sexta-feira, 16 de maio de 2008

Como usar o anel

Karina é a típica menina que toda mãe gostaria de ter. Seja como filha ou como nora. Meiga, educada, simpática, atenciosa, carinhosa, dentre outros "osas" que seus amigos faziam questão de ressaltar quando a viam.

De personalidade bem sentimental, nunca dizia "não" quando lhe pediam um favor, por mínimo que fosse. Era prestativa com todos que conhecia.

Extremamente religiosa, freqüentava assiduamente as missas dominicais. Na hora da comunhão, colocava o véu branco sobre a cabeça e dirigia-se ao altar para receber a hóstia consagrada.
Desde pequena fazia parte do coral da igreja e, vez ou outra, tocava no harmônio da capelinha para animar as celebrações. Tinha as músicas decoradas, afinal queria ficar de olhos fechados, imaginando cada compasso da música. A feição angelical que fazia enquanto cantava, fascinava todos ao redor.

A família de Karina era tradicionalíssima. Havia certa rigidez na educação da filha mais velha, afinal, ela tinha que ser exemplo ao irmão mais novo que passava pela "aborrescência", dando suas cabeçadas típicas da idade. Mas Karina tinha um zelo todo especial para com o irmão.

Um belo dia, Karina começa a namorar. Claro que o conhecera na igreja. Rapaz pacato, não estressava com nada. O que lhe chamou mais atenção, era o cabelo cacheado de Karina, uma ovelha, praticamente. Ah, como ele adorava se entrelaçar naqueles cachos.

Na quermesse tradicional da igreja, ela leva Vinícius para conhecer o Seu Paulo. No balanço da quadrilha, Seu Paulo vê a filha de mão dada com o cidadão. Eles vão se aproximando e, para surpresa de Karina, os dois se abraçam e começam a lembrar momentos inenarráveis do futebol no clube. Há anos o dois jogam futebol aos domingos. Claro que a aprovação do namorado foi imediata.

E assim passaram-se os dias, meses, anos. O casal de namorados sempre juntos. Tudo o que um queria fazer, o outro fazia companhia. Até na sinuca do Centro Acadêmico da faculdade, Karina estava lá para apoiar o namorado. Na Interfono, Vinícius presenciou a namorada jogando basquete com suas amigas. Levava pompom, era torcedor fanático. De carteirinha!

Com o tempo, os amigos começam a reclamar da ausência de Vinícius. Vez ou outra, ele conseguia um "mandado de soltura" para jogar uma sinuquinha com os amigos e tomar um choppinho, mas esses momentos eram raros, insólitos, pois a menina não o deixava sozinho.

Certo dia, Karina sugere usarem aliança de compromisso. Vinícius aceita de pronto a "exigência", pois sabia que apesar de sua amada ser meiga, ela era um pouco tempestiva, às vezes. Ele já tinha percebido isso. Também, depois de quatro anos de relacionamento, já dava para dar pareceres quanto às características psicológicas de Karina.

Beata que sempre foi, vão à igreja para que o padre Daniel, o cantor, faça a benção das alianças. Para Karina, aquele era o momento mais importante de sua vida. Chorava copiosamente, parecia que estavam casando, o que de fato, para ela, era isso mesmo. Vinícius suava em bicas. Estava nervoso, ainda mais com a presença de seus amigos.

Convidaram parentes, fizeram juras de amor eterno, só faltou Seu Paulo entrar triunfalmente à igreja com a filha. Vinícius ficava na dele, tímido, comedido em virtude do pseudoconúbio, mas não tinha como dizer não à Karina, que estava eufórica, radiante com a novidade. Queria mostrar a nova aquisição a todas as amigas da faculdade, da rua, para que todas morressem de inveja. Já os amigos de Vinícius...

Passadas as comemorações, vieram as recomendações. Karina fez uma cartilha de como Vinícius deveria se portar com a aliança e como deveria cuidar da mesma.

- Tchu, é bem simples, tá?
- Tá.
- Primeiro você tem que limpar todo final de semana, senão ela fica encardida e feia. Aí acharão que você é um porquinho. Se não souber lavar, pede pra mim, que eu limpo, tá?
- Tá.
- Já imaginou você com uma aliança toda encardida e eu apresentando você para as minhas amigas? Iria passar uma vergonha absurda. Por isso...
- Amor, não é melhor eu deixar a aliança no bolso?

Um comentário:

Anônimo disse...

O coitado nao aguentava mais!!
Aliança no bolso é...talvez seja por isso que muitos não usam, deve por ela está suja...

abraços professor