.

Acontece também de nos fecharmos.

Por outras tantas razões, fechamos o cerco ao nosso redor, delimitamos passagem e quase que impermeáveis pra qualquer influência do mundo exterior, nos permitimos esperar algum sinal de menos perigo.

Acontece então de perdermos muito.

A Melinda é dessas meninas comunicativas, alto-astral coisa e tal, mas só depois de cinco anos de faculdade é que percebeu que sua turma era legal.

Cinco anos de convívio diário, cinco anos não criando vínculos futuros, pra em um churrasco de sua turma de formandos, notar que podia ter curtido muito mais daquelas pessoas.

A Mônica se reconstruiu a partir de suas desilusões amorosas. Firmou-se novamente no chão de sua vida, mas não sem erguer altos muros de desconfiança e descrédito. Não sem antes se sentir segura pra não amar plenamente mais uma vez.

"Nada de fortes emoções" – dizia ela.

Bastava ser amada, mas não necessariamente amar.

Descobriu que era amada e que podia amar mais, descobriu que queria sentir. Mas descobriu tarde então, e vai torcer todos os dias pra ter chance de viver. Porque descobriu em um outro abraço.

Uma saudade infinita, uma lembrança incômoda.

Por alguma razão, acontece de acontecer fora do tempo, ou pelo menos fora do tempo que desejávamos. E maldizemos a sorte e a falta dela.

Tentamos entender que testes são esses, e especulamos sobre uma infinidade de explicações sem ao menos saber pra que serviriam. Afinal, mesmo tendo escolhas algumas coisas precisam de tempo pra virar, pra ser algo.

Mas acontece que somos mesmo bastante precipitados...

Acontece bem de vez em quando de querermos o imediato, de desejarmos com todas as forças a mudança que até então não aparecia.

Acontece de nossa vida virar de ponta-cabeça. E talvez fosse exatamente isso que queríamos sem saber.

Por alguma razão, a emoção se torna essencial.

Sentir fora do tempo, desalinhado com a outra parte, não pode privar qualquer um de que esse sentir seja pleno.

Mas tem de valer à pena... Seja no beijo roubado mas esperado, seja no chocolate derretido na língua, seja num olhar novo e cheio de intenções, seja no abraço mais longo e colado do mundo.
Por alguma razão vale à pena esperar.

Mesmo que a percepção tenha se mantido embaçada e míope por anos, meio que em sinal de protesto e desaforo, pra nos fazer perceber alguma lição difícil, pra reconsiderar certos valores... Ainda sim, a emoção em duelo com a razão, é conflito doloroso mas intenso e recompensador.

Necessário pra gente virar gente grande, quem saber perceber o pouco tempo pra escolhas fundamentais? Quem sabe um motivo pra sorrir?

E se a dúvida reside aí, entre a razão de saber valer compromissos e emoção de querer sentir, então sempre resta um mesmo sonho pra esperar.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Demitindo o Gerúndio


Fiquei embasbacado. Juro. Custei a acreditar que, logo o Gerúndio, companheiríssimo dos operadores de telemarketing, foi demitido. Li umas três vezes a notícia no jornal. Não contente, fui ao google. Desconfiado ainda, fui até a fonte citada pelo jornal.
E, para meu grande espanto, lá estava a demissão do Gerúndio. Lá na página 19 do Diário Oficial do Distrito Federal do dia 1º de outubro, antes de ontem. A coisa era séria. Mais do que séria. Séríssima.
O Gerúndio agora não pode mais trabalhar em nenhum órgão do Distrito Federal. O coitado, agora, entrou na estatística dos desempregados brasileiros.
Será que ele solicitará ajuda do Governo Federal para conseguir um Bolsa Família? Será que, ainda, ele recebeu verbas rescisórias? Ele não teve que cumprir Aviso Prévio? Receberá Seguro Desemprego? Poderá sacar o FGTS? E a multa de 40%? A demissão foi com ou sem justa causa?
Sei que isso aqui está parecendo (!) um daqueles discursos do Rolando Lero, personagem da saudosa Escolinha do Professor Raimundo. Mas é que me despertou essas indagações.
Primeiro eu nem sabia que o Gerúndio era funcionário público. E, ainda pairam algumas dúvidas.
O Gerúndio era funcionário concursado? Ou será que era comissionado? Poderia ser, também, "celetista", não?
Na verdade, o tal senhor desempenhava qual função? Em qual parte da repartição pública ele trabalhava? Qual era a carga horária dele? Ele tinha algum curso superior? E, qual o motivo do governador do Distrito Federal decretar sua demissão? Imagino como foi a conversa prévia à demissão:
- Estava pensando, seu Gerúndio...
- Ahn...
- E estava analisando o seu perfil...
- Sei...
- E enquanto estava digitando...
- Diga.
- Acho que vou ter que acabar demitindo o senhor.
- É, mas por quê?
- É que essa coisa de gerúndio está enchendo
- É?
- Sim. Por isso vou estar demitindo o senhor.
A coisa deve ter sido mais ou menos essa, não sei. Mas o fato é que, queria muitíssimo saber como é que o Excelentíssimo Governador José Roberto Arruda conseguiu essa proeza.
Penso que, se a moda pega, o próximo a ser demitido pode ser o Particípio, ou a Crase, ou o Hífen, pois o trema já está em vias de ser demitido também.
A única coisa que tenho medo é que decretem, do jeito que a coisa anda, pena de morte ao Português.
E isso não está muito longe de acontecer. Por isso é que eu vou estar me previnindo antes.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Sob a perspectiva do dinheiro

Sim, porque eu sei sob qual perspectiva eu enxergo o dinheiro, mas não sei como o dinheiro me enxerga.

Mas acho que ele (o dinheiro) não vai muito com a minha cara. A efígie da república, por exemplo, grafada em todas as nossas cédulas reais, está sempre olhando para a direita, evitando os meus olhares, meio como fingindo que não me ouviu chamar.

(Para ver para qual lado a dona República estava olhando, fui obrigado a pedir uma cédula emprestada. Não tenho nada nos bolsos a não ser cartões de visitas). Mas estou prestes a adentrar em um mundo novo, onde talvez eu possa enxergar as coisas da perspectiva do tutu, da bufunfa, do caraminguá.

Hoje farei um curso de introdução ao mercado financeiro. Lindo nome, não?

Já estou cansado de ser pobre e sem perspectivas. Decidi, solene, a desvendar o tão complicado mudo das finanças. E, pelas minhas perspectivas, daqui a um ano, estarei na sombra e na água fresca, com uma bela morena a me abanar e uma bela loira a me servir bebidas.

