terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Infidelidade

– Seu Flávio! O que está acontecendo aqui?!
– Calma aí, seu Gregório! Não vamos fazer um escândalo aqui no meio da rua. Eu posso explicar.
– Não precisa explicar nada! Eu te peguei saindo da banca do seu Matheus! Como ousa a comprar em outra banca de jornal? A minha banca não te satisfaz mais?
– Não é isso seu Gregório. É que eu estava de passagem…
– E resolveu comprar um jornal do seu Matheus rapidinho? É o que todos dizem. Essa geração promíscua! Eu pensei que você fosse diferente.
– Deixe-me terminar de explicar… Eu estava de passagem e parei para comprar um cigarro. Só um cigarrinho, juro! Você sabe que eu sempre compro o jornal de você, né?
– Nem vem com esta história! Então para quê essa sacola?
– Que sacola?
– Esta que você está escondendo aí atrás! Passa para cá!
– Que isso, larga de ser desconfiado seu Gregório! Você não confia mais em mim?
– Deixe-me ver essa sacola! O que? Uma daquelas revistas com DVD?!! Você nunca comprou dessas comigo!
– É que… É que o seu Matheus me deu um desconto.
– Você podia ter falado comigo! Você sabe que também teria dado. Não precisava ir até outra banca! Se lembra daquela vez… snif… Daquela vez que… snif… Você havia perdido aquele número da revista que colecionava… e eu… Eu consegui para você… E é assim que me agradece? Ingrato!
– Mas foi um desconto de 30%!
– E nossos 20 anos de relacionamento? Não contam? Se você tivesse me trocado por uma assinatura eu até compreendia. Iria ser duro, mas entenderia. Sei que é difícil competir com a facilidade da entrega em casa, e ainda com todas aquelas promoções.
– Não, eu nunca faria isso com você.
– Lembra do seu Cláudio? Ele também sempre repetia isso. Não deu 6 meses e o canalha já me trocou por uma assinatura. Quando ele me via fazia questão de atravessar a rua e esconder o rosto, só de vergonha de falar comigo. Mas eu superei. Hoje em dia ele até aparece de vez em quando para comprar uma Veja de domingo. Mas você? Você me trocar por uma revista com DVD do seu Matheus?
– Olha, desculpe seu Gregório. Não pensei em meus atos. Vamos esquecer que isso aconteceu. Confie em mim, prometo que isso nunca mais se repetirá.
– Tudo bem seu Flávio. Desculpe-me também. Acho que me excedi um pouco. Você sempre foi um ótimo cliente.
– Você também é um ótimo jornaleiro! Me dá um abraço aqui!
Seu Matheus que acompanhava a conversa de longe dá uma piscadinha para seu Flávio, este retribui discretamente com um sorrisinho maroto.

Nenhum comentário: