Algo está faltando aqui.
Sinto que algo maior do que eu penso está faltando em mim. Olho minhas mãos.
Cadê minha mão direita? Cadê meu braço direito? Minha perna?! Metade de mim
sumiu!
Eu ainda me sustento como se
tivesse todo o corpo, mas sei que só tenho metade. Andando pelas ruas ninguém
percebe. Amigos, familiares, conhecidos … como ninguém me alertou?! Metade de
mim sumiu!
Tento falar com alguém, num
momento oportuno. Ninguém me ouve. Todos me vem inteiro. Muitas vezes sinto
partes de mim se reconstituindo, mas de uma forma diferente. Isso não sou eu.
Cadê aquela metade de antes? Metade de mim sumiu!
Caminhando, passo em frente
de uma vitrine qualquer, numa calçada qualquer. A imagem refletida está
inteira. Como um vampiro às avessas. Minha imagem está intacta, talvez por isso
ninguém fale nada. Mas não estou inteiro. Metade de mim sumiu!
Vou trabalhar. Porém, uma
guerra idiota acabou com o trabalho. Agora tenho mais tempo pra olhar pra mim.
Sem espelhos. Sinto muito, Orlane. Metade de você sumiu!
Por alguns momentos me vejo
inteiro de novo. Ufa, voltei. Mas não. É só pele, não tem nada por dentro, e
essa superfície frágil, quando eu menos espero, explode, revelando, nos piores
momentos, a verdade. Metade de mim sumiu!
Um dia, quem sabe, a pele
voltará a revestir algo inteiro e maciço. Real. E aí, novamente, a imagem
voltará a ser fiel ao corpo. Por enquanto, espero. Olhando no espelho e
torcendo pra que o meu reflexo inteiro, acelere a minha reconstrução, lenta e
vagarosa, doendo um pouquinho, sarando um pouquinho. Aos poucos, porque agora:
Metade de mim sumiu!
Nenhum comentário:
Postar um comentário