terça-feira, 25 de março de 2008

Como andar de bicicleta

- Numa boa, eu já te falei o que é isso.
- - O que?
- Estamos ficando velhos.
- Isso é bobagem. Temos só 30 anos. Não é o suficiente para causar todo esse estrago. Ou é?
- É isso sim. Para sobrevivermos aos 40 temos que nos mexer já.
- E vamos fazer o que?
- Exercício. Chega de ser sedentário.
- Putz, não tem outro jeito não?
- Que outro jeito?
- Sei lá. Um comprimido, uma massagem, ou uma injeção que seja.
- Caramba. Você prefere tomar uma injeção do que fazer exercício?
- Claro. Todo mundo. Você vê, de graça, até injeção na testa, mas nada de correr na esteira…
- Faz sentido.
- Todo.
- Mas não tem jeito não. Nosso problema só se resolve com exercício. Escolhe um aí.
- Ah, sei lá. Qual que tem?
- Como qual que tem? Você quer o que? Um cardápio de exercícios?
- É assim que entendo o mundo. Cardápios ou catálogos.
- Bem, então vai ter que aprender uma coisa ou outra agora. Não se precisa de cardápio para fazer exercício, está em nossa natureza.
- Cara, numa boa, minha ligação mais próxima com a natureza é o tabaco do meu charuto.
- Ok. Vou facilitar pra você. Você pode correr.
- Correr de que? Pra onde?
- Só correr.
- Mas por qual motivo?
- Pra fazer exercício.
- Não faz sentido. Se for correr tem que ser para algum lugar.
- Não precisa. Você pode correr na esteira.
- Ah sim, agora faz sentido. Vou ficar me matando de correr para não sair do lugar.
- Ta bom , ta bom. Então nada.
- Nada? Ótimo, isso eu sei fazer bem.
- Palhaço. Natação. É o exercício mais completo que existe.
- Ah, eu não acredito em natação. Acho que não é exercício.
- Como assim?
- Não acredito num exercício que não te faz suar.
- Mas você está dentro da água, como poderia suar.
- Não me importa. Só é exercício quando sua. Isso eu sei. Vi na ESPN.
- Falaram isso na ESPN?
- Não. Mas é a única fonte que lembrei.
- Numa boa. Chega.
- Ótimo, paramos com essa besteira então.
- Paramos vírgula. Você parou. Eu vou fazer exercício.
- Pó.
- Pó o que?
- Achei que estávamos juntos nessa.
- Nessa o quê?
- Ah, nessa. De morrer com 40.
- Não, eu tenho muito o que fazer ainda depois dos 40.
- O que por exemplo?
- Escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho…
- Blé. Bando de coisa sem graça.
- Pagar mais barato por ser idoso.
- Hummm. Verdade.
- É.
- Me convenceu. Me ajuda aí. Eu faço exercício. Faço o que você fizer. É só falar.
- Vou andar de bicicleta.
- Ah, isso eu não posso. Já faz muito tempo que não ando. Esqueci como faz. Melhor deixar pra lá.

terça-feira, 11 de março de 2008

Minha casa, seu apto.

- … que eu fico vendo esse povo aí, apertado. Um em cima do outro feito caixa de sapato. Tudo empilhado.
- Que nada, isso é só um pequeno detalhe perto da comodidade e segurança.
- Que segurança que nada. Você acha que só de estar morando nesses pombais você está seguro? Que ninguém assalta apartamento?
- É, porquê? Não?
- Claro que não! A segurança do seu prédio é proporcional ao grau de instrução do seu porteiro.
- Put…que o par…
- É negão, se o seu porteiro é uma porta, se me permite o trocadilho, você já era; digo, seu apartamento.
- Put… merd… nunca tinha pensado nisso.
- É que eu sou gênio, então eu penso nessas coisas sabe…
- Mas mesmo assim, um sujeito que tém uma casinha, está sujeito – se você também me permite – a qualquer; e digo qualquer tipo de assaltante, é só ter uma casa sem ninguém durante um período do dia e pimba!
- Pimba!
- É, eu não sabia outra palavra… me deixa. O que acontece é que em prédios com porteiros, ainda que medíocres, você sempre tem “alguém” em casa para intervir e até mesmo pegar correspondências, ó só!
- Caixa de correio também pega correspondência.
- Mas não dá bom dia, boa noite…
- Não duvide!
- Qual é a questão então?
- Eu prefiro casa, liberdade de ir e vir. Eu gosto de poder abrir a porta e já estar no meu quintal, jardim, garagem, pegar o carro e passear ou mesmo a pé. Poder pular e gritar quando o meu time ganha o campeonato sem que alguém me interfone por causa do barulho. Eu gosto depoder receber meus amigos, dar uma festinha e terminar a hora que eu quiser sem ter nenhuma vizinha com filho pequeno no apartamento do lado que me ligue por causa da bagunça às 3 horas da matina.
- Ah, tá. Eu já, não; prefiro morar empilhadinho – tem mais calor humano – e sem quintal. Não tenho tempo pra cuidar de planta, mal sobra tempo pra mim! Aprecio o bom futebol mas por razões desconhecidas meu time é o Madureira. Receber amigos eu adoro, mas só para jantar; tenho 37 anos e vamos concordar que festinha não é bem o que eu costumo fazer, além do que, não posso beber nada alcóolico por causa do fígado.
- E se a vizinha com a criança ligar pra reclamar, o que você faz?
- Meu apartamento é um por andar…