sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Tênis x Frescobol


Foi minha médica da cabeça que citou e eu fui atrás. Esse texto do escritor Rubem Alves, fala dos dois tipo de relacionamento. O relacionamento tênis e o relacionamento frescobol. Não vou tentar explicar, já que obviamente ele é muito mais capacitado. Leiam, é muito bom.


Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.


Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.


’Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’


O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.


O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...


A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...


Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:

‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.


’Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.


Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...(O retorno e terno, p. 51.)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Eu te amo! (e nem vou cobrar nada por isso)

O sexo vende. E muito. Milhões de sites de internet e a Rede Globo sabem muito bem disso. Mas e o amor? Não seria um produto negligenciado?

Depende do tipo de amor. Temos claramente dois tipos de amor. O amor clássico é aquele legítimo, que faz rir, chorar, que abre a porta do carro e vai no estádio de futebol mesmo sem gostar. O outro é o verbalizado, aquele que é apenas falado, sem significado necessário, que decepciona, dá esperança, esquece de ligar e finge que está dormindo.

O Amor, assim verbalizado está em alta, e o amor legítimo está em falta. Ainda que Adam Smith tenha nos mostrado que quanto menor a oferta maior a procura, o amor legítimo está tão ausente que já se tornou um tipo de lenda urbana.

- Sabe o Rui?
- Que Rui?
- O Rui, primo do Claudinho.
- Claudinho….
- Aquele amigo da Mari, gordinho que usa dockside.
- Ah sei.
- Os pais deles são casados há 50 anos e ainda se amam.
- Você os conhece?
- Não, mas a Fê, irmã da Mari disse que já os viu uma vez.

Como quem compra guia de cidades as quais nem sabe se vai visitar , as pessoas se conformaram com a verbalização do Amor, com a oferta de uma promessa de algo que não acontece, mas não deixa de ser desejado Amor como diria o povo, vende igual pão quente.

O mercado é amplo. Historicamente, as mulheres são compradoras em potencial e os homens vendedores. É verdade que o mercado mostra uma tendência de inversão dos públicos. A troca é constantemente praticada também. Ainda que nem sempre os negociantes cheguem a um acordo:

- Pati, eu esperei muito pra dizer mas acho que é a hora.
- O que Michel?
- Eu te amo!
- …
- …
- Eu amo passar tempo com você.

O mercado é muito promissor. As aplicações são infindáveis. O produto tem atributos indiscutíveis. Não é perecível.

- Você me ama môr?
- Claro bebê.
- Quanto você me ama?
- Te amo pra sempre bebezinha, agora faz minha massagem.

Tem grande potencial no atacado.

- Mas você disse que me amava.
- E amo.
- E porque tava beijando aquele cara.
- Porque eu amo o Júlio. Mas também te amo Té. Você não acredita que é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?
- Não!
- E o que você me diz daquele nosso menage, então?
- Errr….é…!?

O mercado paralelo também se aquece. Genéricos e similares são bem cotados no mercado. Diversifica-se para se atingir todo poder de compra. Por uma pechincha se consegue um “Gosto de você”, num investimento razoável pode-se obter um “Te adoro muitão” e apostando um pouco mais alto se fatura possivelmente um “Te adoro muito-muito-muito-muito-infinito”.

- Mas já?
- Acha cedo?
- Aliança depois de dois dias cara. Acho rápido demais.
- Eu também achava. Mas depois do que ela me falou.
- O que?
- “Te adoro um montãozão”. Isso é bastante né?

Ainda existem poucos puristas que acreditam no legítimo amor, que invariavelmente se tornarão um grupo altamente restrito (algo parecido com os fãs de Star Trek). Não vendem seu Amor verbalizado nem pelas causas mais nobres.

- E aí, já transou com ele?
- Não. Tá doida? Ele nem disse que me ama ainda!

Observando tudo isso podemos projetar o Amor como a mercadoria do futuro. Quer premiar? Dê Amor. Não sabe onde investir? Ações de Amor. Chega sua fatura do cartão de crédito. Você olha seu programa de milhagem: “Parabéns, até esta data você acumulou 50.000 milhas, entre em contato com nosso SAC e efetue a troca por uma TV de 29 polegadas, um sistema de Home Theather ou uma declaração de Amor de um de nossos atendentes”. Vão sobrar TVs e Homes.

O Amor estará finalmente na casa de todos que se dispuserem a pagar o preço. Logo, o ser humano não vai ter mais o que buscar, e sem propósito tende a parar, estagnar. O Amor estará banalizado.

