segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Instinto Selvagem

Há certas coisas que um homem tem de fazer. Não digo obrigações, e sim necessidades. Compulsões. Como a de externar verbalmente sua admiração pela plasticidade das formas de um corpo feminino. Ou, em outras palavras, chamar uma gostosa de gostosa. Nunca fiz isso. Juro por Deus Nosso Senhor. Mas ontem mesmo vi uma moça passando na rua dentro de sua minúscula minissaia e um homem que vinha em sentido contrário, dentro de seu carro. Ela tinha pernas longas e com elas pisava airosamente no mundo. Ele, ao vê-la, trocou a marcha, reduziu a velocidade, abriu o vidro, pôs a cabeça para fora, arriscando-se a bater, e ganiu, entre dentes:

– Gossssstooooosaaaah…

O que ele ganhou com aquilo? Nada. Que utilidade prática teve o ato? Nenhuma. Mas ele teve de fazer. Teve!

A moça, ela não se abalou, não se sentiu ofendida, acho até que gostou, já que se empinou mais e pareceu ter ficado ainda mais garbosa e quase sorriu. O homem, ele seguiu seu caminho e dava a impressão de que estava aliviado, que o peso da existência ficara mais leve sobre suas costas.

Quer dizer: faz bem, isso!

Mas não é civilizado, claro que não. Não se deve sair por aí uivando
gosssstooosaaaah com agá no fim para todas as gostosas que se vir. Então, como o homem redirecionará essa angústia? Como o homem tirará de seu peito todo o sentimento represado? Simples: gritando num campo de futebol. Para isso servem as torcidas. Para descarregar a selvageria ancestral que existe em nós, homens. Porque nós jamais perderemos nossos
laivos animalescos, ao contrário das mulheres, as inventoras da Civilização. Logo, um cara que se descabela numa arquibancada não deveria sair pela rua a latir para as belas mulheres de minissaias sumárias. Mas eles latem. E brigam. E enlouquecem. Algo está errado nisso tudo.