Não faço muita idéia do que vou aprender no curso de hoje, mas vai ter coffee-break. Curso que se preze tem coffee-break com canapés e sucos. Manja, coffee-break? Coisa fina.

Minha idéia é transformar os cinqüenta reais que me sobram por mês, se eu não almoçar por três dias, em meu primeiro milhão de reais. Em, no máximo, dois anos.

É o segredo, gente, é o segredo. Já viram aquele livrinho que vende aos milhões no mundo todo? O Segredo? Pois é, é só acreditar.

Depois vou fazer um curso de Home Broker. A princípio, e traduzindo meio ao pé da letra, achei que era para trabalhar em alguma empresa de demolição de casas, mas pelo o que pesquisei, tem a ver com fazer o dinheiro crescer também. Aí ninguém me segura.

Tenho a impressão de que a efígie da república, nas notas de cem, é claro, vai me olhar de frente. Me encarar. E, se bobear vai até querer sair comigo. E eu topo, claro. Já repararam no rosto dela? Puxa essa nota de um Real amassada que você tem aí no bolso e dê uma olhada. Até que ela é bem bonitinha.

(O Segredo é o fiofó do Juca, como diria Chico Branco. Quem nasce pra pobre não adianta fazer mandinga, ler auto-ajuda ou jogar na Mega-Sena. O buraco é mais embaixo. Espero que o curso me traga mais que o coffee-break).

Fui, porque estou com fome.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Mulheres de listas

Descobri recentemente um problema que age negativamente nos meus relacionamentos: as listas.

Ou melhor, as mulheres que fazem listas.

Chamo de listas tudo aquilo que elas “colocam no papel”. Certeza você ouviu uma mulher dizer: - Espera aí, vamos colocar isso tudo no papel.

Então, são dessas aí que eu estou falando.

São mulheres que não vão a um supermercado sem a maldita lista de compras. Eu gosto de ir ao supermercado para olhar os produtos, descobrir novos sabores, experimentar novas marcas. Sou um explorador. Mas a mulher de lista não se deixa apaixonar pelo ambiente. Fica dependente da lista.

São mulheres que colocam no papel todo o itinerário da viagem de férias. E ainda fazem em tópicos: 1 – arrumar as malas; 2 – abastecer o carro; 3 – comprar o mapa rodoviário (mapa?); 4 – confirmar reserva no hotel; 5 – conferir as malas.

São irritantes, as mulheres de listas. Meu último relacionamento terminou quando ela fez uma lista de tudo o que ela não gostava em mim, de tudo o que poderíamos melhorar no relacionamento e tudo o que ela esperava para o futuro. Ela colocou tudo no papel, o que me fez pedir licença e ir explorar novos horizontes.

Mulheres de listas têm sempre canetas na bolsa, bloquinho de anotações e adoram papelarias. Mulheres de listas planejam como vão passar a próxima semana. Sempre em tópicos, claro: segunda-feira, manicure; terça-feira, cabeleireira; quarta-feira, bronzeamento; quinta-feira, dentista; sexta-feira, terapia.

Ah, sim, mulheres de listas sempre fazem terapia. Talvez as listas tenham uma influência grande no descontrole e no desequilíbrio das fêmeas. E saem da terapia já fazendo uma lista das atitudes que vão tentar mudar dali pra frente. Sabem como é, ela tem que querer mudar primeiro.

Descobri também que as mulheres de listas costumam usar roupas de baixo bastante comportadas e que perfilam os potes de cremes na pia na seqüência de uso.

E as mulheres de listas dirigem o carro com o banco sempre mais para frente do que o necessário.

E você, que também não se dá bem com mulheres de listas, nunca, mas em hipótese nenhuma, peça uma pizza sem consultá-la.

Eu não sou uma pessoa tão desorganizada assim, que precise fazer listas para tudo, mas eu gostaria de ter um escaninho na minha mesa.

Só desisti de ter escaninho depois que descobri que o escaninho se chamava escaninho. Achei o nome muito besta.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Fim de Casamento

- Selma, quero a separação.
- O que? Separação? Claudio, por que isso agora?
- Cansei. Não te amo mais. Quero me separar de você e correr atrás de menininhas.
- Mas Claudio, não te entendo.
- Selma, encare os fatos, nós não nos gostamos mais.
- Isso é mentira, Claudio. Você disse que me amava ontem a noite.
- Homens dizem isso na hora do sexo...
- Claudio, posso parecer, mas não sou tonta. Quem faz isso somos nós mulheres.
- Bem, é verdade. Não importa. Quero me separar.
- Mas por que então...
- Por que tudo tem que ter um porquê? Não tem porque, oras bolas.
- Como não Claudio? Você não podia ao menos...
- Contar isso em outro lugar? Imagina! Você faria escândalo. Não agüento mais seus escândalos. Por isso correrei atrás das menininhas.
- Menininhas não fazem escândalos?
- Fazem. Na cama...
- Machista!
- Você não fazia escândalos na cama também, Selma?
- Eu era uma menininha, Claudio!
- Tá vendo? Você concorda comigo...
- Pode ser, mas ainda não entendo porque logo hoje...
- Você vai perguntar de novo? Já disse...
- Me ofereceu café da manhã na cama, me mandou flores no escritório, me ligou não sei quantas vezes para saber se eu estava indo para casa me arrumar. Pensei que fosse uma surpresa.
- E não foi?
- Mas precisava me contar isso durante o jantar de comemoração dos nossos 25 anos de casamento?
- Jantar de comemoração?
- Sim Claudio! Hoje é dia 26 de novembro!
- Mas não tinhamos casado em 12 de dezembro?
- Claudio, como você consegue esquecer a data do nosso casamento?
- Desculpe querida, é que faço confusão com datas e...
- Não tem confusão, Claudio! Não aguento mais essas suas "confusões"!
- Mas querida, foi...
- Não foi nada! Quer saber?
- Querida! Peço perdão, me desculpe!
- Claudio, quero o divórcio!
- O que? Separação? Selma, por que isso agora?
- Cansei. Não te amo mais. Quero me separar de você e correr atrás de menininhos...

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Carta ao Senador


Caro Senador Sibá Machado (PT-AC),
Andei pesquisando algo sobre sua legislatura e sobre Vossa Excelência. Confesso que me impressionei pela sua história. Não por querer ser agricultor ou líder sindical, mas vi que sua trajetória foi sofrida, como de qualquer brasileiro.