- Eu te amo.
- Grande merda.

A esperança vai então residir naquele pequeno grupo restante, a ordem do legítimo amor, ou algo do tipo, com aqueles poemas estranhos e mania de pedir licença podem, quem sabe, devolver nossa esperança.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Heim?!

CENA 32 TAKE 01. EXTERNA. DANCETERIA BADALADA - NOITE

Um jovem comum vê uma morena muito bonita dançando e se enfeitiça por seu jeito, seu corpo, seu rosto, suas pernas … ahhh!

Ele sabe que todo o seu futuro mudaria se conquistasse aquela mulher. Não importa o que ele dissesse, ela teria que ser dele. O destino havia os apresentado, e ele não deixaria essa oportunidade passar.

Sem maiores rodeios ele se aproxima dela e com um sorriso de canto de boca diz:

-Olá … vo-você vê-vêm sempre aqui ?!-Heim ?!

CORTA!

CENA 32 TAKE 02. EXTERNA. DANCETERIA BADALADA - NOITE
Um jovem comum vê …

Sem maiores rodeios ele se aproxima dela e com um sorriso de canto de boca diz:

-Olá … sabia que eu adoro essa música ?
-Eu também … quer dançar comigo ?
-Err … eu não sei dançar.
-Heim ?!

CORTA!

CENA 32 TAKE 03.
-Olá … sabia que eu adoro essa música ?
-Eu também … quer dançar comigo ?
-Olha, não sou dos melhores, mas adoraria dançar com você !
-Tudo bem, gostei de você.
-Mesmo?! Você não acha que essa verruga peluda atrás na minha panturrilha direita é muito feia ?
-Heim?!

CORTA!

CENA 32 TAKE 04.
-Olá … sabia que eu adoro essa música ?
-Eu também … quer dançar comigo ?
-Olha, não sou dos melhores, mas adoraria dançar com você !
-Tudo bem, gostei de você.
-Mesmo?! Sabia que eu vim aqui falar com você pelo mesmo motivo!
-Hehehe … Adoro homens com senso de humor!
-Pois é, o Almeida diz que eu sou uma avestruz, mas eu adoro mesmo suflê de batata com chouriço !
-Heim?!

CORTA!

CENA 32 TAKE 05.
-Olá … sabia que eu adoro essa música ?
-Eu também … quer dançar comigo ?
-Olha, não sou dos melhores, mas adoraria dançar com você !
-Tudo bem, gostei de você.
-Mesmo?! Sabia que eu vim aqui falar com você pelo mesmo motivo!
-Hehehe … Adoro homens com senso de humor!
-Chega mais perto então …
-Hmmm … Você até que não é dos mais difíceis. Você até que dança direitinho.
-Isso é porque você ainda não me experimentou na cama, beibe…
-Heim?!

CORTA!

CENA 32 TAKE 06.
-Olá … sabia que eu adoro essa música ?
-Eu também … quer dançar comigo ?
-Olha, não sou dos melhores, mas adoraria dançar com você !
-Tudo bem, gostei de você.
-Mesmo?! Sabia que eu vim aqui falar com você pelo mesmo motivo!
-Hehehe … Adoro homens com senso de humor!
-Chega mais perto então …
-Hmmm … você até que não é dos mais difíceis. Você até que dança direitinho.
-Você é que é ótima.
-Isso você só vai saber se me experimentar …
-Opa - garçom!- traz garfo, faca e guardanapo que hoje vou comer até vomitar !
- Heim ?!

CORTA!

CENA 32 TAKE 07.
-Olá … sabia que eu adoro essa música ?
-Eu também … quer dançar comigo ?
-Olha, não sou dos melhores, mas adoraria dançar com você !
-Tudo bem, gostei de você.
-Mesmo?! Sabia que eu vim aqui falar com você pelo mesmo motivo!
-Hehehe … Adoro homens com senso de humor!
-Chega mais perto então …
-Hmmm … você até que não é dos mais difíceis. Você até que dança direitinho.
-Você é que é ótima.
-Isso você só vai saber se me experimentar …
-Hmm …
E sem falar nada ele beija (finalmente !) a mulher que mudaria sua vida.
-Nossa … que beijo bom, gato!
-Foi você quem me inspirou …
-Ai … seu bobo!
-Sabe de uma coisa?
-Não, o quê ?
-Eu ainda não sei seu nome, linda.
-É …. Jaílton!
-Heim ?!

CORTA!!!