sexta-feira, 27 de julho de 2007

31 de julho

Pois é... Acabei de saber que 31 de julho é Dia do Orgasmo. E eu que não sabia que há um dia especial no calendário para comemorar o orgasmo.

Para mim, dias marcados em calendários sempre foram dias de santos, ou feriados nacionais, ou festas inventadas pelo comércio para vender mais. Acho até que orgasmo é algo para se comemorar mesmo com quem quer que você esteja, incluindo você mesma... mas dia do orgasmo é meio muito, não?

Vai ver que é porque ultimamente ficou muito popular a coisa: todo mundo acha que tem direito a um, ao menos. Eu acho que todo mundo tem direito a tantos quanto quiser. Ou vai ver que depois que descobriram que a gente também gosta (já faz um certo tempo, não?), resolveram guardar um dia especial no calendário para comemorar o orgasmo.

Ainda bem que na maioria das cidades não tem mais aquela coisa de comemoração nas escolas. Já pensaram? Crianças em fila cantando o Hino Nacional em homenagem ao orgasmo? Agitando bandeirinhas? Como seria o símbolo da bandeirinha? Gemeremos juntos para comemorar? Tá aí: vamos murmurar o Hino Nacional, gemendo quando acontecerem as notas mais altas e soltando um "ai" ao final! E vai ter distribuição gratuita de camisinhas? Devia ter de Viagra também. As lojas vão fazer promoção especial de lingerie e cuecas? Vai ver que nas sex shops todos os acessórios vão estar em promoção... E eu falei "acessórios" porque senão fica meio complicado explicar os itens.

Sei não, não me parece que seja assim uma data muito comercial... excetuando-se a turma que exerce o ofício, que tem todo o meu respeito, fica meio complicado passar uma propaganda na televisão anunciando uma promoção especial do Dia do Orgasmo. Tem gente que ainda acha que tem que haver uma certa... assim... digamos... discrição quanto à coisa propriamente dita.

Então vai ver que é dia de santo mesmo. "Santo Orgasmo". É, é isso. Padroeiro do bom humor, da pele bonita, do sono revigorante, tiro e queda para tensões, bom para resolver brigas de casal (ao menos temporariamente), bênção fundamental para um lar tranqüilo. Bênçãos de Santo Orgasmo aparecem a todo momento na vida da gente, até quando estamos muuuuuuuito apertados para ir ao banheiro ou quando comemos algo muuuuuito bom.

Então, a todos, um feliz Dia do Orgasmo. Comemoremos, pois, da forma que acharmos melhor: aos escandalosos, um grito daqueles de aparecer reclamação do síndico; aos timoratos, um olho bem revirado ou coisa que o valha; aos discretos, um gemido longo; aos nervosos, uma gargalhada daquelas; aos asmáticos, nenhuma crise!

Ah! sim: champanhe ou vinho serão sempre boas bebidas para comemorar o santo. E não se esqueçam da bandeirinha... a bandeirinha é ótimo!

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Roberto, o Homem ideal

Roberto durante anos colheu e estudou as informações que as mulheres deixaram escapar em entrevistas, revistas e até falsos cochichos em um grupo de mulheres papeando. Aliás foi assim que conseguiu uma das suas primeiras namoradas. O fato dela estar cuidando dele por estar quase em coma alcoólica não vem ao caso. O importante é que fez todo esse estudo para conseguir se tornar algo inexistente. O Homem Ideal. Algo que as mulheres procuram por todos os cantos desse mundo. A razão pela qual elas se relacionam com essa raça (homens). Essa procura que se estampa pelas Claudias, Novas, Marie Claires e Meninas Veneno de todo o mundo.

Depois de processados todos os dados (não são listados senão seriam uma crônica por si só.) estabeleceu seu plano de ação e começou a executá-lo.

Entrou na academia, adotou uma dieta balanceada, começou as aulas de italiano (eles são sexy dizem elas), o inglês já sabia. Arranjou um trabalho social, fez sua empresa ir para frente, comprou um apartamento bom, nem grande (pra não esnobar) nem pequeno (um homem tem que ter ambições). Se matriculou em aulas de Jiu-Jitsu (tem que defender a amada) e comprou uma porção de livros. "Homens são de Marte mulheres de Vênus" foi o primeiro.