Porém (sempre há um porém na vida, já percebeu senador?), determinados fatos não podem passar despercebidos.

Sou um brasileiro chato. Muito chato, senador. E, como todo chato, gosto de pesquisar. Detesto ser passado pra trás. Detesto que me passem a perna por qualquer motivo que seja.

Li no seu site pessoal, hospedado na página da internet do Senado, que V. Exª é bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Acre. Creio que estudou o suficiente para entrar numa universidade federal. Sim, há que se dedicar para entrar numa universidade pública, pois o acesso é complicado, mesmo nos cursos com pouca procura como é o caso do curso de geografia.

Escrevo tudo isso, senador, pois andei lendo alguns projetos de lei de sua autoria que, perdão, mas custou-me acreditar que fossem verdadeiros. Sim, pois pareciam piadinhas de mal gosto.

O que mais me chamou atenção é uma propositura do ano de 2005, que altera os artigos 44 e 45 da Lei nº 9.394 de 1996. Não sei se V.Exª se recorda desse projeto, mas ele extingue os processos seletivos nos cursos de graduação.

Ora senador, isso é um verdadeiro despautério. Pior, o senhor acha mesmo que o mais justo é o sorteio para ingresso numa universidade? Ah, convenhamos. Faça-me o favor. Trata-se de uma verdadeira choldra esse seu projeto.

Senador Sibá, retire esse projeto. Peça arquivamento, por favor.

A justificativa ora redigida por V. Exª no referido projeto é pior ainda. Os quatro itens elencados sobre o vestibular como:

- é um fato episódico, que não avalia o processo de aprendizagem, mas, tão somente um acúmulo de conteúdos cognitivos
- para ter efeito discriminador mais eficiente, acaba aumentando de tal forma o teor de dificuldade das questões, que exige um processo preparatório específico e descolado dos objetivos da educação básica e do ensino médio.
- pelo jogo da crescente dificuldade de se lograr aprovação em cursos de graduação mais concorridos e de melhor qualidade, acaba por selecionar não os alunos com mais aptidão, mas os que tiveram oportunidade econômica e social de freqüentar os melhores colégios e melhores cursinhos.
- a "maratona" de preparação e submissão aos vestibulares representa um trauma psicológico crescente.
- A maior virtude do sorteio, cremos nós, será a indução de mais vagas nas universidades públicas e gratuitas, federais e estaduais, principalmente por meio da criação de cursos noturnos.

Senador... leia seu projeto. Analisando, parece uma piadinha, daquelas que passam aos montes pela internet.

Esse projeto de lei é inconstitucional, pois não há o requisito da impessoalidade. Sei que V. Exª não é advogado, mas sei que conta com uma vasta assessoria jurídica.

Acha mesmo que sorteio é a forma mais justa? Se é assim, os alunos comprariam bilhetes da megasena para concorrer a uma vaga na USP, por exemplo? Sim, pois a probabilidade de adentrar se compara a ganhar na loteria. Ou, ainda, seria como? Faríamos um bingão? Cartela cheia universidade federal, linha estadual?

O investimento, senador, tem que ser feito no ensino fundamental e médio. Não adianta vir com subterfúgios esdrúxulos.

Aqueles que prestam vestibular, que fazem a prova e conseguem aprovação, se sentem orgulhosos, pois é fruto do trabalho dele o êxito. O que uma pessoa aprenderá na vida sendo sorteado?

Vaga em universidade pública não é premiação. É dedicação, esforço.

Isso não é democratização do ensino. Isso é banalização da educação, é dar continuidade a essa política de paternalismo imbecíl, é sermos tachados de ignorantes, é assinar o atestado de incompetência e ingerência administrativa educacional, é a condenação ao subdesenvolvimento intelectual.

Precisamos, senador, mudar o quadro instituído há anos e não dar continuidade a ele.
Obrigado,
Orlane Falcão
PS: Para aqueles que queiram ver o projeto na íntegra, entrem em: http://www.senado.gov.br/sf/atividade/materia/getHTML.asp?t=4257

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Apenas o cotidiano

De vez em quando eu gosto de almoçar sozinho. Não sei bem o motivo, nem sei se tem algum motivo, mas de vez em quando me dá na telha.

Outro dia resolvi. Saí do trabalho e fui num restaurante que não costumo ir. Mudar de ares, sei lá. Estava meio vazio. O garçom veio me perguntar para quantas pessoas era a mesa, e eu respondi que se ele quisesse almoçar comigo, seria para duas. Acho que ele não estava programado para ouvir uma resposta dessas, ficou me olhando como se eu fosse de outro planeta. Esses garçons são meio bitolados.

Sentei-me próximo da janela. Gosto de ficar olhando o movimento da rua. Talvez por isso que não me sinta muito confortável dentro de igrejas ou de supermercados.

O garçom voltou e perguntou se eu gostaria de olhar o cardápio. Respondi que só olharia se ele fosse bonito. Não gosto de olhar para coisas feias. O garçom sorriu amarelo. Disse que os cardápios estavam um pouco gastos, mas que eram muito bonitos quando eram novos. Aceitei de qualquer maneira. Ele também não estava preparado para este tipo de observação.

Logo entrou um casal. Jovens, bonitos e de caras amarradas. Sentaram-se na mesma fileira de mesas, próximo da janela, mas com uma mesa vazia entre nós. Não sou de ficar reparando nem de ficar bisbilhotando a vida alheia, mas o casalzinho conversava num tom de voz que seria impossível não ouvir.

Pelo o que eu entendi era um noivado que estava mais próximo do fim do que do casamento. A moça estava de frente para mim e tremia, a coitada. O rapaz de costas, com o corpo projetado para a frente, sobre os braços cruzados apoiados na mesa.

Ela não acreditava que ele tinha feito aquilo. Ele não entendia o porquê dela ser tão descontrolada. Ela pedia para ele explicar. Ele perguntava o quê deveria ser explicado.

Ela dizia que assim não dava, que ele não ouvia, que ele pensava que ela era boba. Ele dizia que não era nada disso, que ela era histérica e que estava “viajando”.

Sinceramente, o papo deles estava muito mais interessante do que o meu espaguete.
O garçom veio e os dois pediram refrigerante. Light. O garçom trouxe os refrigerantes. Não light.

A moça bufou, olhou o para o garçom e perguntou se ele era surdo. O rapaz interferiu e, de forma mais polida reiterou o pedido ao garçom – Light!

O rapaz disse que ela era grossa. Ela disse que ele a tratava como criança. Ele colocou a cabeça entre as mãos. Ela enxugou as lágrimas.

