sexta-feira, 25 de julho de 2008

Hummm

- Ah Gilmar ela até que é legal, mas não sei.
- Não sabe o que Deco?
- Sei lá, ela tem essas coisas sabe?
- Sei.
- Sabe?
- Não! Não sei.
- Então por que falou que sabe?
- Pra dar continuidade ao papo Deco. Fala logo.
- Então. Ela tem dessas coisas. Tipo falar.
- Nossa! Que estranho! Ela fala mesmo? Com a boca?
- To falando sério cara.
- O que ela fala que é estranho?
- Ela fala complicado.
- Como assim complicado? Ela é fanha?
- Não, el…
- Tem língua presa?
- Não, ela f…
- Fala na lingua do “pê”?
- NÃO! Dá pra deixar eu falar?
- OK! Só estou tentando ajudar.
- Ela fala umas palavras que eu não entendo.
- Como assim não entende?
- Não entendo. Não sei o que ela quer dizer.
- Ela se expressa mal você diz?
- Não. Eu não tenho idéia de que cargas d’água as palavras querem dizer!
- Ahhh…. entendi. Ela fala difícil. Tem um vocabulário rebuscado.
- Sei lá onde ela foi buscar Gilmar, só sei que não entendo.
- Mas que tipo de palavra ela já falou que você não entendeu?
- Um monte.
- Fala uma. Dá um exemplo.
- Ok. Ontem mesmo ela falou que era criteriosa.
- E daí?
- Como assim e daí?
- Que palavra você não entendeu?
- Oras bolas, “criteriosa” é claro.
- Você não sabe o que significa “criteriosa”?
- Não é assim que eu não sei. Sei mais ou menos.
- E o que é? Mais ou menos…
- Sei que tem alguma coisa a ver com religião, mas isso não vem ao caso.
- ….
- O negócio não é esse Gilmar. Não importa as palavras que não sei. E sim como vou fingir que sei.
- Mas você disfarça bem pelo que diz.
- Eu também achava, mas ontem no telefone ela me disse que eu era “prolixo”.
- E daí?
- E daí que tive que desligar o telefone.
- Na cara dela?
- É.
- Mas por que?
- O que eu ia fazer? Não sabia se agradecia, discordava ou a mandava pro inferno. Não ia fazer papel de bobo né.
- Ah lógico. Disso você se safou.
- Sim mas não é sempre que vou ter saídas inteligentes como essa. Como resolvo isso?
- Você já tentou dar uma lida no dicionário?
- Já, mas nunca consigo passar da letra “B”.
- Daí fica difícil.
- Você também acha então? Ufa. Já achei que só eu achava difícil ler todas aqueles “babilônicos” e “babuínos”.
- Deco, não tem jeito, ou você aprende ou vai ficar sempre boiando.
- Tem que ter uma saída. Não aguento mais ouvir ela falando que vai “contextualizar” e eu morrendo de medo de levar uma tapa.
- O que você pode tentar é, sempre que não souber uma palavra responda com “Hummm”.
- “Hummm”?
- É. “Hummm”.
- Ahhhh, Hummm.
- Isso. Entendeu?
- Não.
- Pô Deco. Colabora. “Hummm” como em, “Hummm, interessante.”
- Ahhhh, esse “Hummm”.
- Isso.
- Hummm. É uma boa. Assim não me comprometo e também não fico sem resposta.
- Exato. Assim acho que você estará resguardado.
- Hummm.
- Aê, aprendeu rápido.
- É, eu sou assim.
- Problema resolvido então.
- Acho que sim.
- Por que acha?
- Agora fiquei preocupado.
- Acha que não vai dar certo?
- Acho que vai sim, mas eu não vou estar enganando ela?
- Não exatamente. Só um pouquinho.
- Sei lá. Fico com dó. Uma menina tão frágil, doente.
- Doente? Mas ela aparenta ser tão saudável.
- Eu também achava. Até esses dias quando ela me contou sobre o problema dela.
- E o que ela tem?
- Ela é Eclética.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Pelo amor de Deus, um dicionário!

