sábado, 26 de dezembro de 2009

Remakes e Reprises

Por mais que nos esforcemos, nossa vida é uma eterna seqüência de reprises e remakes. Vivemos um dia atrás de outro, com a crença de que podemos fazer o presente especial, mas em geral, acabamos nos acomodando e deixando pra amanhã. Assim seguimos repetindo ou refazendo tudo que já vivemos.

Até os 20 anos não, o ineditismo é inerente a nossa pequena experiência. Temos muito o que aprender, conhecer, e realmente podemos dizer que boa porcentagem de nosso tempo livre é repleto de dias realmente especiais. Nossos primeiros. Beijos, empregos, fracassos, amores.

Se você tem menos de 20 anos, e não está fazendo nada de melhor, encare isso tudo como qualquer conselho de uma pessoa mais velha. Ou seja, ignore. Já se você tem mais de 30, está ansiosamente esperando eu contar algo que você não tenha pensado ainda, algo que resolva esse saudosismo involuntário. Bem, obviamente não vai conseguir nada desse tipo aqui.

Voltando ao ponto. Reprises e remakes. Os conceitos são bem conhecidos. Reprise é apenas a repetição do que já foi feito. O jantar naquele restaurante ótimo que você conheceu por acaso, o fim de semana naquela pousada em Jeri que você achou na internet ou aquela aflição quando acha que tem alguma TV ligada em casa. Mesmo sabendo que já a desligou.

Remakes são novas versões do que já foi feito. Os atores são diferentes, quem sabe o mocinho do antigo é hoje seu pai, talvez a locação tenha mudado de uma cidade para outra, mas em sua essência, a história é a mesma, os personagens e o fim principalmente. Assim é praticamente tudo que achamos estar fazendo de novo em nossas vidas. Aquela vaga na multinacional que você sempre quis, aquele caso que começou em boteco sujinho no Centro ou aquela balada hiper-ultra-mega-blaster-hipada que abriu no bairro da moda. Convenhamos, você sabe que é um remake.

Mas eu concordo, existem algumas coisas realmente novas na vida de quem tem mais de 20. Algo que vivemos e não temos parâmetros próprios, algo para qual não temos o “driver”. Podemos falar que ter o primeiro filho é algo realmente novo. Se tiver muita sorte, quem sabe só veja uma pessoa querida morrer depois dos 20. Se tiver sorte. E quem sabe você ainda não tenha vivido um grande amor. Azar.

Mas, ainda que existam sim, coisas novas na vida de um recém adulto, elas são raras e você tem que ter muito peito para encontrá-las. Criar oportunidade para isso sem cair no “conto do remake” é muito difícil. E a razão é que se você ainda não fez alguma coisa até os 20, é porque você tinha fortes razões para isso. Medo, pavor, preconceito. Todo tipo de grande paradigma conquistado durante sua criação.

O truque para não se incomodar com isso eu não preciso ensinar a ninguém. Todos nós sabemos bem qual é. É acreditar que já temos o que queremos, é crer que remakes são inéditos e curtir as reprises fingindo ter esquecido aquela história. Fingindo estar vivendo algo pela primeira vez. Se você não é dos que para pra pensar no que está fazendo até que funciona.