O garçom voltou e disse que não tinha light. Só normal. O rapaz, enfurecido, pediu então um copo de cianureto com gelo e limão. O garçom disse que iria perguntar ao gerente se tinha cianureto.

A moça riu. O rapaz olhou pela janela e riu também. Ela disse que ele era bobo. Ele disse que ela era linda.

Foi uma cena e tanto. Levantei-me para pagar a conta, ainda a tempo de ouvir o garçom, que havia regressado, dizer para o casal que infelizmente o cianureto também estava em falta.
Saí do restaurante com os dois ainda às gargalhadas. Valeu o dia.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

A maior mentira do mundo

Na infância acredita-se em muitas coisas. No Papai Noel, no coelhinho da Páscoa e na virgindade da Sandy. Eu, além disso, também acreditava na propaganda. Ia até a padaria, comprava um Suflair, colocava em cima da mesinha da sala, e ficava sussurrando "suuuuflaaair" repetidas vezes, mas o chocolate nunca flutuava. Problema de entonação, não tenho dúvidas. A moça da televisão sabia cantar certinho, e funcionava. Entonação.

Essas coisas todas, aprende-se mais tarde, não passam de invenções para convencer as crianças a serem boazinhas o ano inteiro (eu nunca fui, mas a indulgência vinha mesmo assim), ou convencê-las a comprar o produto certo. As mentiras, grandes como elas são, chegam ao ponto de inventar um velho barbudo maníaco por dar presentes, um coelhinho com problemas proctológicos, e o Programa Espacial Brasileiro.

Porém uma certa mentira se mantem geração após geração sem sequer ser notada. Uma mentira grande demais, mesmo para um namorado da Sandy. A verdade é reveladora, leitor. Esta verdade pode ser, inclusive, perigosa. Eu mesmo temo pela minha segurança. Se algo acontecer a mim (um raio, ganhar na loteria, ter um rim falho) podem ter certeza: foi por revelar a verdade. Se você quiser se proteger disso, por favor, não leia. Vá comprar ovos de páscoa, que causam, no máximo, cáries. Melhor uma mentira inofensiva que uma perigosa. Mas a escolha é sua.

Pare agora, ou prepare-se para sofrer as conseqüências.

Pois bem, a escolha foi sua. Lá vai. Você já comeu cereja? Sim, aquelas coisas que vêm sobre os bolos. Cerejas. Crianças adoram cerejas. Elas são doces, vermelhas, e cheias de calda. Todos imaginam que essa calda doce e translúcida seja feita industrialmente, claro. De certa forma, talvez o processo seja parecido com o dos pêssegos em calda. Pêssegos em calda, cerejas de bolo em calda. Certo?

Errado. Essas não são cerejas de verdade. Essas "cerejas" confeitadas são de... bem... er... como dizer? Imagine uma coisa que você não comia, absolutamente, na infância. Na verdade, nenhuma criança come, sábia que é. Descobriu?

Sim, chuchu. Chu-chu. Pegam aquela coisa verde, nojenta e cheia de água para transformar, com glicoses e aromatizantes mil, na sensual cereja. A cerejinha que coroa o sorvete é, na verdade, o chuchuzinho do sorvete. A luta pelas bolinhas vermelhas do bolo é, afinal, uma luta para ver quem come mais chuchu.

Crianças se digladiando nas festas por chuchu. Chuchu! Que louco sádico inventaria tal artimanha? Como puderam nos enganar tanto tempo? É um absurdo! A humanidade está perdida. Como confiar agora nos concursos de misse, no sorteio dos times para a Copa do Mundo, na paz entre os homens?

Mas esperem. Talvez ainda exista alguma esperança. Se der certo, é claro. Tentem comigo. Encha os pulmões e sussurre: Suuuuuuflair...

sábado, 11 de agosto de 2007

O Motel

- Viram teu marido entrando num motel.
A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.
- Quando? Onde? Com quem?
- Ontem. No Discretíssimu's.
- Com quem? Com quem?
- Isso eu não sei.
- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
- Não sei, Lu.
- Carlos Alberto me paga. Ah, me paga. Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo e contou por quê.
- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel? Era você!
- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. - Discretíssimu's! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
- Pois então?
- Pois então, que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minha amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
- Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito, Lurdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?
- Vou!
Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa,com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio:
- Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dico.
- O que ele queria?
- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que,como meu amigo, tinha que contar.
- O quê?
- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu's ontem, com um homem.
- O homem era você!
- Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
- O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
- E então?
- Desculpe, Lurdes, mas...
- O quê???
- Vou ter que te dar uma surra...

*Conclusão : *Devemos cuidar apenas da nossa saúde, porque da nossa vida, todo mundo cuida.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

A Velha Questão Tostines

Essa todo mundo conhece, não é? Tostines vende mais por que é fresquinho, ou é fresquinho por que vende mais?

Hoje, enquanto olhava pela janela do carro, voltando de uma reunião quilométrica, fiquei a pensar na Questão Tostines.

Será que eu trabalho para viver ou vivo para trabalhar?

Passo a maior parte do meu dia trabalhando e quando saio do trabalho estou um caco. Pego trânsito e demoro para chegar em casa. Em casa só dá tempo de comer alguma coisa, ver alguma notícia na televisão e cair na cama.

Acho que eu vivo para trabalhar.

Mas se não for assim, não tenho meios bastantes de subsistência, como gostam de dizer o pessoal do direito. Eu digo por uma questão de direito.

Como vou levantar um cascalho para as prestações do carro, para o vestuário, para a alimentação, para a conta do celular (pré-pago, claro), para meus livros, os impostos e uma eventual cachaçada dançante? Hora ou outra tenho que me divertir, não é mesmo?

Pensando desta maneira, até que trabalho para viver.

Nos finais de semana, penso em telefonar para meus colegas e amigos da empresa para marcar um churrasco ou algo assim. Por um lado é bom, significa que possuo um ótimo relacionamento interpessoal, como gosta de dizer o pessoal do RH, mas por outro, significa que meu círculo social está se restringindo ao ambiente de trabalho.

E quando esses churrascos ou algos assim acontecem, qual o assunto? Projetos, diretrizes, estratégias...

Tenho a impressão de que estou vivendo para trabalhar.

Ao mesmo tempo que me é pessoalmente compensador quando sinto que aprendi algo novo, mudei minha maneira de pensar, amadureci em alguma questão, resolvi um pepino sem prejudicar nada ou a ninguém e saio do trabalho com a sensação de missão comprida. Isso dá forças para encarar a vida de uma maneira mais positiva.

