sábado, 31 de maio de 2008

Amor Político

Alguns sentiram falta dos textos em que falo sobre o Amor. Mas, é que para se escrever sobre o Amor, é necessário de um pouco de sofrimento. E, na atual conjuntura, não me encontro sofrido. Tão pouco sofrível. Porém, como os pedidos foram muitos, eis que estou aqui novamente.

Há que se ressaltar que, aqueles que esperam uma crônica melosa, cheia de frases de impacto, esqueçam. Melhor lerem maktub ou algo que o valha. Confesso estar meio que sem paciência para as ditas cartas de amor.

O Amor, assim como tudo em nossa sociedade, é algo politizado. E, ele é assim, desde os primórdios.

Com Adão e Eva, havia um Amor incondicional que o Todo-poderoso tinha com os dois. Mas, como o ser humano é passível de erros, foram traí-Lo justo com uma maçã. Digamos à fome.

Enfim...

Quem dera eu tivesse a máquina do tempo de Júlio Werner para, aí sim, relatar sobre todas as formas de amor. Mas, como não o tenho, utilizo-me da minha parca memória.

Com o passar do tempo, o amor foi tomando formas. No surgimento do Código de Hammurabi, no “olho por olho e dente por dente”, o Amor seguia as tendências da época, qual seja: “dá ou desce”. Essa coisa de meio termo, de “ah, vamos conversar”, inexistia à época.

Evoluindo a humanidade e, como Amor é algo milenar e passa por transformações, surge o Amor Feudal, baseado no sistema de suserania e vassalagem: “você me ama e acabou-se”. Os senhores feudais mantinham, sob sua guarda, toda a vassalagem amorosa perto de seus castelos e, quando enjoavam, faziam suas trocas de amor. Tempos depois, perceberíamos que isso, nada mais era, do que juras de amor que nunca são cumpridas.

Passado a parte dos escambos, permutas e trocas muitas vezes não igualitárias, já que não havia maneiras de se medir amores, e eles vão e vem, o capitalismo amoroso veio pra ficar mesmo. E fica até hoje. Impregnou.

Na verdade, não tivemos uma Revolução Industrial, mas uma Revolução Amorosa. Algo como: “quanto vale o amor que eu sinto por você?”. Depois disso, a vida dos apaixonados e amantes nunca mais foi a mesma, haja vista os inúmeros processos milionários que envolve os divórcios mundo afora.

Esse amor é conhecido, também, como o Amor Capital, onde a troca feudal foi esquecida para dar lugar no “que é que eu vou lucrar com esse amor?”, como ouvimos à boca pequena e larga.

Mas, não é só de mazelas que vive a humanidade.

O Amor, como ser mutável que é, necessitava de outras revoluções, de transformações. Eis que surge Marx para dar uma nova cara. Não que fosse algo muito melhor, mas era de bom tom que o Amor fosse algo mais... mais... comum, de todos e para todos.

O Amor comunista veio, principalmente nas entranhas das universidades, para ficar. Era necessário socializar o Amor. Coisas como “ah, amar apenas uma pessoa é egoísmo demais”. Com a entrada do Amor Socialista, nada a ver com amores de socialites, houve um maior compartilhamento do Amor e um retorno ao tempo de Cristo, o maior comunista da história, “amem uns aos outros”. Aí foi aquela loucura de distribuição amorosa mundo afora e, principalmente, adentro.

Tendência natural da espécie, necessitávamos de que o Amor, retornando à Roma de Grécia, se tornasse uma res publica, uma coisa pública de fato. Daí, tornaram-se comuns as serenatas debaixo das janelas. O problema de se tornar algo tão íntimo público, era o famigerado olho gordo. Houve, então, uma mistura do Amor Republicano com o Amor Capital: quem tem mais, leva. Com o tempo, perceberam que a alma do amor é o segredo. Algo velho, mas que denominaram de “amor platônico”.

Bom mesmo foi a invenção do Amor Ditatorial: “Você me ama porque eu quero e pronto. Não resmunga e nem dê siricuticos”, e a pessoa saia cabisbaixa, pois sabia que era a parte hipossuficiente da relação. Tempos depois, o isso seria chamado de ciúmes, pois sabe-se que todo ditador é um tanto quanto inseguro e quer, sempre que pode, manter o controle, custe o que custar.

O surgimento do Amor monárquico foi algo estupefato. Em alguns lugares ainda persistem: “O Amor sou eu”, embora, houve grande confusão, principalmente, pelo surgimento, como o descrito nesse parágrafo, pelo Amor Absolutista. Um amor interessante, nessa mesma linhagem da monarquia, foi o Amor Esclarecido: “Te amo e você sabe, mas amo outras também”, sinceridade antes de qualquer coisa.

Ah... mas o grande invento do ser ainda estava por vir: o Amor Anárquico. Fácil de se entender, afinal, “é ninguém é de ninguém”, sem essa coisa de exclusividade. Daí surgiram movimentos como o movimento hippie, que se perpetua, assim como no Amor Social e Comunista, nas universidades.

Porém, impossível não falar do Amor Democrático, afinal, o Amor emana do povo. E, nessa emanação de Amor, carinho e afeto, “é tudo nosso”. E tem sido assim: o Amor é de todos e compartilhado por poucos, mas está lá para quem o quiser viver.

E, por último, há o Amor Ideal. Porém, como idealistas são apaixonados e nunca amantes, conclui-se que esse Amor é natimorto. O Amor Ideal não existe, mas há quem tenha esperanças de vivê-lo algum dia.


4 comentários:

Thâmara Andrade. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Bom sber que sentiram falta de seus textos sobre AMOR..isso quer dizer que voc� escreve bem sobre o assunto, ou, que vc escreve o que as pessoas gostam de ler, de ouvir! N�o posso negar que gostei da maneira como come�a a falar sobre o assunto:"na atual conjutura, n�o me encontro sofrido..."por v�rios motivos vc pode afirmar isso..mais isso fez lembrar da gente....da nossa atual conjuntura! Demonstrou um seguro conhecimento sobre o percusro desse tema, sentimento...AMOR...e o finalizou com chave de ouro.

Escreva mais sobre esse sentimento maravilhoso...mais que voc� n�o precise se encontrar sofrido ou sofr�vel para isso!beijos meu amor!

Daniel disse...

Bom pensamento a cerca do amor!!
não conhecia este lado político dele não, para mim amor eh algo surreal...que nao tem como se apegar nem a tempos ou eras, logo, ele eh sempre o mesmo, independente do tempo...mas ta bem legal o texto...

abraços

Rozane Alencar disse...

Donim, eis que suas ressalvas sobre as expectativas são deveras necessários, só quem está feliz pode falar de amor com serenidade, cheio de amenidades, sem grandes curvas... com retas mais certeiras. O amor é assim, algo que quando é vivido não pode ser dito... a vivencia se basta e pronto.