sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Apenas o cotidiano

De vez em quando eu gosto de almoçar sozinho. Não sei bem o motivo, nem sei se tem algum motivo, mas de vez em quando me dá na telha.

Outro dia resolvi. Saí do trabalho e fui num restaurante que não costumo ir. Mudar de ares, sei lá. Estava meio vazio. O garçom veio me perguntar para quantas pessoas era a mesa, e eu respondi que se ele quisesse almoçar comigo, seria para duas. Acho que ele não estava programado para ouvir uma resposta dessas, ficou me olhando como se eu fosse de outro planeta. Esses garçons são meio bitolados.

Sentei-me próximo da janela. Gosto de ficar olhando o movimento da rua. Talvez por isso que não me sinta muito confortável dentro de igrejas ou de supermercados.

O garçom voltou e perguntou se eu gostaria de olhar o cardápio. Respondi que só olharia se ele fosse bonito. Não gosto de olhar para coisas feias. O garçom sorriu amarelo. Disse que os cardápios estavam um pouco gastos, mas que eram muito bonitos quando eram novos. Aceitei de qualquer maneira. Ele também não estava preparado para este tipo de observação.

Logo entrou um casal. Jovens, bonitos e de caras amarradas. Sentaram-se na mesma fileira de mesas, próximo da janela, mas com uma mesa vazia entre nós. Não sou de ficar reparando nem de ficar bisbilhotando a vida alheia, mas o casalzinho conversava num tom de voz que seria impossível não ouvir.

Pelo o que eu entendi era um noivado que estava mais próximo do fim do que do casamento. A moça estava de frente para mim e tremia, a coitada. O rapaz de costas, com o corpo projetado para a frente, sobre os braços cruzados apoiados na mesa.

Ela não acreditava que ele tinha feito aquilo. Ele não entendia o porquê dela ser tão descontrolada. Ela pedia para ele explicar. Ele perguntava o quê deveria ser explicado.

Ela dizia que assim não dava, que ele não ouvia, que ele pensava que ela era boba. Ele dizia que não era nada disso, que ela era histérica e que estava “viajando”.

Sinceramente, o papo deles estava muito mais interessante do que o meu espaguete.
O garçom veio e os dois pediram refrigerante. Light. O garçom trouxe os refrigerantes. Não light.

A moça bufou, olhou o para o garçom e perguntou se ele era surdo. O rapaz interferiu e, de forma mais polida reiterou o pedido ao garçom – Light!

O rapaz disse que ela era grossa. Ela disse que ele a tratava como criança. Ele colocou a cabeça entre as mãos. Ela enxugou as lágrimas.

O garçom voltou e disse que não tinha light. Só normal. O rapaz, enfurecido, pediu então um copo de cianureto com gelo e limão. O garçom disse que iria perguntar ao gerente se tinha cianureto.

A moça riu. O rapaz olhou pela janela e riu também. Ela disse que ele era bobo. Ele disse que ela era linda.

Foi uma cena e tanto. Levantei-me para pagar a conta, ainda a tempo de ouvir o garçom, que havia regressado, dizer para o casal que infelizmente o cianureto também estava em falta.
Saí do restaurante com os dois ainda às gargalhadas. Valeu o dia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eh verdade esse tipo de coisa acontece todo dia, principalmente com casais que já estão juntos há muito tempo..mas nada melhor
do que fazer as pazes..hehehe
bjus

Unknown disse...

kkkk, essa foi demais, cianureto!
saudades das mensagens, ainda bem que às vezes me sobra tempo pra postar, agora um pouquinho mais que antes.
Bjaum!