Encarar a vida de uma maneira mais positiva foi uma frase muito boa. Me faz pensar que assim trabalho para viver.

A próxima vez que eu estiver voltando de uma reunião, vou tentar pensar naquela do ovo e da galinha.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

31 de julho

Pois é... Acabei de saber que 31 de julho é Dia do Orgasmo. E eu que não sabia que há um dia especial no calendário para comemorar o orgasmo.

Para mim, dias marcados em calendários sempre foram dias de santos, ou feriados nacionais, ou festas inventadas pelo comércio para vender mais. Acho até que orgasmo é algo para se comemorar mesmo com quem quer que você esteja, incluindo você mesma... mas dia do orgasmo é meio muito, não?

Vai ver que é porque ultimamente ficou muito popular a coisa: todo mundo acha que tem direito a um, ao menos. Eu acho que todo mundo tem direito a tantos quanto quiser. Ou vai ver que depois que descobriram que a gente também gosta (já faz um certo tempo, não?), resolveram guardar um dia especial no calendário para comemorar o orgasmo.

Ainda bem que na maioria das cidades não tem mais aquela coisa de comemoração nas escolas. Já pensaram? Crianças em fila cantando o Hino Nacional em homenagem ao orgasmo? Agitando bandeirinhas? Como seria o símbolo da bandeirinha? Gemeremos juntos para comemorar? Tá aí: vamos murmurar o Hino Nacional, gemendo quando acontecerem as notas mais altas e soltando um "ai" ao final! E vai ter distribuição gratuita de camisinhas? Devia ter de Viagra também. As lojas vão fazer promoção especial de lingerie e cuecas? Vai ver que nas sex shops todos os acessórios vão estar em promoção... E eu falei "acessórios" porque senão fica meio complicado explicar os itens.

Sei não, não me parece que seja assim uma data muito comercial... excetuando-se a turma que exerce o ofício, que tem todo o meu respeito, fica meio complicado passar uma propaganda na televisão anunciando uma promoção especial do Dia do Orgasmo. Tem gente que ainda acha que tem que haver uma certa... assim... digamos... discrição quanto à coisa propriamente dita.

Então vai ver que é dia de santo mesmo. "Santo Orgasmo". É, é isso. Padroeiro do bom humor, da pele bonita, do sono revigorante, tiro e queda para tensões, bom para resolver brigas de casal (ao menos temporariamente), bênção fundamental para um lar tranqüilo. Bênçãos de Santo Orgasmo aparecem a todo momento na vida da gente, até quando estamos muuuuuuuito apertados para ir ao banheiro ou quando comemos algo muuuuuito bom.

Então, a todos, um feliz Dia do Orgasmo. Comemoremos, pois, da forma que acharmos melhor: aos escandalosos, um grito daqueles de aparecer reclamação do síndico; aos timoratos, um olho bem revirado ou coisa que o valha; aos discretos, um gemido longo; aos nervosos, uma gargalhada daquelas; aos asmáticos, nenhuma crise!

Ah! sim: champanhe ou vinho serão sempre boas bebidas para comemorar o santo. E não se esqueçam da bandeirinha... a bandeirinha é ótimo!

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Roberto, o Homem ideal

Roberto durante anos colheu e estudou as informações que as mulheres deixaram escapar em entrevistas, revistas e até falsos cochichos em um grupo de mulheres papeando. Aliás foi assim que conseguiu uma das suas primeiras namoradas. O fato dela estar cuidando dele por estar quase em coma alcoólica não vem ao caso. O importante é que fez todo esse estudo para conseguir se tornar algo inexistente. O Homem Ideal. Algo que as mulheres procuram por todos os cantos desse mundo. A razão pela qual elas se relacionam com essa raça (homens). Essa procura que se estampa pelas Claudias, Novas, Marie Claires e Meninas Veneno de todo o mundo.

Depois de processados todos os dados (não são listados senão seriam uma crônica por si só.) estabeleceu seu plano de ação e começou a executá-lo.

Entrou na academia, adotou uma dieta balanceada, começou as aulas de italiano (eles são sexy dizem elas), o inglês já sabia. Arranjou um trabalho social, fez sua empresa ir para frente, comprou um apartamento bom, nem grande (pra não esnobar) nem pequeno (um homem tem que ter ambições). Se matriculou em aulas de Jiu-Jitsu (tem que defender a amada) e comprou uma porção de livros. "Homens são de Marte mulheres de Vênus" foi o primeiro.

Roberto acabou gostando dos seu novo estilo de vida, conversava melhor, se portava melhor, tinha dinheiro e sabia protegê-lo. Todo seu esforço começou a dar resultado e pouco a pouco foi colecionando novas experiências e se direcionando ao último e grande desafio. Querer um compromisso. O Homem Ideal não tem medo de compromisso.

Conheceu Laura, uma mulher incrível, inteligente, sincera, segura, solteira. Se entrosaram muito bem, ela fazia francês na mesma escola que ele, logo mudou também para sua academia pois 2 horas longe um do outro era muito tempo. Os dois ficaram juntos e felizes, mas Roberto havia adquirido um vício, se tornar o Homem cada vez mais Ideal.Não haviam mais desentendimentos, tudo era unanimidade, ele nem assistia mais o futebol, a mãe dela era mais querida que a dele e ele até aprendeu a fazer xixi sentado.

Só que acompanhado de tudo isso veio um efeito colateral. A falta de libido. A vida sexual deles estava em perigo de extinção. Apesar de estarem se falando mais do que nunca e nem precisarem discutir a relação. Ele entendia ela em todos os sentidos mas em vez de papai e mamãe eles estavam mais para irmãozinho e irmãzinha.

Como havia de ser um dia eles sentaram pra conversar sobre isso. E Roberto disse que essa foi a relação mais saudável que ele já teve, que eles se entendiam muito bem, porém ele precisava de mais compreensão, ela não entendia as necessidades dele, que ele queria uma pessoa mais sincera, mais preocupada com as causas sociais, ou seja, ele queria um Homem Ideal. Apesar de espantada ela entendeu exatamente o que ele queria, então eles se separaram em clima pacífico. Se tornaram melhores amigos, mas cada uma seguiu seu rumo, cada um procurando seu homem ideal.

Roberto entendeu tão bem a alma feminina que acabou se tornando uma.

sábado, 14 de julho de 2007

Idiossincrasia é isso aí!