Roberto acabou gostando dos seu novo estilo de vida, conversava melhor, se portava melhor, tinha dinheiro e sabia protegê-lo. Todo seu esforço começou a dar resultado e pouco a pouco foi colecionando novas experiências e se direcionando ao último e grande desafio. Querer um compromisso. O Homem Ideal não tem medo de compromisso.

Conheceu Laura, uma mulher incrível, inteligente, sincera, segura, solteira. Se entrosaram muito bem, ela fazia francês na mesma escola que ele, logo mudou também para sua academia pois 2 horas longe um do outro era muito tempo. Os dois ficaram juntos e felizes, mas Roberto havia adquirido um vício, se tornar o Homem cada vez mais Ideal.Não haviam mais desentendimentos, tudo era unanimidade, ele nem assistia mais o futebol, a mãe dela era mais querida que a dele e ele até aprendeu a fazer xixi sentado.

Só que acompanhado de tudo isso veio um efeito colateral. A falta de libido. A vida sexual deles estava em perigo de extinção. Apesar de estarem se falando mais do que nunca e nem precisarem discutir a relação. Ele entendia ela em todos os sentidos mas em vez de papai e mamãe eles estavam mais para irmãozinho e irmãzinha.

Como havia de ser um dia eles sentaram pra conversar sobre isso. E Roberto disse que essa foi a relação mais saudável que ele já teve, que eles se entendiam muito bem, porém ele precisava de mais compreensão, ela não entendia as necessidades dele, que ele queria uma pessoa mais sincera, mais preocupada com as causas sociais, ou seja, ele queria um Homem Ideal. Apesar de espantada ela entendeu exatamente o que ele queria, então eles se separaram em clima pacífico. Se tornaram melhores amigos, mas cada uma seguiu seu rumo, cada um procurando seu homem ideal.

Roberto entendeu tão bem a alma feminina que acabou se tornando uma.

sábado, 14 de julho de 2007

Idiossincrasia é isso aí!

Durante anos e anos essa palavra me intrigou de uma maneira idiossincrática. Ninguém parava para pensar em idiossincrasia como eu. Por isso, essa era a minha idiossincrasia de analisar essa tal de idiossincrasia.

Cada vez que me deparava com esse vocábulo, eu me intrigava e me prometia pesquisar idiossincraticamente sobre seu significado, radicais gregos, latinos e livres, importância histórica e, obviamente, ortografia. Mesmo porque (confesso ...) sempre achei que o certo era "idiossincracia". Daí minha preocupação com sua importância histórica:

Depois da monarquia, a oligarquia. Depois da oligarquia, a democracia. No meio de tudo isso, a "Idiossincracia" advinda de Idocrásio, o Peculiar, na Roma Antiga. Aliás, sempre achei que idiossincrasia poderia ser um daqueles neologismos engraçadinhos para descrever a forma do governo atual. Sacou ?

Uma vez, até apelei para um dos maiores mestres que já tive, o professor de língua portuguesa Platão (quase dois metros de altura), e perguntei o significado de tal palavra. Num sorriso de canto de boca, ele quase sem me olhar, disse - Não sei não ... - Eu já sabia que essa era a resposta mais inteligente que poderia ouvir(com um didatismo idiossincrático!). Só assim, encubei essa dúvida por anos e anos, para que finalmente o dia chegasse. O chamado surgiu quase que espontaneamente:

-Aurélio !! Cadê você ?!

E ele, com a prontidão de sempre, na página 739, coluna 2, linha 3, me respondeu: [do grego Idiosygkrasía] 1. Disposição do temperamento do indivíduo, que o faz agir, de maneira muito pessoal, à ação dos agentes externos. 2. Maneira de ver, sentir, reagir, própria de cada pessoa.
Só isso ? Essa palavra espetacular, enorme, misteriosa, magnífica, e, agora posso dizer, idiossincrática só quer dizer isso: Peculiar ... Pôxa, seu Aurélio! Tirando o nome em grego essa definição não é nem um pouco idiossincrática. É como falar que "defenestrado" é sinônimo de "bonito"!

É triste como sempre idealizamos fantasticamente o desconhecido. Só na nossa ingênua cabeça que: Morena, 1,78 m, 62 Kg, olhos verdes e cabelos compridos são sempre uma mulher linda! Quem garante ela não tem uma cicatriz da testa até o queixo, seja vesga, com a língua presa, manca, cabelos compridos porém em todas as direções desrespeitando inclusive a Lei da gravidade, tudo isso, é claro, de maneira indubitavelmente idiossincrática.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Sala de espera

Depois de brincar com meus próprios dedões por alguns minutos, comecei a achar que aquela sala de espera estava se tornando tediosa.

