sábado, 27 de outubro de 2007

O Binha na Fórmula 1.

Em toda turma de amigos, ou na maioria esmagadora delas, alguns tipos são indispensáveis. Sempre tem um que é o bonitão, outro é o mais inteligente, o outro é o mais engraçado, o outro é o atleta da turma, o outro é o mais descolado e o outro é aquele que não deu certo.

E eu conheço o Binha, que é o que não deu certo da turma.

O apelido Binha veio de Goiabinha. Não me lembro quem o apelidou de Goiabinha, mas o Binha era realmente o estereotipo de um goiaba: grandão, gordão, brancão, desajeitado e de coração grande. Esse é o Binha.

E desde moleque o Binha é apaixonado por Fórmula 1. Daqueles chatos mesmo, que te faz ver revistas e mais revistas, fotos e mais fotos, vídeos e mais vídeos do assunto toda vez que se entra na casa dele.

(Não se preocupem por eu falar assim do Binha em público. Todos esses adjetivos já foram falados para ele pessoalmente. Mas ele não liga, o que faz muito bem. Talvez por isso que todos gostem dele)

Mas o Binha, como nunca deu muito certo na vida, nunca havia chegado nem perto de um carro de Fórmula 1. O máximo de um monoposto de competição que ele chegou perto foi de um kart, quando fomos correr certa vez. Bem, o Binha não correu porque não coube no carrinho, mas ele se deu bem como incentivador, gritando de fora para a gente acelerar.

Porém, como nem tudo na vida são trevas, neste ano o Binha conseguiu uma credencial para ir a Interlagos presenciar de perto um dos treinos da Formula 1. E não era uma credencial qualquer não, era uma que dava acesso ao paddock e tudo o mais.

Imaginem o quanto tivemos que ouvir o Binha, que nem nunca colocou ou pés em Interlagos, recitar de cor e salteado todas as curvas e retas da pista, todos os nomes das escuderias e seus pilotos, e todas as fotos que ele iria tirar quando chegasse lá.

Foi um mês inteiro de euforia do Binha, com seu grande sorriso entre as grandes bochechas vermelhas.

E lá foi o Binha, para o treino de sexta-feira com outro amigo nosso, o que lhe arrumou as credenciais.

Já na Avenida Interlagos, Binha fez questão de fotografar a caixa d’água da Sabesp, que praticamente faz parte do cenário do autódromo. Carro estacionado nas redondezas, e Binha vinha fotografando as placas de indicação do autódromo na rua. Em frente ao portão sete, Binha, emocionado, fotografou a guarita e os seguranças. No acesso, fotografou o busto de José Carlos Pace. Fotografou, trêmulo, o túnel que passa debaixo da reta e que dá acesso aos boxes.

Binha andava e fotografava, andava e fotografava. Olhava para todos os lados enquanto subia a íngreme ladeira até o portão de acesso aos boxes.

Binha olhava para tudo, menos para o chão. Não viu a guia, nem o bueiro. Torceu o pé direito. Ligamentos rompidos.

Não chegou ao portão de acesso aos boxes. Ficou na ladeira. Saiu de ambulância sem nem ouvir um ronco de motor sequer.

Em toda turma sempre há os tipos indispensáveis. O bonitão, o inteligente, o engraçado, o atleta e aquele que não deu certo. O azarado.

O Binha.

domingo, 21 de outubro de 2007

Onde vamos parar?

A coisa tá feia, gente.

Noutro dia escrevi sobre o governador do Distrito Federal que "demitiu" o Gerúndio. Mas, ao que parece, o mesmo foi readmitido pelo doutor Lair Ribeiro em seu mais novo livro de auto-ajuda: Preparando-se para Concursos Públicos e para o Exame da OAB.

E, pasmem, a coisa é feia. Péssima, para ser mais preciso.

Sinceramente, já que o Paulo Coelho é um imortal da ABL, creio que o próximo a se imortalizar deva ser o Lair Ribeiro, seguido da Zíbia Gasparetto e, de quebra, mandamos o Jucelino da Luz também.