Durante anos e anos essa palavra me intrigou de uma maneira idiossincrática. Ninguém parava para pensar em idiossincrasia como eu. Por isso, essa era a minha idiossincrasia de analisar essa tal de idiossincrasia.

Cada vez que me deparava com esse vocábulo, eu me intrigava e me prometia pesquisar idiossincraticamente sobre seu significado, radicais gregos, latinos e livres, importância histórica e, obviamente, ortografia. Mesmo porque (confesso ...) sempre achei que o certo era "idiossincracia". Daí minha preocupação com sua importância histórica:

Depois da monarquia, a oligarquia. Depois da oligarquia, a democracia. No meio de tudo isso, a "Idiossincracia" advinda de Idocrásio, o Peculiar, na Roma Antiga. Aliás, sempre achei que idiossincrasia poderia ser um daqueles neologismos engraçadinhos para descrever a forma do governo atual. Sacou ?

Uma vez, até apelei para um dos maiores mestres que já tive, o professor de língua portuguesa Platão (quase dois metros de altura), e perguntei o significado de tal palavra. Num sorriso de canto de boca, ele quase sem me olhar, disse - Não sei não ... - Eu já sabia que essa era a resposta mais inteligente que poderia ouvir(com um didatismo idiossincrático!). Só assim, encubei essa dúvida por anos e anos, para que finalmente o dia chegasse. O chamado surgiu quase que espontaneamente:

-Aurélio !! Cadê você ?!

E ele, com a prontidão de sempre, na página 739, coluna 2, linha 3, me respondeu: [do grego Idiosygkrasía] 1. Disposição do temperamento do indivíduo, que o faz agir, de maneira muito pessoal, à ação dos agentes externos. 2. Maneira de ver, sentir, reagir, própria de cada pessoa.
Só isso ? Essa palavra espetacular, enorme, misteriosa, magnífica, e, agora posso dizer, idiossincrática só quer dizer isso: Peculiar ... Pôxa, seu Aurélio! Tirando o nome em grego essa definição não é nem um pouco idiossincrática. É como falar que "defenestrado" é sinônimo de "bonito"!

É triste como sempre idealizamos fantasticamente o desconhecido. Só na nossa ingênua cabeça que: Morena, 1,78 m, 62 Kg, olhos verdes e cabelos compridos são sempre uma mulher linda! Quem garante ela não tem uma cicatriz da testa até o queixo, seja vesga, com a língua presa, manca, cabelos compridos porém em todas as direções desrespeitando inclusive a Lei da gravidade, tudo isso, é claro, de maneira indubitavelmente idiossincrática.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Sala de espera

Depois de brincar com meus próprios dedões por alguns minutos, comecei a achar que aquela sala de espera estava se tornando tediosa.

Como seria bom se exatamente agora, uma mulher linda, solteira e simpática entrasse na sala.
Não menos do que 1 minuto após meu impetuoso desejo ter sido feito, tal mulher entrou na sala. Tinha imaginado uma loira e a mulher que entrou era morena com mechas claras o que a tornava ainda mais interessante.

- Bom dia. - ela disse.

- Clufahan Hãããn ... Er ... oi. - respondi, com muita classe.

Sempre tenho dificuldade para responder rapidamente quando sou pego de surpresa. Mas sempre me saio bem, no final.

Voltando ao desejo, ela era linda e simpática. Só uma mulher simpática diz “oi” para um homem que brinca compulsivamente com seus dedões numa sala de espera.

- A senhora já tem ficha aqui ? - perguntou a secretária

- Ainda não. - respondeu ela.

- Ahãããn Cluf ... - acrescentei.

Como toda mulher linda e simpática, ela esboçou um sorriso ao me olhar discretamente.

Começou então, o pequeno interrogatório feito pela secretária até que a bela Cláudia (sim, com muita perspicácia consegui descobrir seu nome) confessou ser a mulher dos meus sonhos :

- Solteira, infelizmente.

- UI ahãnnn Cluf ... Ô luta, meu pai ... - pensei.

- Pois não. - respondeu ela, sorrindo com aquele sorriso que só mulheres como ela conseguem fazer. Ela ria de mim, mas num tom carinhoso.

Será que eu disse o que pensei alto ? Acho que sim. E ela, como não poderia deixar se ser, fingiu não ter entendido. Parti para a dissimulação.

-Ah ... Me desculpe. Me empolguei com a reportagem que estava lendo. Bobeira minha.

- Magina! - respondeu ela, fazendo aquele gesto com uma mão que normalmente quer dizer “Magina!”.

Ufa! Acho que tinha me saído bem. Tirando o fato de que eu não tinha nenhuma revista nas mãos, claro. Isso realmente poderia ter maculado, um pouco, minha interpretação. Malditos detalhes!

- Com licença ? - disse ela, ainda rindo.

Para me redimir, antes de responder, dei uma leve olhada para meu relógio. Típico movimento que só um homem de muita classe consegue fazer antes de responder uma pergunta deste nível.

- Sim ... - retruquei com a certeza de que a surpreendi.

- Nós já não nos conhecemos antes ? - disse ela sem mostras de maiores surpresas.

Acabei me lembrando que também estava sem relógio de pulso, e meu gesto fatal, pode ter se tornado um pouco inócuo. Dessa vez, confesso. Senti o golpe. Dois diretos no rosto na seqüência. Se ela não me deixasse respirar um pouco, eu beijaria a lona em instantes.

Fingi ter deixado meu celular caído no chão, e soltei um leve “ oh ...” para completar a ação. Eu precisava de tempo.

- Olha ... não quero me parecer uma mulher atirada, mas realmente senti uma energia diferente em você? Você acredita em destino?

Levantei rapidamente. Gesto absolutamente aceitável quando você deve pegar algo que está no chão. Torcia desesperadamente para que meu técnico jogasse a toalha no meu córner para que a luta fosse interrompida. Sem querer, chutei meu celular para longe. E ao bater na parede, ele se dividiu caprichosamente em duas partes. Como não queria correr o risco de parecer um homem atrapalhado pisei com toda força que tinha na bateria que voou para perto de mim. Agora sim. Mostrei quem estava no controle. Corri então para o outro lado da sala. Somente uma ajuda divina me salvaria.

- Ai ai ... adoro homens tímidos, sabe? - disse ela, sem um pingo de bondade no coração. Não queria saber o que ela pensava dos outros homens.

Sem perder a compostura, segurei a bateria em uma mão, e levantei do chão. Sim, acho que, no calor da conversa, me esqueci de contar que dei uma linda ponte (como fazem os goleiros profissionais) para agarrar a outra parte do celular.