Um dia desses eu estava conversando com alguns amigos, e um deles me disse que ouviu falar que popozuda significava mulher de bunda caída.

Ao ouvir isso, comecei a refletir (pasmo!) sobre a situação atual brasileira, e porque não, mundial.
Será que as pessoas não sabem mais o que falam? Só repetem o que ouvem por aí. Imaginem só, uma multidão gritando empolgada: “Só tem mulher de bunda caííída, mexe demais !” Isso é, no mínimo, ridículo.

Para confirmar meu abismo (conjugação do verbo “abismar”- Eu abismo, Tu Abismas, e etc), numa das aulas de Sociologia da Era Virtual, analisamos a nossa era atual, dominada pelo Tecnocentrismo (precedido do Antropocentrismo), onde conceitos como Tautologia, Hipertelia, Circularidade e Comutação, mostram o quanto que nossa sociedade é superficial e despreocupada com a significação (no sentido semiótico) dos termos.

Estamos na Era do “Achismo”. Hoje em dia, ninguém estuda mais nada profundamente, ninguém conhece nada profundamente. O simples fato de ler uma reportagem sobre fertilização de elefoas com óvulos de mamutes pré-históricos, já faz de qualquer pessoa, um profundo conhecedor de genética pré-história criogênica. E o que é pior, uma pessoa que lê essa reportagem, se sente no direito de, no meio de uma discussão de bar, dizer: - “Não ! Vocês sabem que de fertilização de elefoas eu entendo !” E todos se rendem ao argumento de autoridade do interlocutor. Sem nenhum contra-argumento.

Não estou nem falando dos erros e vícios de linguagem que vem se tornando cada vez mais comuns, inclusive dentro dos meios de comunicação de massa. “A nível de” já aparece em diversas publicações de livros (de qualidade duvidosa, mas ainda sim, livros), e o uso excessivo do gerúndio inunda os discursos de pseudo-intelectuais, cuja credibilidade permanece intacta, pela ignorância geral da população.

Os poucos sobreviventes, sentem-se cada vez mais isolados, como em pequenas ilhas de conhecimento rodeadas por um mar de bundas, peitos e silicones protuberantes e descartáveis. Não é difícil ver uma pessoa ser discriminada por utilizar o português corretamente, em uma conversa.Isso tudo chega a ser revoltante. Mas o pior de tudo, é ver alguém reclamando da superficialidade da sociedade sem saber mais da metade dos termos que vomitou em uma crônica. Aliás, eu nem sei se popozuda realmente é “mulher de bunda caída”. Mas um amigo meu disse que ouviu falar que era. Deve ser verdade.

domingo, 13 de julho de 2008

Eu não extou bêbadoooo!!!!

Um dos principais problemas de se escrever um texto enquanto se está bêbado, é que você nunca acha a letra “V” no teclado. Como tudo está aparecendo em “duplicata” aquela letra entre o “CC” e o “BB” é o “W”e por mais que você tente, é muito difícil escrever um texto sem a letra “V”. Mas bêbado que é bêbado não desiste facilmente de expor suas idéias. Com “V”, ou sem “V”!

Eu, por exemplo, acho que esse problema dos monitores modernos ficarem se mexendo de um lado para o outro, é realmente muito chato. Eu, se você quiser saber, já estou ficando tonto.

Um dos principais problemas de se escrever um texto bêbado, é que você nunca sabe se um sóbrio conseguirá entender o que você quis dizer. Um bêbado sempre entende outro bêbado, mas eu não sei se você está me entendendo. Eu gostaria muito que você me entendesse, porque você sabe, né!? Eu te de considero pra caramba! Você mora aqui, dentro do meu peito!

Um dos principais problemas de escrever bêbado, é a grande probabilidade de se tornar redundante. E eu odeio pessoas repetitivas.

Um dos principais problemas de escrever bêbado, é a grande probabilidade de se tornar redundante. E eu odeio pessoas repetitivas. Ainda mais aquelas que não param de repetir!

Coesão é uma coisa que não existe num texto bêbado. Eu, por exemplo, acho que esse problema dos monitores modernos ficarem se mexendo de um lado para o outro, é realmente muito chato.

