sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Marta? Amor?

- Sabe de uma coisa?

- Que?

- Você está linda hoje?
- Por quê?

- Hein? Como assim por que?

- É. Por quê?

- Porque está ué. Não posso te elogiar?

- Pode. Mas porque isso agora?

- Porque deu vontade falar ué. Olhei pra você pensei “nossa, como ela está bonita”. Mas desculpa, não falo mais.

- Não é isso. Tem alguma coisa aí?

- Alguma coisa? Que coisa? Não tem coisa alguma.

- Tem sim. O que foi? Você fez algo errado?

- Não, não fiz nada. Não é possível que você vai fazer isso.

- Isso o que?

- Transformar um elogio meu numa briga.

- Não é briga. É que você disse uma coisa estranha então deve explicações.

- Explicações??? Como assim explicações? Ta bom. Gostei do jeito que seus cabelos estão caindo sobre seus ombros. Da sua feição feliz.

- José Roberto, não me provoca.

- Te provocar???

- É, fica fazendo gracinha pra escapar.

- Escapar do que???

- Do que??? Que cara de pau. Do que você fez de errado.

- Errado? O que eu fiz de errado?

- Você quem me diz.

- Isso ta ficando louco demais. Eu retiro ta bom. Você não está linda hoje.

- Quer dizer que estou feia?

- NÃÃÃÃÃÃOOOOO! Inferno.

- Não o que?

- Não você está feia. Está linda como sempre. Como todos os dias.

- Quer dizer que você está entediado. Que não tem mais tesão por mim. Por isso foi procurar outra mulher?

- Que outra mulher????

- Você quem me diz.

- Eu que te digo? Como assim. Só te fiz um elogio.

- Vai José Roberto. Assume logo.

- Assumir o que?

- Não vai assumir?

- Não tenho o que assumir.

- Então é isso?

- Isso o que?

- O fim.

- Fim do que?

- De nós. De nossa história.

- É. É sim. Estou cansada de aturar essas coisas.

- Essas coisas? Que coisas? Pera, Marta, volta, prometo nunca mais te elogiar. Marta? Amor?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O que é saudade?

Saudade. Pra mim, não há palavra alguma no dicionário que expresse um sentimento com tanta veemência. Saudade não é só falta, não é precisar e nem só querer de volta. É só saudade. E isso é tudo. Tudo que está entalado na garganta, preso no choro, marcado no pensamento.
A saudade pode ter quilômetros de distância ou, muitas vezes, estar separada apenas por um lençol. Ou quatro paredes. A saudade dói sem ser doença, machuca sem ter armas.
Saudade só é boa quando está no seu fim. Saudade é igual fome. É uma das melhores coisas para se matar. Saudade do picolé minissaia, da coleção vaga-lume, da bota de chuva, do cheiro da lancheira da escola, da maçã raspadinha. Saudade.Do passado mais antigo. Ou de ontem à noite.Do que você está com saudade?
Pode vir agora. Pode vir de longe. Pode morar na sua rua. Porque tudo no mundo lembra a saudade. O que provoca a sua saudade? Saudade tem cena. Aquela quando você acena de longe e, num segundo, os olhos se enchem de lágrimas. Saudade tem música. E não precisa ser triste. E quase sempre tem cheiro. Aquele que fica no travesseiro e faz lembrar. Cheiro de perfume, bolo de chuva. Saudade tem sempre um nome. Ou não. De quem você está com saudade agora?
Quem tem saudade, lembra. Tem sempre pra quem escrever. Mesmo que esse alguém não possa mais ler. A saudade quase sempre mora pra lá das nuvens. E nem avião pode alcançar. Quando você diz que sente saudade, espera ouvir um eu também. Tem saudade que não passa. Mesmo que os dias passem depressa. Tem saudade que dá pra comprar o fim. Um voucher, um crédito de celular.
Bom mesmo é aquela saudade que se mata de graça. Um abraço, um pedacinho do seu picolé, um eu também.

Adoro contar saudade no relógio até ela acabar. É igual ansiedade de criança antes de abrir o seu presente. É como esperar o final de um livro.Saudade tem recordação, baú, diário. Tem pétalas de rosa espremidas no meio de um livro. Tem foto no fundo da gaveta. Tem um casaco de ombreira e um souvenir daquela última viagem na estante. Tem um restinho de bebida na garrafa. Tem dejavu.
O bom da saudade é correr pra encontrar. É dar um abraço de urso. É contar os dias.Porque quem sente saudade, tem o privilégio de sentir o seu fim. Algum dia, em algum lugar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

De casamentos e etc.

Pra variar eu já devo ter comentado a respeito disso anteriormente, mas como o mundo gira e a Lusitana roda, não me importo muito. Tenho ultimamente freqüentado muitos casamentos. Muitos. Mesmo. Não sei se é sinal dos tempos, se é apenas uma fase, se é a época ou se é a economia que está numa boa. Ou mesmo se eu possuo amigos e amigas demais que estão nessa de casório.

