sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Nana Dona Dirce

Grande parte de nós cria seus rituais...

São coisinhas que podem ou não ter função específica, razão de ser, motivo pra existir. Criamos de forma consciente ou não, meios de conseguir chegar a algum resultado, e quando o resultado é bom e satisfatório, aí é que pode nascer um ritual.

Claro que há casos em que mais do que um rito ligado a uma superstição, há também o aspecto da necessidade de uma rotina, de um método único pra se realizar tarefas complicadas (como escrever uma crônica), ou as mais simples.

Depende do grau do maniado.

Existem rituais pra se tomar banho, onde segue-se ou não uma coreografia que inicia desde a forma como se tira a roupa, a regulagem do chuveiro, a maneira de se entrar na água, e acompanha um método ritualístico pra se lavar cada parte do corpo em uma ordem lógica que preserve limpas as partes de cima pra finalizar nas partes mais baixas. Conforme o escorrer da água. Juro que existe isso.

E depois tem o ritual pra se secar após o banho, mas encontro paciência pra isso. Era só um exemplo mesmo.

O ritual pessoal é necessário, entendo.

Mas alguns beiram ao exagero, viram mania irretocável.

Sim, também eu tenho os meus. Um deles é a forma como corto minuciosamente as unhas. Um processo longo e demorado, um parto!

Mas eu sofro com essa mania, esse ritual de despedida e desprendimento de partes do meu corpo que precisam ir pra dar lugar ao novo (e mais limpo). A análise já me ajudou bastante, como podem ver.

Dia desses eu, embasbacado do início ao fim, atendi uma pessoa que em meio a conversa me descreveu seu tão particular processo ritualístico para dormir. Foi... Interessante.

Vou chamá-la de Dona Dirce para evitar que futuras zombarias lhe tirem o sono. Na verdade a Dona Dirce era um caso mais complicado, ela batizara uma parte de seu corpo, uma pinta na bunda (pra ser mais assertivo), e entendia que precisava "ninar" a Judite (a pinta batizada).

Ficou confuso?

Bom, o ritual era assim: Dona Dirce se colocava pra deitar de lado, e balançava o quadril e o resto do corpo se auto-ninando, entendendo que com isso faria a Judite (a pinta na bunda), dormir. E por conseqüência ela também embarcava no sono.

Não bastasse esse doce balanço, Dona Dirce também murmurava alguma música qualquer durante o processo.

Difícil acreditar? Acreditem, pois é a mais pura verdade.

Eu ali, que naquele momento tinha apenas comentado sobre uma matéria sobre os distúrbios do sono, ouvi boquiaberto o ritual da Dirce ninando a Judite. Só consegui encerrar a conversa depois de, não me agüentando, perguntar sobre o marido (da Dirce!):

- Mas, Dona Dirce e o seu marido? Vocês conseguem dormir juntos com essa movimentação toda na hora de dormir?

- Olha Seu Orlane, no começo ele ficava meio enjoado de tanto balanço... Mas depois se adaptou.

- Adaptou?

- Ele entrou no embalo. De duas uma, ou ele toma um Dramin antes de dormir, pra não enjoar, sabe?

- Ou?

- Ahhh... Ou ele dá uns tapas na Judite pra ela sossegar.

Não deixa de ser um ritual.

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