A probabilidade de um bêbado escrever probabilidade como “pobrabilidade”, “problablilidade” ou “plobrabilidade”, é muito grande. Eu, se você quiser saber, já estou ficando tonto.

Não sei o que leva um bêbado a escrever um texto. Eu, por exemplo, odeio pessoas repetitivas!
Um dos principais escritores bêbados de problemas de texto, disse um dia que o bêbado é um …

Cadê o “V” ? O que esse “W” está fazendo entre o “CC” e o “BB” ?!

Um dos principais problemas de bêbado, é não se lembrar do que estava falando, e nunca completar um raciocínio.

Falando nisso, eu acho que estou um pouco bêbado.

É isso …

Alguém disse alguma coisa sobre problabilidade aqui?

É melhor esquecer todo esse papo sobre monitores. Tou ficando com sono.

É … pois é …


Acho que eu vou dormir.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Tempos Modernos

O café está na mesa. A nova família margarina a postos. Um jovem pai solteiro e saudável acompanhado da velha filha adolescente vegetariana e emo. Ele com sono, ela nervosa. Ele com preguiça de ter pressa, ela com pressa de ter tranqüilidade. Antes de pegar seu leite de soja, ela passa o leite com baixo teor de lactose para o pai e diz :
- Pai. Preciso te contar uma coisa importante.
- Fala filha. – brincando - Quer o sal?
- Não, brigado. Ainda não. Mamão com sal não me faz bem de manhã.
- Faz sentido.
Ela toma fôlego e solta numa única respirada:
- Acho que quero namorar um cara.
- O quê!?
- Passa o sal?
- Não vem com essa! Como assim?!
- Ah pai …
- Como assim, filha?! Você não é como se diz … “Emo”? “Gay”?
- Sou, pai … sou … mas …
- Como “mas”?! Não tem nada de “mas”! Você gosta dessas bandas de gente depressiva, você beija meninas, você usa maquiagem preta como todas as sua amigas da sua classe. Eu não preciso me preocupar com moleques desproporcionais e fedidos pulando em cima de você! É assim que as coisas funcionam hoje em dia. Não tem “mas”!
- Eu sei, pai! Mas é que eu tava lendo uma entrevista da Ana Carolina …
- Quem ?- Ana Carolina, aquela que comeu a Madonna …
O pai, surpreso :
- Sério?! Comeu? Tem vídeo no youtub-
- Não, pai! Num tem! Tou falando da música. Ela fala isso na música.
- Poxa, interessante … – voltando à postura de pai bravo – Ahãn! E daí. Que que tem a entrevista dela?
- E ela disse que tá querendo namorar um homem agora.
- Ah é? Por quê?
- Ah … porque as mulheres são muito complexas … disse que os homens são bem mais simples.
- Não me diga.
- Ah … e também porque homem é muito bom pra transar.
- KLASPIT! – e com esse som, o jovem pai teve toda sua cavidade nasal inundada por leite com baixo teor de lactose.
- Pai! Você tá bem?!
Tentando se recuperar do estrago físico, psicológico e moral, ele afastou o prato de torradas, agora com leite, e verificou o estado da sua roupa que felizmente não foi atingida. Finalmente disse:
- Olha filha, não tou muito não.
- Quer que eu te prepare outro leitinho?
- Não … acabou. Esse era o resto do meu leite. Esqueci de comprar mais …
- Pode tomar do meu. É bom leite de trigo!Foi a gota d’água :
- Que leite trigo?! Tá louca, menina?Ela se assustou.- Desde quando trigo dá leite!? Onde fica a teta do trigo, heim?! Heim!? Fala pra mim!?
- T-tá bom, pai. De-desculpa.Ao ver que a filha estava a beira de um choro realmente sincero, ele tenta se controlar, respira fundo e baixa o tom de voz:
- Eu que peço desculpa. Me descontrolei. Ela desvia o olhar. Ele suspira e continua :
- Vamos lá então, mocinha … o negócio agora é beijar meninos?
- É pai … acho que é.
- E o seu lado gay, filhinha? Como faz?
