A música de Julio Numhauser, imortalizada na voz de Mercedes Sosa já diz tudo e da forma mais bela possível. Tudo muda, o tempo todo, independente da nossa vontade.
Mas mudanças são sempre difíceis. Sair da zona de conforto, como dizem os experts, requer esforço, e às vezes não queremos esforço nenhum. Me deixa quieto aqui no meu canto que está tudo muito bom.
Tudo muda e, mesmo que quietos no nosso canto, somos varridos de um lado para outro, à mercê da vontade do que alguns chamam ka, outros chamam destino. Fate is a hunter, já diz o ditado.
Já vi, com esses olhos que o fogo há de queimar, quem fosse de tristeza eterna. Pessoas que são derrotadas por si mesmas, que quando perguntamos como tem passado sempre respondem – vou levando – e nunca dizem que está tudo bem. O que se vislumbrava apenas um catre num asilo escuro no futuro dessa pessoa, se torna parque de diversões quando, anos depois, a encontramos jovial, feliz, de riso fácil e sincero, desfrutando a vida como jamais nós mesmos desfrutamos. Quem diria, uma pessoa antes tão triste. O ka trabalhou bem ali.
E já vi o contrário também. Quem de muita alegria se tornar apagado para a própria vida. Tudo muda.
Quem de muitas paixões a vida toda, de repente se entrega de corpo, alma e até conta bancária a um amor apenas. Pleno. Interessante isso.
Já vi quem de muita segurança, opinião forte e pétrea, astúcia afinada e perspicácia infalível durante a vida toda, ficar, sem grandes motivos, insegura, agindo de forma estúpida, deixando todos em volta com uma grande interrogação pairando sobre a cabeça.
Eu, é claro, já mudei muitas vezes. “Se tudo muda, que eu mude não é estranho.”
Defender apaixonadamente uma idéia durante anos. Quem já não fez isso? E quando a mão do tempo dá-lhe um piparote na nuca, aquela idéia, tão perfeita, tão indiscutível, se torna simplesmente infantil. Infantil como achar que tudo vai ficar da mesma maneira para sempre.
O Orlane que começou a escrever este texto não é o mesmo Orlane que vai terminá-lo. Como você, leitor, que também não é mais o mesmo desde que passou os olhos pelo primeiro parágrafo.
Nem este próprio texto será o mesmo com o passar dos anos.
E, se tudo muda o tempo todo, vamos nos apegar a quê? No fundo, todos nós sabemos a que se apegar.
“Muda o superficial, muda também o profundo, muda o modo de pensar, muda tudo neste mundo”.