domingo, 22 de junho de 2008

Crescendo

- Pai.
- Oi filho.
- Posso perguntar uma coisa?
- Claro filho.
- Quando eu for grande, eu vou ter que colocar gravata todo dia?
- Não necessariamente filho. Vai depender de onde você trabalhar.
- Hummm…
- Por quê?
- Por nada.
- Você não gosta de gravata?
- Ah…fica engargejando.
- Hehehehe, enga-o quê?
- Engargejando. Não dá pra respirar.
- Mas desde quando você usa gravata pra saber?
- Não uso, mas uma vez amarrei uma fronha pra ver como ficava e não conseguia respirar. Muito ruim.
- É filho, não posso falar que é das coisas mais confortáveis. Mas você se acostuma. Alem do mais, nos melhores trabalhos você tem que usar gravata.
- É mentira.
- Como assim mentira?
- Astronauta não usa gravata.
- É verdade. Astronauta não usa. Mas o resto usa.
- Bombeiro também não.
- Ok, ok, mas são poucos.
- O tio que controla a fila no Hopi Hari também não.
- Eu entendi. Você está certo.
- Nem o Ronaldinho. Ele só usa gravata quando vai ganhar prêmio.
- É verdade.
- Também, imagina que engraçado se ele jogasse de gravata. Ele correndo com ela pendurada voando?
- Ia ser engraçado.
- E se ele fizesse um gol de gravata. Pai, gol de gravata vale?
- Olha filho. Desde que a gravata não esteja em posição irregular deve valer sim.
- Quê?
- Valeria sim filho. Se vale de chuteira vale de gravata né. É tudo roupa.
- É verdade. Pai, quando eu for grande, eu vou poder pular no pula-pula?
- Só se for um pula-pula bem grande.
- Legal. Adoro pula-pula. E ganhar brinquedo? Eu vou ganhar brinquedo quando for grande?
- Ah filho, aí depende de quem for te presentear. Mas nada impede.
- Mas porque você nunca ganha brinquedo pai?
- Porque sua mãe acha que basta o tanto que eu brinco com os seus.
- E ela não gosta quando você brinca comigo pai?
- Gosta sim filho. Mas não o tempo todo.
- Porque pai?
- Porque se brincarmos o tempo todo não sobra tempo pra ela.
- Pra brincar com ela pai?
- Isso filho. Pra brincar com ela.
- E de que vocês brincam pai?
- Errr…de muitas coisas filho. Depende do dia.
- Depende do dia?
- É filho. Se sua mãe teve um dia bom, brincamos de uma coisa, se foi muito bom, de outra. Se é dia que chego tarde não brincamos de nada.
- Entendi. É que nem eu e a carlinha então. Quando a mãe dela briga com ela nós não brincamos. A mãe dela não gosta que ela brinque só comigo e não fique com ela.
- Isso filho. Comigo e sua mãe é quase igual.
- É difícil né pai.
- É filho. É difícil.

Um comentário:

Daniel disse...

bom texto...gostei muito da parte do gol de gravata..hauauhaha....bem bolado seus textos...porém sempre no fim...existe um duplo sentido...este entendi nao entendendo...entendeu?

ah deixa pra lá..vou aguardar o proximo....

abraços