Com o tempo, será imortalizado o Lula também com seus livros de bolso: "Como vencer as eleições no Brasil", "Você se lembra do Fome-Zero?", "O que é Ética?", com ajuda da Marilena Chauí e prefácio do Zé Dirceu e, claro, "Esqueçam tudo o que fiz e falei" com colaboração do Fernando Henrique Cardoso. Ah, não podemos esquecer também da "CPMF – Do repúdio ao Amor incondicional", com comentários na orelha de Antonio Palocci.

Enfim...

Claro que não li o livro do Lair Ribeiro e, nem passa pela minha cabeça, lê-lo. Pela crítica que li na Revista Eletrônica Consultor Jurídico (artigo do Maurício Cardoso), trata-se de mais uma verdadeira choldra a obra do ilustre (!) "autor-dôtor".

E, para piorar a situação, ainda há os mandamentos para quem quiser lograr êxito nas provas.
O livro, infelizmente, tende a ser mais um daqueles com vendagem de milhões e milhões de exemplares, pois brasileiro, além de carente e acreditar em qualquer balela, ADORA essas coisas que não têm efeito nenhum.

Mas o psicológico... ah... é uma caixinha de surpresas.

Esse pessoal que é do mesmo ramo do Lair Ribeiro deveria ser preso como verdadeiros estelionatários intelectuais.

A bem da verdade é que isso não dá certo. Por exemplo: Ele é advogado? Quando ele prestou vestibular, em qual lugar passou?

E essas coisas de palestras de motivação, de auto-ajuda, Osho, Dalai Lama, Osama Bin Laden e sei lá eu mais o quê, só servem para angariar dinheiro fácil.

Mas, estamos no Brasil.

E, já que esse negócio de auto-ajuda dá certo, vou enveredar por esse lado também. Ô se vou.
E, o meu primeiro Best-seller, sim, pois esse negócio de livretinho não é comigo, terá o seguinte título: Para estressar sorrindo – dicas de sobrevivência no Brasil pós Lula.

O lançamento mundial será no dia 1º de janeiro de 2.011. Ajudem-me para eu ajudar vocês.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Ausência de Razão... Excesso de Emoção

Acontece de nos ausentarmos.

Por alguma razão, em alguns momentos de nossas vidas parecemos não estar presentes, meio que catatônicos, esperando algo passar pra poder recomeçar a viver.

Acontece também de nos fecharmos.

Por outras tantas razões, fechamos o cerco ao nosso redor, delimitamos passagem e quase que impermeáveis pra qualquer influência do mundo exterior, nos permitimos esperar algum sinal de menos perigo.

Acontece então de perdermos muito.

A Melinda é dessas meninas comunicativas, alto-astral coisa e tal, mas só depois de cinco anos de faculdade é que percebeu que sua turma era legal.

Cinco anos de convívio diário, cinco anos não criando vínculos futuros, pra em um churrasco de sua turma de formandos, notar que podia ter curtido muito mais daquelas pessoas.

A Mônica se reconstruiu a partir de suas desilusões amorosas. Firmou-se novamente no chão de sua vida, mas não sem erguer altos muros de desconfiança e descrédito. Não sem antes se sentir segura pra não amar plenamente mais uma vez.

"Nada de fortes emoções" – dizia ela.

Bastava ser amada, mas não necessariamente amar.

Descobriu que era amada e que podia amar mais, descobriu que queria sentir. Mas descobriu tarde então, e vai torcer todos os dias pra ter chance de viver. Porque descobriu em um outro abraço.

Uma saudade infinita, uma lembrança incômoda.

Por alguma razão, acontece de acontecer fora do tempo, ou pelo menos fora do tempo que desejávamos. E maldizemos a sorte e a falta dela.

Tentamos entender que testes são esses, e especulamos sobre uma infinidade de explicações sem ao menos saber pra que serviriam. Afinal, mesmo tendo escolhas algumas coisas precisam de tempo pra virar, pra ser algo.

