sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Pessoas magras mentem

Esse é um tempo de magros. Dias atrás, reencontrei um amigo que não via há anos e ele estava com sua esposa que está grávida! O João vai ser pai. O que significa que serei "tio". Cumprimentei- o, dei-lhe um forte abraço e bati em suas costas taptap, e de repente lhe disse:

— Pô, tu estás mais magro.

O rosto do João resplandeceu como se ele tivesse uma lanterna pendurada no queixo. Sorriu seu melhor sorriso, um sorriso de 28 dentes. Baixou os olhos para a barriga e a apalpou.

— Acha mesmo? — perguntou-me, incrédulo.

Eu:

— Acho, ué.

O João inflou o peito:

— Muito obrigado!

Obrigado, agora vê. Digo para um sujeito que ele está magro e ele me agradece. Ou seja: magreza é elogio. Quer agradar alguém? Diga:

— Você é uma pessoa magra.

Quer conquistar uma mulher?

— Para mim, você é a pessoa mais magra desse mundo. Nunca existiu uma pessoa tão magra como você, na minha vida.

Quer lhe dar votos de bom Ano-Novo?

— Desejo muita magreza para você em 2014.

Não era assim, antes. Minha avó vivia comentando:

— Encontrei o Tibúrcio, ontem. Está gooordo, boniiito. — Desse jeito, com três ós e três is. Eu podia imaginar o Tibúrcio, redondinho, vermelho e sorridente, a prosperidade de calça de tergal e suspensórios.

Só que tem o seguinte: os magros mentem. Não todos os magros, verdade, mas os ex-gordos. Você se encontra com um amigo que era gordo, e se surpreende — o cara está que é só o couro e o osso. Só o buraco e catinga, de tão magro. Espanto:

— Nooossa, que regimão, ahn? O que você deixou de comer?

Aí, sabe o que ele diz? Que come de tudo! Jura que não deixou de comer nem carnes, nem doces, nem massas, nem mesmo torresmo. Daqueles bem crocantes acompanhando uma cerva estupidamente gelada.

— É que tenho feito muito exercício — se exibe o ex-gordo.

CONVERSA! O ex-gordo está sofrendo, está passando a alface e chicória e água mineral. Sem gás. Pobre ex-gordo, tudo o que ele queria era um medalhão de picanha gorda, uma panela de feijoada, uma barra de chocolate, um bombom com licor, um quindão, que ex-gordo adora doce.

Por que, então, ele mente? Deixa que respondo: por vergonha. O ex-gordo tem vergonha do preço que paga para satisfazer a própria vaidade. A vaidade só é explícita quando é barata.

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