Como seria bom se exatamente agora, uma mulher linda, solteira e simpática entrasse na sala.
Não menos do que 1 minuto após meu impetuoso desejo ter sido feito, tal mulher entrou na sala. Tinha imaginado uma loira e a mulher que entrou era morena com mechas claras o que a tornava ainda mais interessante.

- Bom dia. - ela disse.

- Clufahan Hãããn ... Er ... oi. - respondi, com muita classe.

Sempre tenho dificuldade para responder rapidamente quando sou pego de surpresa. Mas sempre me saio bem, no final.

Voltando ao desejo, ela era linda e simpática. Só uma mulher simpática diz “oi” para um homem que brinca compulsivamente com seus dedões numa sala de espera.

- A senhora já tem ficha aqui ? - perguntou a secretária

- Ainda não. - respondeu ela.

- Ahãããn Cluf ... - acrescentei.

Como toda mulher linda e simpática, ela esboçou um sorriso ao me olhar discretamente.

Começou então, o pequeno interrogatório feito pela secretária até que a bela Cláudia (sim, com muita perspicácia consegui descobrir seu nome) confessou ser a mulher dos meus sonhos :

- Solteira, infelizmente.

- UI ahãnnn Cluf ... Ô luta, meu pai ... - pensei.

- Pois não. - respondeu ela, sorrindo com aquele sorriso que só mulheres como ela conseguem fazer. Ela ria de mim, mas num tom carinhoso.

Será que eu disse o que pensei alto ? Acho que sim. E ela, como não poderia deixar se ser, fingiu não ter entendido. Parti para a dissimulação.

-Ah ... Me desculpe. Me empolguei com a reportagem que estava lendo. Bobeira minha.

- Magina! - respondeu ela, fazendo aquele gesto com uma mão que normalmente quer dizer “Magina!”.

Ufa! Acho que tinha me saído bem. Tirando o fato de que eu não tinha nenhuma revista nas mãos, claro. Isso realmente poderia ter maculado, um pouco, minha interpretação. Malditos detalhes!

- Com licença ? - disse ela, ainda rindo.

Para me redimir, antes de responder, dei uma leve olhada para meu relógio. Típico movimento que só um homem de muita classe consegue fazer antes de responder uma pergunta deste nível.

- Sim ... - retruquei com a certeza de que a surpreendi.

- Nós já não nos conhecemos antes ? - disse ela sem mostras de maiores surpresas.

Acabei me lembrando que também estava sem relógio de pulso, e meu gesto fatal, pode ter se tornado um pouco inócuo. Dessa vez, confesso. Senti o golpe. Dois diretos no rosto na seqüência. Se ela não me deixasse respirar um pouco, eu beijaria a lona em instantes.

Fingi ter deixado meu celular caído no chão, e soltei um leve “ oh ...” para completar a ação. Eu precisava de tempo.

- Olha ... não quero me parecer uma mulher atirada, mas realmente senti uma energia diferente em você? Você acredita em destino?

Levantei rapidamente. Gesto absolutamente aceitável quando você deve pegar algo que está no chão. Torcia desesperadamente para que meu técnico jogasse a toalha no meu córner para que a luta fosse interrompida. Sem querer, chutei meu celular para longe. E ao bater na parede, ele se dividiu caprichosamente em duas partes. Como não queria correr o risco de parecer um homem atrapalhado pisei com toda força que tinha na bateria que voou para perto de mim. Agora sim. Mostrei quem estava no controle. Corri então para o outro lado da sala. Somente uma ajuda divina me salvaria.

- Ai ai ... adoro homens tímidos, sabe? - disse ela, sem um pingo de bondade no coração. Não queria saber o que ela pensava dos outros homens.

Sem perder a compostura, segurei a bateria em uma mão, e levantei do chão. Sim, acho que, no calor da conversa, me esqueci de contar que dei uma linda ponte (como fazem os goleiros profissionais) para agarrar a outra parte do celular.

Fingi, então, que o celular tocava no modo silencioso, e dignamente, segurando o fone, saí correndo, como quem se retira educadamente do recinto para não perturbar os outros com sua conversa.

- Alô, alô ! eu gritava, para que ela percebesse quanto o “pseudo-sinal” estava fraco.

E assim, fui para a rua certo de que não tinha mais nada a fazer. Ah, se eu fosse um homem tímido!