sábado, 25 de julho de 2009

Umas de ciúmes


"Justiça seja feita! E logo", gritavam mulheres no largo do Arouche.

Esse senhor, que há anos corrompe os namoros, noivados, casamentos e, pasmem, até casos extraconjugais, foi convocado a prestar esclarecimentos do porquê de meter o bedelho nos relacionamentos e pode ser condenado caso suas explicações não sejam convincentes.

Tudo começou quando Maria G., miudinha de 22 anos de idade, moradora de um bairro abastado de Osasco, cansada de se estressar com Diguinho, seu namoradinho, resolveu apelar a instâncias superiores e entrar com uma ação na Justiça contra o Ciúme.

Segundo dados da Associação Aspirante de Ciumentas Neuróticas Anônimas - ASSACINA, o Ciúmes é um dos maiores causadores de destruição de lares e crimes de homicídios na capital paulista.

Dizem que Maria G., uma ex-neurótica anônima que resolveu se identificar para entrar com a ação, gozava de direito líquido e certo, entrando com um Mandado de Segurança para ser exorcizada e o Ciúme deixar o seu corpo.

Porém, do outro lado da balança, foi impetrado um Habbeas Corpus pelo Ciúme, alegando que ele já estava incrustado naquela mente perturbada.
Alguns podem achar exagero, mas a coisa tem acontecido assim mesmo: o ciúme quando entra na vida do casal, não sai nem por decreto presidencial.

Outro dia, a mesma Maria G., fuçava no celular do Diguinho. Inúmeras vezes eu disse à ela para não cometer essa bobagem, mas vocês bem sabem como é essa gente possuída pelo Ciúme.

Ela leu. Chorou. Decorou mensagem por mensagem. Chorou. Leu mais umas três vezes cada uma das quinze mensagens. Chorou novamente. Ligou pra psicóloga. Chorou. No auge do choro, não resiste:

- Diguinho!
- Oi meu amor.
- Meu amor o escambau!
- Nossa...
- Nossa o diabo que te carregue!
- Ixe...
- Ixe o quinto dos infernos!
- Mulher, tô aqui vendo o futebol...
- Pro raio que o parta você e esse seu futebol!
- Calmaí! Aí você já extrapolou TODOS os limites. Não mexa com o meu futebol.
- Futebol? Futebol?! FUTEBOL?!
- Isso mesmo. Sua audição está perfeita.
- Pois olha aqui, seu cachorro...
- Opa, opa, opa! Aqui não tem cachorro não.
- Pois tem sim, seu canalha, cafajeste...
- É TPM, só pode ser isso.

A conversa não foi das mais produtivas e ela, antes de jogar o celular na parede e espatifa-lo, leu mensagem por mensagem em voz alta ao namorado. Ele, com aquela cara de quem acabou de ver um filme do Akira Kurosawa apenas diz:

- E aí?
- Como assim ‘e aí’? Você perdeu COMPLETAMENTE a noção de um relacionamento!
- Isso é hora de brigar?
- E tem hora pra brigar agora? TEM?!
- Sempre teve.
- Ahn?
- Há uma lista com os horários na internet, você nunca viu?
- Não...
- Pois então vou lhe passar: segundas-feiras, após às 22h quando o marido já estiver dormindo; terças-feiras, após o futebol com churrasco e cerveja, e isso só se for depois das 23h30, que é quando ele estará bêbado; quartas-feiras, após a feijoada do almoço; quintas-feiras, se tiver brigado todos os dias, dê um descanso ao marido; sextas-feiras, caso ele chegue em casa, qualquer horário; sábados, após o futebol; domingo, sem horário disponível para brigas.
- Sei...

