quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A dieta do coração

Não nego, acho bonito dizer que vivo intensamente. Não é mentira, sou péssimo nessa história de parcimônia, parece que na outra vida tive morri por inanição de sentimentos. Hoje vejo um prato cheio de sensações e emoção e como até engasgar de tão rápido. Obviamente, nem sempre faz bem.

Ser intenso é sim bonito, soa rebelde e romântico, mas gera consequências. A fartura invariavelmente provoca obesidade. Difícil manter uma dieta equilibrada quando se é compulsivo por sentimentos. Portanto, após 29 anos de farra sentimento-alimentar, percebi que talvez eu esteja precisando de uma dieta. Resolvi controlar os grupos de sentimentos.

Primeiro devo cortar a paixão. Ela é o aperitivo que abre o apetite do coração. A paixão sempre chega antes, farta e bem servida, junta a fome com a vontade de comer. Se estamos de coração vazio podemos até nos empanturrar de paixão a ponto de não sobrar espaço pra mais nada.

Na sequência, elimino o grupo dos encantamentos. Nada de consumir coisas que te façam sentir que está descobrindo um novo mundo. De que está presenciando verdadeiras novas experiências. Nada que te faça sentir que, de alguma maneira, sua vida nunca mais será a mesma.

O grupo da intimidade também deve ser evitado. Desde a despreocupação em encostar em qualquer parte da pessoa, até realizar uma fantasia sexual interminável. Não é hora de se sentir relaxado, de sorrir ao ver alguém dormindo, de se despir.

O comprometimento é completamente vetado. Laços, nós, correntes, nada disso pode nem passar perto do coração. Uma vez que se provam quaisquer tipos de comprometimento, o processo de engorda é praticamente irreversível. Além de ser difícil de digerir, provoca feridas horríveis se expelidos antes da hora.

Acredito que evitando esses grupos de sentimento estou a salvo por um tempo. Posso, enfim, perder o peso que faz meu coração se arrastar, empanturrado. Essa carga que ás vezes ele parece querer expelir de tão cheio. Para de novo ficar vazio, puro, novo.

Como toda dieta, devemos evitar tudo aquilo que mais gostamos na vida, aquilo por que vivemos, com o objetivo único de melhorar nossa saúde, mirando mais e mais experiências gastro-sentimentais.

Caso dê errado, acabamos chegando no sentimento mais letal de todos, o amor. E esse não se pode evitar, não se corta, diminui, impede. Afinal o destino dele não é o coração como tantos dizem. É os pulmões...