sexta-feira, 24 de abril de 2009

Até que a morte os separe

Na última semana compareci a um aniversário num desses bonitos barzinhos da moda onde uma porção de batata frita é mais cara que uma parcela de TV de plasma e uma garrafa de cerveja custa o mesmo que um PF com sobremesa, mas onde as pessoas bonitas vão ver e serem vistas. Acho que vou abrir um comércio voltado apenas às pessoas feias. É um nicho a ser explorado.


Mas devaneios à parte, no tal bar havia uma mesa com duas meninas simpáticas. Discretas, como convinha a elas. Sozinhas, como convinha a mim.


Lá pelas tantas resolvi bater papo com elas. Sabem como é, aquele velho instinto animal da conquista barata. Eu estava trajado de garotão, o que me deixou mais à vontade.


No caminho do toalete (acho toalete boiolíssimo. Pra mim é banheiro mesmo e olhe lá) fiz uma brincadeira qualquer com as moças e, na volta aproveitei que meu chiste havia sido bem recebido para parar e conversar com as meninas.


Mas hoje em dia eu sou um banana, portanto rumei a conversa para algo sem segundas intenções. Papo de amigo mesmo. Um banana.


As duas eram irmãs, e resolveram parar no barzinho pra conversar amenidades, mudar de ares, poder ter papo de irmãs sem grandes censuras.


Não sei direito como, a conversa chegou em casamento. E a mais novinha, Renata, timidamente me mostrou a aliança de ouro na mão direita. Noiva.


Como àquela altura já éramos amigos de infância (banana), ela resolveu exteriorizar para mim todo o medo e toda a angústia que estava sentindo em relação ao iminente casamento. A coitada da menina tinha desespero nos olhos. Me disse que era muito nova e que tinha muita coisa pra viver antes de se casar.


Pensei então em quantas vezes eu havia escutado a mesma conversa nos últimos anos. Parece que a ânsia de casamento está meio parecida com a de vestibular. A pessoa pode estar completamente despreparada, mas tem que ao menos tentar.


Fui pesquisar algumas estatísticas e descobri que, em média, um casamento no Brasil dura cerca de dez anos. Ou seja, ou essa história de “até que a morte os separe” é balela ou tem gente morrendo muito cedo.


Descobri também que em 70% dos casos, quem pede o divórcio é a mulher. Claro que não posso generalizar, mas creio que daqui a dez anos a menina Renata que conheci no bar estará pedindo o divórcio.


Acho que essa pressão, esse dogma de que um casamento deve ser para a vida toda acaba atrapalhando muito os casais. O “pra sempre” é tempo demais, por isso as pessoas acabam se enchendo pelo caminho.


Sugiro que inventem o casamento com prazo. As alianças poderiam ser de cores diferentes, uma para cada período. Por exemplo, uma aliança azul significa um casamento de dois anos. Depois de dois anos o matrimônio perde a validade, podendo ou não ser prorrogado.


Poderia ter alianças verdes para casamentos de cinco anos, violeta para casamentos de sete e vermelhas para os de dez anos. Imaginem só que beleza um indivíduo indo pedir a mão da namorada em casamento e aparece com um par de alianças vermelhas! – Pedro Aurélio, que lindo, você quer ficar comigo por dez anos?! Claro que eu aceito!


Acho que assim a coisa daria mais certo. Acabaria com a obrigação do “pra sempre” e a manutenção do carinho ficaria muito mais simples.


Tem Renatas demais por aí.

sábado, 11 de abril de 2009

Eu, os alunos, a professora

Não, gente, não vão pensar que se trata de um triângulo amoroso, por favor! Se bem que coloquei os alunos no plural, então deveria ser um polígono amoroso. Mas não é.

Também não se trata de uma sessão de pedofilia, onde eu, juntamente com a professora... deixa pra lá.

Conheci uma professora que resolveu dar aulas para os seus alunos com minhas mal traçadas crônicas. A notícia é muito boa, agrada, demonstra que as crônicas estão funcionando mais ou menos como uma porta de entrada para o mundinho da literatura. Ler Machado de Assis é chato. Ler crônicas é legal.

Depois, Machado de Assis fica legal também, garanto. O capítulo 136 do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas", na minha opinião, é o mais engraçado e genial que eu já li. Dêem uma olhada e depois me digam o que acharam.

Mas depois, essa história da professora Cristiane lecionar com meus testículos, quero dizer, com meus textinhos, me deixou muito preocupado.

Não sou nenhum Jânio Quadros, nem um João Ubaldo Ribeiro. Cometo cada despautério que levaria o Professor Pasquale pensar que sou um girolas (vamos lá, moçada, ao dicionário!).

Fiquei pensando na balbúrdia que o corpo discente da mestra em questão deve fazer em relação às minhas vírgulas. A professora Cristiane ensina que não se deve separar o sujeito do predicado com vírgula, e eu faço isso amiúde. Sabe o que é, professora Cristiane, eu penso na respiração dos seus alunos. Creio que nem eu nem você deseja ver algum de seus alunos roxos e se estrebuchando de asfixia em plena sala de aula. Não é importante, a vírgula? Ou, não é importante a vírgula? É importante sim.

