sexta-feira, 25 de maio de 2007

Milhar


"Eu já te disse mais de mil vezes!".

Com certeza já dissemos e ou ouvimos essa frase mais de mil vezes. Nossas mães são peritas em proferir o jargão. Ah... e como gostam. Ô se gostam. Eu, em minha parca existência, já disse isso um punhado de vezes. Inclusive, a palavra "mil" anda comigo desde pequeno. Incansavelmente. Diariamente. Martelando na minha cabeça.

Na época da inflação, lembro-me de pedir ao meu pai todos os dias uns mil cruzeiros para comer um pão com queijo e tomar um suco de laranja na escola. Era o valor certinho. E eu achava aquilo o máximo: falar mil. Pô, mil é número pra burro. Dava impressão de ter muito, mas era tão pouco...

Recordo-me quando brincava de esconde-esconde e meus amigos, para tirarem um sarro da minha cara e me fazerem de idiota mesmo, pediam para eu contar até mil. Sempre achei aquilo uma eternidade. Fora que perdia as contas e tinha que começar tudo de novo. Do zero. Quando já perdia as contas pela terceira vez, pulava pro número novecentos e contava mais cem. Pronto! Minha missão já estava acabada e saia à caça.

Mil é muita coisa, gente. Vocês já contaram até mil? Tentem. Sabem quanto são mil segundos? Pouco mais de dezesseis minutos. Agora imagine você ficar dezesseis minutos contanto... contando... contando... O tempo não passa. E a sua paciência vai pras cucuias.

O que me motivou, claro, a escrever sobre isso foi o Romário. É que nunca vi o Pelé jogar ao vivo. Minto! Vi uma vez em mil (!) novecentos e noventa (acho que foi por aí) quando ele completou 50 anos e teve uma partida comemorativa. Salvo engano, foi até o Senna quem deu o pontapé inicial. Justo o Ayrton que era um perna-de-pau lascado. Enfim...

Marcar mil gols é um feito. Comecei a pensar se o Garrincha deu mil dribles. Se o Jordan fez mais de mil pontos. Se o Schumacher deu mil voltas. Se a Hebe já cometeu mil gafes. Se o "deus" Jô Soares já leu mil livros. Se o papa já rezou mil terços ou inteiros. E, claro, quantas mil vezes eu já falei que detesto, odeio Chão de Giz, os livros do Paulo Coelho e que não como dobradinha nem se me derem mil reais.

Nossa vida é marcada por esse número mais cabalístico que o sete, o setenta vezes sete que, biblicamente ninguém sabe quanto dá, e , claro, o fatídico 13 (esse o PT sabe quanto e pra quem dá).

O mil nos acompanha no trabalho, naquele momento em que você não quer fazer porcaria nenhuma e o seu companheiro de trabalho vai lá te importunar. Você, para se livrar do inoperante e não lhe dar assistência, diz: "Olha cara, to fazendo mil coisas aqui e não vai dar pra te atender". Digamos que esse seja o milheiro profissional.

Canalha que é canalha, também não perde a oportunidade de dar a sua cantadinha e aproveitar do pobre mil, mesmo porque, canalha bom tem mil facetas e sai por aí dando mil piscadinhas.

O número está no amor também. Claro que ninguém combate o poetinha Vinícius que deve ter tido mil amores. Vai ver que pela pluralidade do nome quis ter mil paixões em mil momentos.
Mas no amor o mil é rotineiro. Quando é começo de relacionamento, um diz ao outro: "quero te dar mil beijos, mil abraços e mil motivos para ficar com você". Porém, com o passar do tempo, os milhares resumem-se a unidade. Vai ver porque o amor é uma coisa ímpar, sei lá. O amor é uma coisa meio estranha, meio mutante e dinâmica. Uma hora é amor, outra hora paixão, depois volta a ser amor novamente. Deve ter umas mil formas de amar, mas ninguém sabe em qual se encaixar.

Falando nisso, não sei se já dei mil beijos. Mas sei que não mil beijei mulheres. Certeza.
Pensando nessas milhagens todas, comecei a pensar se eu tenho algo na casa dos mil. É que sempre tenho mil coisas para contar, para escrever, relatar, essas coisas todas, mas não dá para falar todas de uma só vez, então opto por ir devagarinho, de pouquinho em pouquinho para não assustar quem me lê.

Salário? Mil? Não?

Latinhas de cerveja? É preciso fazer as contas para ver se já bebi mil latinhas. Mas creio que mil goles já bati o meu recorde mil vezes.

Poesias? Estou longe, muito longe. Mesmo porque faz mil anos que não produzo algo poeticamente digno de leitura.

Crônicas? Bem, segundo minhas estatísticas, para cada ano eu produzo (caso não falhe nenhum dia – estou em débito com vocês em seis textos) serão quarenta e oito textos. Em dez anos, quatrocentos e oitenta. Isso levando-se em consideração que há quatro quartas-feiras no mês. Em vinte anos, quando terei bem menos de mil fios de cabelo na cabeça, terei produzido novecentos e sessenta crônicas. Sendo assim, lá pelo ano de dois mil e vinte e oito é que produzirei minha milésima crônica aqui no Tudo Novo de Novo.

Isso sem contar férias e a meia dúzia de crônicas que devo a vocês. Falta bastante tempo... muito tempo... Tempo suficiente para saber se tirou ou não habilitação para dirigir. É que recentemente, segundo informações de um amigo, o Código de Trânsito Brasileiro estipula idade máxima de cinqüenta anos para tirar a tal da carta. Coincidentemente, é o prazo que tenho para escrever minhas mil crônicas.

Sendo assim, como ainda há muito para se escrever, vamos ver se minha milésima crônica será, em plena "meia idade" ou "idade inteira", sobre minha experiência em tirar habilitação.
Só espero ter assunto e leitores até lá.

PS: Só para ser um pouco chato e exato, essa crônica, contando com o título e esse "PS", contém mil palavras. Foi uma forma de ter algum mil registrado na vida, já que não plantei mil árvores, não tenho um livro de mil páginas, nem mil livros publicados e, muito menos, mil reais na conta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que legal, MIL beijos pra vc!