Fingi, então, que o celular tocava no modo silencioso, e dignamente, segurando o fone, saí correndo, como quem se retira educadamente do recinto para não perturbar os outros com sua conversa.

- Alô, alô ! eu gritava, para que ela percebesse quanto o “pseudo-sinal” estava fraco.

E assim, fui para a rua certo de que não tinha mais nada a fazer. Ah, se eu fosse um homem tímido!

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Banho de idéias


Descobri que o banho, além de limpar e relaxar, é um ótimo lugar para se pensar. E quando digo isso, refiro-me, exatamente, ao banho e não no conjunto todo, o banheiro. Está certo que não é o lugar mais adequado, porém, por vezes, é o mais insólito. E nada melhor para se pensar do que estar em plena solitude.

Cometei aqui certa vez da solitude. Minha companheira inseparável, a dita cuja. E em meu banho não é diferente. Mas não é sobre ela que quero comentar.

O banho é uma coisa sagrada. Deve existir um santo pro banho. Um santo banhista, não sei. E caso não haja, encaminharei ao papa uma solicitação de que se ache um santo banhista lá pelos lados do Hawaí. Ou em qualquer outra costa que se ache o encosto. Como ainda não temos o bendito do santo, voltemos ao banho.

Cá entre nós: quantos de vocês, ao entrar (!) no chuveiro, apenas tomam banho? E, quando pergunto isso, já informo que você está sozinho, desprovido de companhia. Sinceramente, não sei. Nunca fui de chegar em alguém e dizer: “Ei! Você! Quando entra no banho, você só toma banho ou fica lá de bobeira?”. É que esse “de bobeira” remete a uma porção de bobagens.

Tem gente que gosta de banho musical. Ou levam um radinho três em um ou, não sei se existe ainda, soltam a caixa do aparelho de som e a levam até o banheiro. E por lá ficam horas e horas, ouvindo, curtindo um som na maior paz. Aí me pergunto: será que o cara dança lá dentro? Será que ele canta? O que será que acontece lá dentro? Se for um mantra a música, ele entra em alpha e medita com a água batendo na cabeça? A queda d’água, gelada ou quente, estimula os tímpanos para melhor audição da música?

Isso é matéria de estudo. De muito estudo.

Há o banho sauna. Geralmente a cidadã fecha a porta do banheiro a chaves, liga o chuveiro e começa a cortar a unha enquanto a água cai e o vapor sobe. Quando a coisa já ta bem branca e ela não consegue mais ver a unha do pé, a pessoa se digna a entrar no banho. E é um banho D E M O R A D O. Quando a pessoa acaba seus afazeres e abre a porta, parece que a nave da Xuxa chegou na residência, pois todo aquele vapor sai de uma vez só do banheiro. Mas não deixa de ser um banho interessante. Faz bem pra pele e abre os poros, segundo “dizem”.

Tem gente que vive no espírito da quaresma o ano todo e adora essa coisa de “mortificações” e “penitencias”. Esse tipo de mandinga não pega comigo. Mas o povo vive com suas crendices e adora fazer um drama. E é aí que entra o banho masoquista. Esse é aquele banho que se é tomado lá pelas cinco da manhã em pleno mês de julho, quando o inverno está “tinindo” aqui pros lados do sul do Brasil. Pois bem, o cidadão vai lá e desliga a chave do banheiro pra tomar banho gelado. Pasmem, ainda saem do banheiro tremendo e dizendo: “Faz um bem pra circulação sangüínea”. Eu mal consigo levantar da cama no frio, quem dirá tomar um banho gelado a cinco graus. Esses, com certeza, fazem um Yoga antes de entrar no banho para, justamente, não pensar em nada e não sentirem nada, principalmente frio. Geralmente esses banhos são rápidos e no final do mês dá gosto de ver a conta de água e luz.

O “chéq-chéq” é o banho rápido. Tão rápido que a pessoa só lava as “partes” e já desliga o chuveiro ou sai do bidê, ou, ainda, da pia. É que muita gente tem revolucionado essa coisa de se banhar, já que o tempo anda escasso e fazem de tudo para economizar água.

E, por fim, há o banho pensativo. Esse é daqueles banhos longos, demorados que, quando o cidadão sai do banheiro, parece uma uva-passa de tão enrugando. Geralmente são nesses banhos que vêm as melhores idéias, as melhores aulas, as melhores respostas aos namorados naquela briga em que você ficou mudo, a sacada genial na prova de química que você tirou zero, as melhores artimanhas para fugir do castigo indo pro clube se divertir se não fosse a sua mãe ter te trancado dentro do banheiro, enfim, tratados, teses de mestrado e doutorado e, até, solução para a crise aérea brasileira.

Só que o problema é que não anotamos e esquecemos do que pensamos no banho. Pensei em inventar um papel impermeável e uma caneta que escrevesse no molhado. Um kit-banho-pensativo. Mas aí eu já iria fazer do banho um escritório e não daria muito certo.

Bem, confesso que a crônica não era para ser bem essa, mas como acabei de tomar banho, as idéias foram ralo abaixo e deu nisso.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Chatus Viajadus


Viajar de avião é uma coisa engraçada. Nestes últimos anos, devido a profissão ingrata de consultor, tenho viajado muito. A cada vôo que faço, fico observando as pessoas que entram e saem dos aviões e pensando em cada um deles. Já me deparei com cada tipo que vocês não acreditam!!!

Primeiro, tem os apressados. A aeromoça começa chamando a primeira classe e a classe executiva, mas sempre tem o apressado chato que está na última cadeira da classe econômica e que quer entrar primeiro no avião. Eu classifico estes como o chatus apressadus.

Tem aquele inconveniente, mal senta na cadeira, começa a conversar com você e não percebe que você está a fim de dormir para ver aquele vôo passar logo. Acha que todo mundo viaja para se divertir ou viaja de férias e faz um interrogatório inteiro sobre o que você faz, de onde vem, para onde vai, o que vai fazer, entre outras coisas. Estes são os chatus interregatorius.

Existem os chatus religiosus. Estes deixam o avião decolar, deixa servirem a comida, e quando você menos espera e acha que vai poder dormir o vôo todo, ele começa a falar sobre religião, puxa sua bíblia, e começa a pregar para você. Não que eu tenha alguma coisa contra isso mas dentro de um avião é dose!!!!

