sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Sob a perspectiva do dinheiro

Sim, porque eu sei sob qual perspectiva eu enxergo o dinheiro, mas não sei como o dinheiro me enxerga.

Mas acho que ele (o dinheiro) não vai muito com a minha cara. A efígie da república, por exemplo, grafada em todas as nossas cédulas reais, está sempre olhando para a direita, evitando os meus olhares, meio como fingindo que não me ouviu chamar.

(Para ver para qual lado a dona República estava olhando, fui obrigado a pedir uma cédula emprestada. Não tenho nada nos bolsos a não ser cartões de visitas). Mas estou prestes a adentrar em um mundo novo, onde talvez eu possa enxergar as coisas da perspectiva do tutu, da bufunfa, do caraminguá.

Hoje farei um curso de introdução ao mercado financeiro. Lindo nome, não?

Já estou cansado de ser pobre e sem perspectivas. Decidi, solene, a desvendar o tão complicado mudo das finanças. E, pelas minhas perspectivas, daqui a um ano, estarei na sombra e na água fresca, com uma bela morena a me abanar e uma bela loira a me servir bebidas.

Não faço muita idéia do que vou aprender no curso de hoje, mas vai ter coffee-break. Curso que se preze tem coffee-break com canapés e sucos. Manja, coffee-break? Coisa fina.

Minha idéia é transformar os cinqüenta reais que me sobram por mês, se eu não almoçar por três dias, em meu primeiro milhão de reais. Em, no máximo, dois anos.

É o segredo, gente, é o segredo. Já viram aquele livrinho que vende aos milhões no mundo todo? O Segredo? Pois é, é só acreditar.

Depois vou fazer um curso de Home Broker. A princípio, e traduzindo meio ao pé da letra, achei que era para trabalhar em alguma empresa de demolição de casas, mas pelo o que pesquisei, tem a ver com fazer o dinheiro crescer também. Aí ninguém me segura.

Tenho a impressão de que a efígie da república, nas notas de cem, é claro, vai me olhar de frente. Me encarar. E, se bobear vai até querer sair comigo. E eu topo, claro. Já repararam no rosto dela? Puxa essa nota de um Real amassada que você tem aí no bolso e dê uma olhada. Até que ela é bem bonitinha.

(O Segredo é o fiofó do Juca, como diria Chico Branco. Quem nasce pra pobre não adianta fazer mandinga, ler auto-ajuda ou jogar na Mega-Sena. O buraco é mais embaixo. Espero que o curso me traga mais que o coffee-break).

Fui, porque estou com fome.

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