Semana que vem continua

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Clodisvaldo

Clodisvaldo. Ao contrário do que possa parecer o nome nunca foi problema, para todos os efeitos ele era o Clodô. Um cara como outros tantos que existem por aí. Metódico. Pós adolescente carreirista pressionado pelos hormônios, dividia sua atenção entre os estudos e as garotas; quando muito, cerveja e garotas.
Foi assim que Clodô entrou na faculdade. E como dizem que e mais fácil entrar do que sair, ele não quis saber de dispersões. Estudo, dedicação, provas de empenho.
Enfim, aula de Básico de Métodos Quantitativos. Ficou vidrado, não sabia que aquilo era possível. Espaço amostral. Aquilo fazia sentido para ele. Clodô adorava aquilo mas não de um jeito “nerd”. Ele gostava era das possibilidades que dali surgiriam, aplicações reais que ele poderia exercitar.
Entre uma apostila e outra (era preciso dedicação), uma garota para conversar, vez em quando uma cerveja com os amigos. E que qualidade de amizade, viu? Clodisvaldo só conhecia mulher, e se empenhava nisso. Mulheres de todos os jeitos, trejeitos; todos os estilos. Clodô pensava assim: espaço amostral!Começou que toda mulher que ele conhecia, ele conseguia criar um vínculo interessante que lhe proporcionaria algo também interessante e esperava que a recíproca fosse verdadeira. Esperava.
Sua aula de métodos quantitativos tinha que dar resultados, a teoria era infalível, era lógica. Cada dia que passava sua agenda aumentava. Não media esforços; se uma Mariana qualquer estivesse disponível ali na lanchonete, Clodô esquecia das aulas e engatava na conversa; ia até o intervalo. Nesse ponto ele já teria o número do telefone e pelo menos um cineminha marcado.
Dia após dia, Clodô sentia-se mais confiante, sua auto-estima subia a níveis estratosféricos. E quando chegou na Lua, ele parou. Não sabia o que fazer. Espaço amostral. E agora? Todo esse tempo, uma agenda lotada e nenhuma namorada. Zero. Precisava mudar isso.
De A a Z começou a ligar, Adriana, Amanda, Bethy, Carol, Carol Pini, Daniela, Dani Martins, … Ligou, ligou e ligou. Todas as vezes que ligou foi bem atendido, até com certa ternura na voz. Todas as vezes que ligou foi trocado pelas amigas – o que é uma amiga que não deixa a outra sair com um cara legal como ele? -, namorado – namorado? se ela tinha namorado porque ficava se jogando pra cima dele? Sem falar nas inúmeras vezes que foi perguntado: “quem mais vai?” Não podia acreditar, uma teoria inteira… por àgua abaixo em algumas dezenas de ligações. Sua lógica estava ferida. Não conseguiu pensar em mais nada a não ser mudar de aula. Algo mais pragmático, talvez pintura com as mãos.

sábado, 4 de julho de 2009

Sem-educação

Dizer que o ensino no país está ruim, é pouco. Ao analisar a situação mais de perto, dá para se revoltar. Lendo jornais e revistas, caímos no inconformismo. Se você é brasileiro, sente vergonha.

As carências são múltiplas. A falta de cultura de nossos alunos é algo gritante. Há anos não temos na grade curricular Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política Brasileira e, se não bastasse, Filosofia. Tudo isso por quê? Os mais cretinos pensarão: "pra que essas matérias se não caem no vestibular?", pois é. Para que ter cultura se a alienação é inevitável, não é mesmo? Viva a mediocridade!

Hoje as escolas formam bitolados, alienados culturalmente, adolescentes virtuais, babacas que vomitam fórmulas decoradas e boçais que não pensam, "nerdeiam".

Segundo estatísticas, houve uma crescente de pouco mais de vinte por cento no aumento de reprovações no último ano. E vejam que em alguns estados há a maldita "progressão automática", isso se o negócio já não for nacional em colégios públicos.

Ao meu ver, essa foi a maior patifaria já feita com o ensino. Onde já se viu "passar de ano" um cidadão que diz: "Curitiba é a capital de Santa Catarina, né?". Alguns não sabem resolver simples problemas de aritmética e, se sentem cultos ao dizer: "A nível de...". Que nível, hein?

O Pensar tornou-se raro, quase extinto em nossa classe estudantil. Faltam incentivos no ensino fundamental e médio. Caso isso não ocorra urgentemente, veremos nossos estudantes sem direção, protestando sem fundamentos, sem bom senso e perdidos num mercado que exige, além de técnica e conhecimento, astúcia.

Eu penso que, se a tal "progressão automática" visasse que o jovem se formasse logo, com o intuito de adentrar ao mercado de trabalho mais cedo, vá lá. Mas, e emprego para todo esse pessoal? Fora que sempre exigem experiência de um, dois e, até, três anos nisso ou naquilo. Só quero saber aonde é que estão os dez milhões de empregos prometidos em campanha. Acho que foram apenas boatos. Sinceros boatos.

E os professores? Simples marionetes sem estímulos financeiro e profissional. Fora quando são funcionários públicos e se acomodam, não buscando uma reciclagem no método de ensino. Alguns ainda estão no tempo da palmatória (!). A sentença, com esse quadro, é cair na vala comum e deixar os alunos da maneira que estão: sem inteligência e sem rumo.

Poderia, aqui, culpar os militares, o Sarney, Collor, Itamar, FHC ou o Lula. Mas isso seria cômodo demais. Também poderia me valer de clichês como "isso é falta de vontade política". Nessa altura do campeonato, o mais sábio é ser autodidata. Claro que isso é utopia para quem mora nas favelas. Impensável, no mínimo.

Já que os "programas sociais" de dar comida não têm surtido muito efeito, partamos para o lado educacional, dando alimento ao cérebro, pois, da maneira que está, o nome do Programa é "Inteligência Zero".

Há anos eu pensava que quando os intelectuais chegassem ao poder, teríamos um outro país. Um país mais justo, mais digno de se viver. Porém, vi que muito saber não é o mesmo que ter sabedoria. E o povo, por falta de cultura, discernimento, saber e sabedoria, não enxerga que nada mudou, que é só uma questão de perfumaria. Ou seja, mudam-se os frascos, mas o odor é o mesmo. Senão pior. Vai saber...

Mas, refletindo melhor na situação, num país em que as pessoas mijam na rua e as melhores salas de aula são botecos, até que não estamos numa situação tão ruim.

Educação, Lula. Educação.