sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Namorada de aluguel

Nunca vou esquecer da primeira vídeo-locadora do bairro. Chamava “Vera Vídeo”! Quer dizer … Leda! Não, não … era Vera mesmo. Quer dizer, olha … o nome eu não lembro, mas lembro direitinho do lugar! No quarteirão da Avenida Contorno Norte logo depois do depósito Walter , no Conjunto Esperança. Lado direito, duas lojas depois da esquina (ou seria uma loja só?). Fachada azul e porta de vidro com revestimento fumê.

Meu pai foi quem fez a ficha da família lá. Nosso número era 155. Disso eu lembro direitinho! Foi um dos primeiros números que eu decorei na vida.

Dentre as primeiras lembranças que eu tenho do local, era a estante com filmes esportivos. Na prateleira dos filmes de carro pra ser mais específico. Eu adorava a série “Havoc”! Uma seqüência de fitas que mostravam os acidentes de carro mais espetaculares de todos os tempos. A locução devia ser inglesa. Eu não entendia nada, mas lembro da legenda com um texto bem ácido. Uma das cenas que mais me marcou foi numa corrida de carros de série (não lembro se era rali ou pista) em que o veículo capotou e a porta acabou caindo. O piloto bravamente continuou na corrida, e o locutor disse : “E lá vai o piloto aproveitando seu novo ar condicionado!” Eu me matava de rir!

Mas isso tudo é só um aperitivo bem feito perto da minha maior lembrança. Eu devia ter entre 8 e 9 anos e, passando de carro por lá, me assustei ao ver uma placa branca com letras vermelhas dizendo : Temos Namorada de Aluguel. Uau!

Nessa época, namoro pra mim era algo absolutamente idealizado. Eu era ridiculamente romântico. Um menino bonitinho de olhos castanhos, cabelos quase brancos de tão loiros e completamente despenteados. Perdidamente apaixonado pela menina mais bonita da classe. Mais bonita de todas! E não é que eu tava vendo coisa demais, não! Quase todos os meninos da classe queriam namorar com ela. Mas eu gostava muito mais. De doer a barriga, sabe?

Nessa época, minha auto-estima era equivalente ao dedo mindinho esquerdo do nosso nem tão excelentíssimo presidente : praticamente nula. Eu sabia que ela era areia demais pro meu caminhãozinho. E eu nem sabia plantar bananeira, como poderia conquistá-la ? Impossível!

Foi aí que a tal placa mágica apareceu. Eu lá, no banco traseiro do Chevette branco do meu pai, debruçado na janela e lendo “Temos Namorada de Aluguel”. Que puxa …

Será que se eu fosse lá e pedisse uma menina com as mesmas descrições da minha amada, poderia fazer uma locação?

Mais do que isso : será que, assim como podíamos fazer nos filmes, a locadora tinha um andar secreto onde todas as namoradas ficavam perfiladas e a gente ia dando uma olhada a fim de escolher a melhor opção? (Gente, eu tinha 9 anos! Não tou falando em sacanagem!).

Só de pensar nessa possibilidade eu já ficava com um pouco de pena das outras meninas que estavam lá e não iam ser escolhidas. Na minha cabeça todas eram bonitas. Uma pena ficarem naquele lugar escuro.

Da onde será que elas vinham ? Os pais delas sabiam que elas estavam lá?Essa história toda era um pouco esquisita, mas totalmente cabível na minha cabeça loira e despenteada (bons tempos aqueles dos cabelos …).

Com o tempo eu comecei a perceber que várias das locadoras que passávamos de carro tinham a mesma placa. O que complicava um pouco as coisas, pois nessa época eu tinha certeza que a gente só tinha uma alma gêmea. E em qual locadora ela estaria!?

Por sorte (ou azar … seria, no mínimo, uma ótima história pra se contar agora), eu nunca tive coragem de entrar na tal locadora, devolver o “Havoc 5” e perguntar se a mulher da minha vida estava lá dentro.

Depois de um tempo a placa sumiu. Mal sabia eu, que ela devia fazer parte de um plano de marketing pré-histórico para lançamento do filme “Namorada de Aluguel”. Aliás, só fui ver esse filme na TV anos depois. E pra piorar, só me toquei que uma coisa tinha a ver com a outra bem depois dos meus 18 anos. Aqueles insights que você tem depois de velho sobre uma lembrança da infância, sabe como é?

Mas como bem diz meu amigo Leandro, o bom dessa época é que todos esses questionamentos e sofrimentos amorosos, por mais intensos e verdadeiros que fossem, duravam até a hora que algum amigo interfonava ou tocava a campainha de casa falando : “Vamos descer pro térreo pra jogar bola?”

Bons tempos aqueles!

3 comentários:

Fabi disse...

Adoro locadoras, meu bairro ainda as tem.... mas estão cada vez mais raro...
Adorei seu post sobre namorada de aluguel, só na inocência de antigamente de uma cça pra se pensar dessa maneira...
beijos

Fabi disse...

Adoro locadoras, meu bairro ainda as tem.... mas estão cada vez mais raro...
Adorei seu post sobre namorada de aluguel, só na inocência de antigamente de uma cça pra se pensar dessa maneira...
beijos

Diário de Veruschka disse...

rsrsrs
Essa filosofia sua e do Leandro sobre como resolver os problemas amorosos é muito boa!
Bjim!