O fantástico é ver aquelas famílias com quatro crianças, pai e mãe entrando no avião e que decidiram não despachar nenhuma mala para descerem mais rápido do avião. Resultado, a mãe vem com duas malas de rodinha, segurando o filho mais novo, o pai com mais duas malas de rodinha e os filhos com as malas de brinquedos. Sempre chegam por último no avião e querem colocar todas aquelas imensas malas nos bagageiros superiores. Que lástima! Este eu classifico como o familius atrapalhadus viajandus.

Mas tem um certo tipo de passageira que é fantástica, mas nunca se senta ao meu lado. Estas são as modelus viajandus. Fico sentado na minha cadeira esperando que aquela “Julia Roberts” entre no avião e venha sentar-se ao meu lado. E torço para que ela seja do tipo chatus persistentes. Mas elas entram no avião e sempre sentam-se do outro lado. Pôxa, viajar naquela poltrona é tão incomodo. Poderia ficar mais tranqüilo se eu estivesse bem acompanhado...

Tem o chatus tecnologus, que sempre utiliza o notebook para fazer barulho de teclado enquanto tento dormir. Quando pára com o Notebook, liga o walkman, quando desliga o walkman, pede para ir a cabine do avião ver como faz para voar com um Boeing 737.

Mas para mim o pior de todos é a classe do chatus viajadus. Reclama da poltrona, reclama da modelo que não sentou ao seu lado, reclama da comida, reclama da pessoa que sentou ao seu lado e fez aquele interrogatório ou ficou pregando pedaços da bíblia. Só faltava reclamar de tudo isso em uma crônica. Ih, achei minha classe....

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Para uma barata escondida (sabe lá onde) em meu quarto.

Tem uma barata no meu quarto,
Em algum canto da bagunça arrumada do meu quarto ela se esconde.
São quase duas da manhã;
Uma estúpida barata
Imaginária/real
Se esgueira por detrás de algum dos meus livros.
Será que está lendo O PRÍNCIPE de Maquiavel?
Eu nunca li, só está aqui de enfeite.
E se ela ler A METAMORFOSE de Kafka?
Certamente entrará em crise existencial.
Existe certamente uma barata,
Possivelmente em crise,
Em algum lugar da bagunça arrumada do meu quarto.
Se o mundo acabar amanhã,
Não vou deixar nada em testamento para ela.
Se ela conseguir sobreviver...
Que seja sem meu som, meus discos e fitas,
Meu telefone e meus livros.
Seja por seus próprios meios.
São duas e dez da manhã,
E uma estúpida barata se esconde em algum canto;
Possivelmente ao meu lado.
Não consigo dormir!
Uma fétida barata me tirou o sono... Porra!! São duas e quinze e ela não aparece!
Me sinto como um namorado, traído...Com rosas (no caso um chinelo) na mão,
Esperando a amada,
Uma baratona cascuda
Que certamente encontrou algo melhor para fazer.
Será que ela tá visitando algum país do meu globo?
Além da estúpida barata desaparecida,
Apareceu uma estúpida muriçoca
Que quer (mesmo contra o ventilador) me picar.
Uma barata, uma muriçoca e todas as luzes acesas,
(não sou besta de apagar)
rezem uma prece pela falecida muriçoca
(acabei de matá-la).
Só falta a baratona cascuda que está escondida...
Outra muriçoca...
Sacanagem...
Isso é sacanagem!!
Um quarto com Baygon, muriçocas à vontade.
Uma barata escondida,
Deus sabe onde,
Um ventilador ligado e todas as luzes acesas.
Duas muriçocas a menos e um relógio marcando duas e meia.
Isso definitivamente não é uma poesia!!
Menos outra muriçoca (EU 3 X MURIÇOCAS 0),
Vou chamar a Elis Regina para dormir comigo.
A barata que se faça de besta,
Eu a esmago depois que terminar a não-poesia em sua homenagem.
E quando amanhecer, não sairá em nenhum jornal local.
A única sobrevivente do mundo pós bomba-atômica.
Uma baratona cascuda, culta e letrada
Que lia Maquiavel, Kafka, Gabriel Garcia Márquez, João Ubaldo
E Jorge Amado
Enquanto visitava todo o mundo no meu globo.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Sobre as misses

O plural de miss é misses mesmo? Se for, o meu editor de texto ainda não aprendeu, porque reclamou sublinhando a palavra com uma cobrinha vermelha. Não confio nesse meu editor de texto, às vezes ele é muito burro. Mas às vezes eu também sou, por exemplo, a ponto de não lembrar que miss é em inglês. Enfim.

Fui cobrado por alguns leitores pelo fato de não ter escrito uma linha sequer sobre o último concurso de Miss Universo. Não escrevi pelo simples motivo de que não acompanhei, não assisti e só soube o resultado no dia seguinte.

Escrevi sobre o tal concurso em... (só um momento, tenho que pesquisar)...ah sim, em junho de 2004 e aquele foi o último concurso de misses (mais cobrinha vermelha) que acompanhei.

É sempre a mesma velha história, as tais mocinhas mais belas de cada país não são as mais belas nem aqui nem na Globo. A que ganha nunca é a mais bonita e aquele desfile de roupas típicas é totalmente atípico (contaram-me que a brasileira estava de borboleta).

Lá em 2004 eu desci o malho nas moças, distribuindo adjetivos como “feia”, “bochechuda”, “cabeçuda” e “cara de velha”. Teve até um suposto parente de uma delas que me mandou um e-mail indignado, lamentando a minha falta de caráter e hombridade por dizer aquelas coisas. Digo suposto parente porque o endereço de e-mail do cretino trazia o mesmo sobrenome de uma das xingadas. Ou é parente mesmo que mora aqui no Brasil ou é algum tarado fanático que deve ter se encantado com a tal miss e que hoje deve ser filiado a algum partido político.

Dia desses vi no ônibus uma moça que poderia ser candidata a Miss Universo sem grandes problemas. No ônibus! Convivo com meninas que poderiam facilmente concorrer a Miss Sistema Solar, ou Miss Via Láctea.

Sobre o resultado do concurso deste ano, só posso dizer que qualquer uma das duas finalistas merecia a coroa. A japinha é realmente uma graça, mas se bem que sempre tive uma queda pelas nipônicas.

Mas como do outro lado estava a brasileira, a japinha instantaneamente se tornou uma baranga, mocréia, vagabunda, ridícula e vesga. Nosso ufanismo é capaz de muitas atrocidades. E já ouvi dizer que agora a candidata brasileira vai sair pelada em revista, vai ter programa de televisão, talvez participar de alguma novela e alguns reality shows.

Coitada da moça.