Mas acontece que somos mesmo bastante precipitados...

Acontece bem de vez em quando de querermos o imediato, de desejarmos com todas as forças a mudança que até então não aparecia.

Acontece de nossa vida virar de ponta-cabeça. E talvez fosse exatamente isso que queríamos sem saber.

Por alguma razão, a emoção se torna essencial.

Sentir fora do tempo, desalinhado com a outra parte, não pode privar qualquer um de que esse sentir seja pleno.

Mas tem de valer à pena... Seja no beijo roubado mas esperado, seja no chocolate derretido na língua, seja num olhar novo e cheio de intenções, seja no abraço mais longo e colado do mundo.
Por alguma razão vale à pena esperar.

Mesmo que a percepção tenha se mantido embaçada e míope por anos, meio que em sinal de protesto e desaforo, pra nos fazer perceber alguma lição difícil, pra reconsiderar certos valores... Ainda sim, a emoção em duelo com a razão, é conflito doloroso mas intenso e recompensador.

Necessário pra gente virar gente grande, quem saber perceber o pouco tempo pra escolhas fundamentais? Quem sabe um motivo pra sorrir?

E se a dúvida reside aí, entre a razão de saber valer compromissos e emoção de querer sentir, então sempre resta um mesmo sonho pra esperar.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Demitindo o Gerúndio


Fiquei embasbacado. Juro. Custei a acreditar que, logo o Gerúndio, companheiríssimo dos operadores de telemarketing, foi demitido. Li umas três vezes a notícia no jornal. Não contente, fui ao google. Desconfiado ainda, fui até a fonte citada pelo jornal.
E, para meu grande espanto, lá estava a demissão do Gerúndio. Lá na página 19 do Diário Oficial do Distrito Federal do dia 1º de outubro, antes de ontem. A coisa era séria. Mais do que séria. Séríssima.
O Gerúndio agora não pode mais trabalhar em nenhum órgão do Distrito Federal. O coitado, agora, entrou na estatística dos desempregados brasileiros.
Será que ele solicitará ajuda do Governo Federal para conseguir um Bolsa Família? Será que, ainda, ele recebeu verbas rescisórias? Ele não teve que cumprir Aviso Prévio? Receberá Seguro Desemprego? Poderá sacar o FGTS? E a multa de 40%? A demissão foi com ou sem justa causa?
Sei que isso aqui está parecendo (!) um daqueles discursos do Rolando Lero, personagem da saudosa Escolinha do Professor Raimundo. Mas é que me despertou essas indagações.
Primeiro eu nem sabia que o Gerúndio era funcionário público. E, ainda pairam algumas dúvidas.
O Gerúndio era funcionário concursado? Ou será que era comissionado? Poderia ser, também, "celetista", não?
Na verdade, o tal senhor desempenhava qual função? Em qual parte da repartição pública ele trabalhava? Qual era a carga horária dele? Ele tinha algum curso superior? E, qual o motivo do governador do Distrito Federal decretar sua demissão? Imagino como foi a conversa prévia à demissão:
- Estava pensando, seu Gerúndio...
- Ahn...
- E estava analisando o seu perfil...
- Sei...
- E enquanto estava digitando...
- Diga.
- Acho que vou ter que acabar demitindo o senhor.
- É, mas por quê?
- É que essa coisa de gerúndio está enchendo
- É?
- Sim. Por isso vou estar demitindo o senhor.
A coisa deve ter sido mais ou menos essa, não sei. Mas o fato é que, queria muitíssimo saber como é que o Excelentíssimo Governador José Roberto Arruda conseguiu essa proeza.
Penso que, se a moda pega, o próximo a ser demitido pode ser o Particípio, ou a Crase, ou o Hífen, pois o trema já está em vias de ser demitido também.
A única coisa que tenho medo é que decretem, do jeito que a coisa anda, pena de morte ao Português.
E isso não está muito longe de acontecer. Por isso é que eu vou estar me previnindo antes.