- Então … tou pensando em ser uma gay mais moderna, sabe?
- Ah … quer dizer que você vai beijar meninos agora, mas continuar sendo gay.
- Isso.
Tentando entender o raciocínio, ele pergunta:
- Então, ainda assim você não vai querer roupa da Zara de presente?
- Até vou, pai. Tem roupa masculina lá!
Ele apenas olha pra ela, quase desistindo. A menina continua:
- Sei lá, pai. Tou cansada da complicação das mulheres.
- Sei bem como é …
- Quero ser uma menina mais moderna.
- Precisava ser tão moderna assim?
- Ah pai! Deixa de ser heterofóbico!
- Heim?!
- É! Isso mesmo! É só ver a repercussão da entrevista da Ana. Não vai ser fácil pra mim! Eu sei que é estranho, eu sei que é bizarro, mas eu quero ver como é sair com um cara. E demorei um monte pra me convencer disso, tá? Eu também era heterofóbica! Ficava me culpando das vezes que assistia os jogos com você, esquecia um pouco do esquema tático e parava pra olhar pras pernas dos caras.
- O quê?! Você esquecia de torcer pro nosso tricolor e ficav-
- Não pai! Só nos jogos da seleção. Fica tranqüilo!
- Tá bom, vai. Lá tem o Kaka … eu entendo.
- E o Pato, né?
- Tá …
- E o Dung-
- Pára! Tem limite, filha!!
- Desculpa.- Bom … – pausa - … é uma decisão definitiva?
- Sim.
- E a Gigi?
- Pois é … é por isso que eu tão tou nervosa. Não sei como acabar com ela.
- Nossa … ela ainda não sabe? Eu fui o primeiro?
- Foi pai. Precisava de um conselho de como acabar um namoro com uma mina.
- Sei …Resignado, o jovem pai ficou olhando para a lista de compras presa na geladeira. O primeiro item era “leite sem lactose”.
- Tá vendo aquela lista, filha?
- Tou …
- Você consegue ler qual é o primeiro item?
- Consigo.
- Reparou que a parte que mais me exaltou dessa conversa toda foi a hora do leite.Agora rindo, ela apenas sacode a cabeça concordando.
- Pois é … eu sempre pulo o primeiro item da lista. Que normalmente é o mais importante, diga-se de passagem.
- Sei …
- Sabe porque eu faço isso?
- Não …
- Nem eu … Só sei que é batata. Não precisa torcer que aconteça. É só esperar. Não tem erro.
- O que isso tem a ver com história, pai?
- Nada filha … Eu só reparei isso recentemente e tentei fazer um paralelo interessante.
- Não deu certo …
- Percebi. Silêncio.
- Olha, filha. Não sei o que te falar, não. Concordo com a cantora quando ela diz que nós somos rasos e retos, e que vocês são profundas e oblíquas … acho que, apesar de anti-natural hoje em dia, até faz sentido você querer experimentar essas coisas novas …A menina olha para o pai com um olhar agradecido e ao mesmo tempo admirado. Ele continua:
- Mas tenho certeza que você não vai simplificar muito mais as coisas, não. É só ver o que aconteceu comigo e a sua mãe.
- Eu não vi nada, né, pai? Vocês separaram no meio da gravidez dela.
- É verdade. Não tou acertando uma, hoje. Risos.
- Mesmo sem saber o que te falar agora. Eu vou estar do seu lado, filha. E vou tentar te ajudar no que eu puder.Ela se derrete ainda mais, agora pulando em cima dele:
- Pai, você sabe que eu te amo muito, né!? Por isso que quis te contar antes de todo mundo.
- E eu fico muito feliz por isso, filhinha. Tou bem assustado, mas ainda sim feliz.
-Lindo! Separando o abraço, e olhando para ela muito sério, ele diz :
- Mas posso só te pedir uma coisa ?
- Claro, paizinho.
- Nunca, mas nunca mais fala pra mim de você transando com um homem.
- Tá …
- Não tem pai nenhum no mundo preparado pra isso.
- Uhum!
- E principalmente com o Dunga …
Mais risos.
- E passa essa droga de leite de soja pra cá que eu tou com sede.