Escrevi uma crônica há um tempo (olha só, pessoal, o "há" assim, com agá, já quer dizer que estou falando do passado. Se colocar o "atrás" depois, vai ficar redundante. Tô ficando metido!), onde eu citava algumas figuras de linguagem. A professora Cristiane disse que foi ótimo para ajudar os seus pupilos e pupilas nessa matéria. O problema é que ela disse que tinha faltado eu citar a metonímia. Puxa, professora, é que não tive nenhum caso com mulher nenhuma (outra dica: em português, deve-se sempre usar a dupla negativa) que usasse metonímias. Além do mais, perceber a metonímia é muito difícil. Às vezes parece metáfora, às vezes, sinédoque. Mas acho que lá em cima eu usei uma metonímia quando disse que ler Machado de Assis é chato. Não dá pra ler o Machadão, é óbvio, o que lemos são os livros dele.

É muito bom poder desmascarar o português. E não estou dizendo que é bom tirar a fantasia de Zorro da cara do seu Manoel da padaria, hein?

Metonímia, desisti de escrever. (Hipérbato)

No mais, professora Cristiane, fique à vontade para puxar as minhas orelhas caso haja algum deslize meu. A responsabilidade é grande.

E, turminha da classe, nunca deixem de ler. Com o passar do tempo vocês vão ver que até bula de remédio é legal. Se bem que até hoje acho Manuel Bandeira um porre.

domingo, 5 de abril de 2009

Indiferença


É muito natural de nossa parte querer conquistar várias pessoas, sorrisos, sonhos... É inerente do ser humano. Quem não gosta de ser reconhecido por um trabalho feito, por uma lembrança inesperada, por um gesto de carinho e atenção, por um telefonema no meio da madrugada (mesmo que bêbado de sono) dizendo que está com saudade? Quem não gosta do agradecimento pelo serviço prestado, pelo trabalho feito com esmero? E o aplauso? Ah, não há nada melhor do que um aplauso ao final de uma apresentação.

Não é gostoso receber um abraço da amada ou do amado, sentir as mãos nas costas e um sussurro no ouvido, dizendo que estava com saudade? E, ao chegar de viagem, ver que há inúmeras cartas do namorado lhe esperando para serem lidas? Cartas, cartões, e-mails, enfim, ser lembrado.

E presenciar a conquista de um amigo quando o mesmo subiu de cargo na empresa, quando comprou o primeiro carro, passou na primeira entrevista numa empresa, conseguiu se formar na faculdade e deu o seu primeiro beijo na menina mais bonita da escola, o chamando, anos mais tarde, para ser padrinho do casório? Não há como descrever a alegria que sentimos ao presenciar as vitórias de quem gostamos e, muitas vezes, nos espelhamos. Não há ciência que consiga explicar o furor que o ser humano, quando sincero, sente ao receber tal notícia.

Tudo isso é ótimo, até o momento em que nos sentimos desprezados pela indiferença. Para nós, mesmo que tentemos, mesmo que doa a indiferença, ela tem que ser indiferente aos nossos olhos. Mesmo que a dor esteja latente em nosso coração e que mine aos poucos, nos fazendo calar por um instante.

A indiferença é a pior de todas as renúncias, pois nos tapa os ouvidos, nossos olhos e nossa consciência para enxergar coisas belas da vida, como o brilho no olhar, o desabrochar de uma flor. Coisas que parecem tão insignificantes quando nos sentimos indiferentes e não percebemos.

Mas, se você observar, mesmo com a indiferença de alguns ignorantes, o sol não deixou de se pôr atrás da mesma montanha do mesmo jeito de todos os dias. Aquela flor, mesmo depois de morta, deixou seu perfume, seu brilho numa semente que voou e nasceu, povoando algum lugar com uma nova fragrância. Esta semente, não foi apenas retirada pelo vento, ela simplesmente voltou ao seu coração, não dos olhos que a recusavam, mas, sim, para os olhos curiosos de desejo, de descobrir o segredo de cada pétala daquela belíssima flor. Ela poderia não ser, agora, a única flor do mundo, mas, também, aquele não era o único olhar do mundo.

Antes de tentar recorrer aos risos perdidos e à indiferença, devemos pensar em nós mesmos, e descobrir que a tristeza e a felicidade são apenas duas opções, que os motivos que nos levam à eles, são sempre compatíveis. Porém sabemos que a vida é curta, por isso, não se preocupe com a indiferença, pois ela nos faz menor que uma simples semente e acaba por te reduzir a pó antes do tempo.

Sorrir é uma virtude que poucos conhecem, e, se você conhece, mostre isso. Mostre que a simplicidade de um sorriso vence a rigidez da indiferença.