sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Todo cambia

A música de Julio Numhauser, imortalizada na voz de Mercedes Sosa já diz tudo e da forma mais bela possível. Tudo muda, o tempo todo, independente da nossa vontade.

Mas mudanças são sempre difíceis. Sair da zona de conforto, como dizem os experts, requer esforço, e às vezes não queremos esforço nenhum. Me deixa quieto aqui no meu canto que está tudo muito bom.

Tudo muda e, mesmo que quietos no nosso canto, somos varridos de um lado para outro, à mercê da vontade do que alguns chamam ka, outros chamam destino. Fate is a hunter, já diz o ditado.

Já vi, com esses olhos que o fogo há de queimar, quem fosse de tristeza eterna. Pessoas que são derrotadas por si mesmas, que quando perguntamos como tem passado sempre respondem – vou levando – e nunca dizem que está tudo bem. O que se vislumbrava apenas um catre num asilo escuro no futuro dessa pessoa, se torna parque de diversões quando, anos depois, a encontramos jovial, feliz, de riso fácil e sincero, desfrutando a vida como jamais nós mesmos desfrutamos. Quem diria, uma pessoa antes tão triste. O ka trabalhou bem ali.

E já vi o contrário também. Quem de muita alegria se tornar apagado para a própria vida. Tudo muda.

Quem de muitas paixões a vida toda, de repente se entrega de corpo, alma e até conta bancária a um amor apenas. Pleno. Interessante isso.

Já vi quem de muita segurança, opinião forte e pétrea, astúcia afinada e perspicácia infalível durante a vida toda, ficar, sem grandes motivos, insegura, agindo de forma estúpida, deixando todos em volta com uma grande interrogação pairando sobre a cabeça.

Eu, é claro, já mudei muitas vezes. “Se tudo muda, que eu mude não é estranho.”

Defender apaixonadamente uma idéia durante anos. Quem já não fez isso? E quando a mão do tempo dá-lhe um piparote na nuca, aquela idéia, tão perfeita, tão indiscutível, se torna simplesmente infantil. Infantil como achar que tudo vai ficar da mesma maneira para sempre.

O Orlane que começou a escrever este texto não é o mesmo Orlane que vai terminá-lo. Como você, leitor, que também não é mais o mesmo desde que passou os olhos pelo primeiro parágrafo.

Nem este próprio texto será o mesmo com o passar dos anos.

E, se tudo muda o tempo todo, vamos nos apegar a quê? No fundo, todos nós sabemos a que se apegar.

“Muda o superficial, muda também o profundo, muda o modo de pensar, muda tudo neste mundo”.

3 comentários:

Diário de Veruschka disse...

Sábia música, sábio Orlane... Aliás, sábios todos aqueles que já entenderam que, realmente, tudo muda. Quando menos se espera, vem o sorriso depois da tempestade (ou vice-versa, infelizmente).
Quem lê meu blog nota na hora que essas palavras de Mercedes Sosa são mais atuais que a voz da Ivete no Maraca :) Sinceramente, mudar faz um bem danado, se a gente parar pra pensar. Dói, lógico, mas a vida começa mesmo com uma dor fenomenal (nossas mães que nos tiveram de parto normal que o digam). Natural que a dor, vira-e-mexa, volte a nos aporrinhar, nos forçando a viver de verdade.
Amei o texto, só pra variar :)
Bjim e ótima semana!

Anônimo disse...

Concordo... Mudar faz bem! E estas palavras são o que nos garantem que a vida não será ordinária, rotineira, a mesmice, a não ser que assim a queiramos... Tudo o que é novo nos causa medo, e o medo por si só não é ruim, ruim é o excesso de medo que nos faz paralisar diante de situações originais. Como algumas pessoas, também tenho meus medos, um deles é o medo de amar, pq "o amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente..."; pq, quem ama confia e acredito nas pessoas (até que elas me provem o contrário!) e na vida. Não podemos amar o desconhecido, então vale a pena abrir-se aos outros e ser feliz, e que o amor "seja eterno enquanto dure". Boa viagem! Boa prova! Beijos.

Moça disse...

Uau, estava procurando sobre a vida de Julio Numhauser achei seu post que tem tudo a ver com o momento atual que estou vivendo.
Obrigada por ter escrito isso.
Suas palavras caíram como uma luva na minha vida.