Mas o fato é que nos últimos dois anos, tenho comparecido em praticamente um casamento por mês.

Neste ano, vejam só, estamos no meio de agosto e já fui em nove (!) casamentos. O que está me dando uma média de um por mês. O que rendeu a decoreba de boa parte da Epístola de São Paulo aos Coríntios. Um clássico.

E para um solteirão inveterado como eu, essa leva de casamentos têm sido muito interessante, a despeito do que pensa a maioria. E a maioria pensa que para mim deve ser difícil, que eu deva sentir vontade de estar lá no lugar do noivo, essas coisas. Mas nada disso acontece. Gosto de casamentos, mas só os dos outros.

Freqüentar tantos casamentos me permitiu elaborar algumas estatísticas interessantes, como por exemplo, em 97% dos casamentos que fui nos últimos dois anos tocou Perhaps Love. O que para mim é fantástico, uma vez que adoro essa música.

Em 63% deles as crianças que entram trazendo as alianças fizeram alguma besteira, o que levou a 100% dos convidados a rirem dos pobrezinhos.

Em apenas 7% dos casamentos, a noiva chegou à cerimônia numa limousine, o que é um alívio. Limousines hoje em dia são extremamente cafonas. Se forem brancas então, é um atentado à ordem pública.

Em 71% dos casos, os padres ou pastores ou algo que o valha, disseram em sua pregação algum tipo de besteira, como lembrar aos noivos toda a parte ruim e difícil de um matrimônio. Aquela não é a hora de dizer coisas assim.

Em 15% dos casórios os padres/pastores/coisas do tipo disseram coisas legais, como “a beleza de um acordar com o bafo abençoado do outro” ou poéticas como “entender o que significa os seus ternos estarem ao lado dos vestidos dela”. Os mais atentos à matemática do negócio irão perceber que houve um hiato de 14% nas minhas estatísticas. Esses 14% são relativos às vezes quando o padre/pastor/coisa do tipo não disse absolutamente nada além dos textos-padrão. São os casos que o sujeito está com pressa de ir embora ou não quer atrasar o próximo casamento no dito estabelecimento religioso.

Em 100% dos casamentos algum imbecil disse “meus pêsames” para o noivo.
Também em 100% dos casos alguma invejosa colocou defeito no vestido da noiva.

Em nenhum casamento dessa pilha que fui nos últimos dois anos o noivo desistiu na última hora ou a noiva não apareceu. 0%. Vou começar a torcer para isso acontecer nos próximos que eu for.

Estão ficando todos muito iguais.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Uma de ciúmes II

O casal se separou. E tudo em virtude do tal Ciúme.

Quero que atire a primeira ou a última, vai saber, pedra quem nunca manteve/mantém um flerte no MSN; quem nunca entrou num bate papo para uma cantada no meio da madrugada; quem, já completamente bêbado, não pega o celular e começa a ligar pra tudo o que é ex-ficante para um papo picante no final da noite; quem nunca gosta de manter um esquema para massagear o ego. Duvido que exista essa qualidade de gente.

Duvido, aposto e, com plena certeza, ganho.

O mundo é canalha. E junto com a canalhice, vem esse tal de Ciúme atravancar tudo e todos.
Se o Ciúme não existisse, tudo seria muito melhor compreendido. Imaginem Maria G., após olhar as mensagens no celular do Diguinho o que ela faria:

- Ô meu amor...
- Pô, tô vendo o jogo agora.
- Verdade, já volto. Quer uma cerveja?

Olha a compreensão, gente! Viram a diferença? O mundo seria MUITO melhor, mais harmonioso.

Quarenta e cinco minutos depois ela voltaria.

- Agora podemos conversar?
- Claro. Só traga o cinzeiro pra mim, benzinho.

Que carinho... que carinho...

Cinzeiro, cerveja e o celular na mão, ela começa:

- Meu bebê, qual a razão dessas mensagens?
- Ô meu amorzinho, desculpa por não ter te falado. Não é nada de mais. É só uma amiga virtual.
- Não, tudo bem, isso eu entendi. Não falo disso.
- Fala do quê?
- Do horário. Duas da manhã não é muito tarde?
- Ela dorme tarde. Não liga pra isso não.
- Ainda bem que não. O Jorjão não me manda mais nesse horário, porque ele sabe que acordo estressada.
- Ele ainda te liga e manda mensagem?
- Às vezes... às vezes...
- Tá bom. Só isso?
- Só. Vamos à pizzaria?
- Hoje não. Vou na casa do Magrão jogar pôker. E você?
- Ah, sairei com a Lucélia.
- Qualquer coisa liga.

Olha a paz, a suavidade imperando.

Por isso que, agora serei eu quem entrará com uma ação contra o Ciúme. E ele terá que ser deportado ou se reportar a nós, homens lúcidos (!).

E é bom que isso aconteça logo ou, muito em breve, perderemos todas nossas mulheres para esse cidadão.

Há ciúme crônico?