sexta-feira, 1 de maio de 2009

A alface

Ele estava muito animado com o almoço, apesar de ter tentado insistentemente que fosse o jantar, considerou o almoço uma meia vitória. Já estava de olho nela há muito tempo, desde que ela aparecerá na recepção da agência. Morena de um metro e setenta, olhos verdes, longos cabelos lisos, e uma silhueta que deixava até a estagiária do quinto andar morrendo de inveja. Já nos seus 26 anos, ainda solteira e disponível no momento. Era perfeita.

Passou dois meses com conversas de escritório, começou a acidentalmente esbarrar com ela na copa, e diversas vezes marcava almoço com amigos só para que ela ligasse em sua mesa. Adorava ouvir:

- Marcos. Bom dia.
- Bom dia Carlinha, ficou com saudades e resolveu me ligar.
- Não, quer dizer, bem...seu amigo chegou.
- Estou descendo.

Colocou a roupa mais descolada que pareceria que ele não estava propositadamente descolado para aquela ocasião. Uma difícil combinação de calça, camisa, cinto e sapato que tomou-lhe quarenta minutos da manhã. Valeria a pena, pensou. Se o almoço for bem, aí vem um jantar. Preferia jantares, certamente uma ambiente mais adequado para criar um clima e também envolver bebida alcóolica na jogada. Era paciente porém, com o tempo aprenderá que tudo que vale a pena, dá um pouco de trabalho.

Ela fez questão de escolher o restaurante e iriam com o carro dele. Ele passou a manhã fantasiando sobre o restaurante que ela o levaria. Uma surpresa, ela havia dito. Não que ele gostasse muito de surpresa, mas como era um bom glutão, não tinha medo de comida alguma, fora jiló, claro.

Passou na recepção no horário combinado, onze e quarenta e cinco. Ela era muito metódica com horário. Desceram ao estacionamento e saíram. Após cinco minutos de percurso, ela apontou:

- Estacione aqui, chegamos. Você vai adorar.

Ele não viu bem o nome do restaurante mas parecia ser um lugar muito agradável, com uma varanda grande, salão todo envidraçado. Ambiente muito agradável.

- É o melhor vegetariano de São Paulo.
- Quem?
- O restaurante.
- Er...
- Calma, a comida é uma delícia, a carne de soja é ótima.
- Er...

Sentaram, ele ainda em estado de choque, afinal a mulher perfeita o levou num restaurante vegetariano, não podia ser bom sinal. É só um regime, isso mesmo, ele pensou, não deve ser nada grave.

- Você está de regime?
- Não?
- Er...
- Sabe como é, eu não como bichinhos, só plantinhas.
- Er...
- Odeio que matem bichinhos. Não suporto.
- Er...
- Salada de alface ou agrião?

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